BOOGIE WOOGIE NA FAVELA e SAMBA FLEX - ORLANDIVO.

Dois inventores de ritmos têm suas discografias revisitadas em lançamentos este mês. As próximas duas caixas da Discobertas assumiram essa missão. O primeiro nome é o de Orlandivo Honório de Souza. O catarinense de Itajaí marcou o início dos anos 1960 como um dos destaques do que se chamava sambalanço. Sua marca registrada era fazer percussão com um molho de chaves. Não por acaso, o disco que abre a caixa tripla Bossa, Samba e Balanço é A Chave do Sucesso.

De 1962, o disco de estreia do cantor e compositor trouxe alguns dos sucessos como Onde anda o meu amor e Samba Toff. Os outros discos da caixa são Orlann Divo (1963) e samba em Paralelo (1965). Esquecido pela geração das modernidades, Orlandivo chegou a provar uma tímida redescoberta no início deste milênio, quando lançou o álbum Sambaflex, com regravações de antigas canções.

Cheguei a conversar com Orlandivo em 2011, por conta do lançamento de uma caixa de discos de Ed Linconl – também pela Discobertas. Ed, pianista cearense cheio de groove, foi outro dos inventores do sambalanço. Orlandivo foi um dos seus crooners e amigo, com quem viajava para fazer bailes dançantes pelo Brasil. Da conversa, lembro do bom humor e disponibilidade para falar dos velhos tempos.

Zé Pretinho

O segundo box da Discobertas é sobre Jorge Duílio Lima Meneses. Melhor apresentado como Jorge Ben Jor, Era uma vez a Banda do Zé Pretinho (1978 – 1981) reúne quatro discos lançados entre 1978 e 1981, da fase Som Livre. Depois de 15 anos como contratado da Philips, Jorge mudou de som de e de casa. No antigo endereço, ele se lançou artista e fundou um movimento que ficaria conhecido como sambarock.

Samba Esquema Novo, Força Bruta e A Tábua da Esmeralda foram alguns dos trabalhos antológicos que ele lançou calcados numa levada de violão que mesclava muitas tradições negras, do samba ao blues. Em seguida, a partir de 1976, ele descobriria a guitarra e lançaria África-Brasil, outra pedrada sonora cheia de funk, rock e peso.

Em A Banda do Zé Pretinho, disco de 1978 – que abre o box da Discobertas previsto para o fim deste mês -, a guitarra ainda é protagonista e o som ganha acentos mais solares e alegres. O nome do álbum é para apresentar a nova banda de apoio do carioca, após três álbuns acompanhados pelo Admirável Jorge V.

Embora ainda focado nos ritmos negros do samba, funk, jazz e soul, a proximidade dos anos 1980 começa a branquear o som de Jorge Ben com a chegada dos sintetizadores e de futuros hitmakers de estúdio como Max Pierre, Guto Graça Mello, Moog Canazio e Lincoln Olivetti.

Além de A Branda do Zé Pretinho, a caixinha da Discobertas ainda traz Salve Simpatia (1979), Alô Alô Como vai? (1980) e Bem-Vinda amizade (1981). São deles algumas ótimas canções, como Cadê o Penalti?, Minha estrela é do oriente, Amante Amado, Adelita, Waldomiro Pena, Oé Oé (Faz o carro de boi na estrada) e Lorraine. E num resumo bem resumido do produto, são deles dois sucessos gigantescos de Ben Jor. De Salve Simpatia, Ive Brussel é um delicioso dueto com Caetano Veloso dedicado a uma fã europeia. E Curumim Chama Cunhatã que eu vou Contar, conhecida como Todo dia era dia de índio, é um afoxé envenenado lançado por Baby Consuelo no mesmo ano (1981). se não for por essas duas faixas, a caixa Era uma vez a Banda do Zé Pretinho (1978 – 1981) oferece outros bons motivos pra sentar na sua prateleira.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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