Diz uma lenda amazonense que um índio da tribo nômade dos Macuxi apaixonou-se por uma moça de sua aldeia. Eles casaram, foram muito felizes, até que ela ficou doente e paralítica. Como prova de amor, ele decidiu criar uma enorme tipoia e a levava por onde andava, subindo e descendo montanhas. Um dia, ele percebeu que o peso da amada tinha aumentado. Ao conferir, viu que ela estava morta. Sem razão para seguir sua caminhada, ele abriu uma cova e se enterrou junto ao corpo sem vida. No lugar onde jazia os corpos do casal, nasceu uma planta desconhecida, de enormes folhas triangulares de cor verde que ganhou o nome de Tamba-Tajá.

A planta ainda hoje é símbolo de amor para o caboclo da Amazônia. Foi dessa lenda que nasceu o disco que apresentou a voz de Maria de Fátima Palha de Figueiredo, a Fafá de Belém. A filha de classe média já chamava a atenção pela voz forte quando foi incentivada a encarar a música como ofício. Fez alguns shows, cantou no teatro, até que um convite para gravar Filho da Bahia, na trilha da novela Gabriela (1975), abriu as portas para um disco de estreia.

Com direção artística de Jairo Pires e seleção de repertório de Roberto Santana, Tamba-Tajá é um convite a conhecer o norte do Brasil. E aqui não me refiro à região Norte, mas à metade de cima ainda pouco conhecida do País. E as intenções são entregues logo em Indauê Tupã, faixa de abertura composta sobre uma trilha de tambores. A próxima parada é lamentosa faixa-título, contando a história da lenda de amor.

A voz madura da estreante de 19 anos já chamava a atenção pela sensualidade, afinação e personalidade. Essa mesma voz soava festiva em Xamêgo, delicada em Pode Entrar e dramática em Canção da Volta. Entre os músicos que participaram de Tamba-Tajá estavam estrelas como dominguinhos, Wagner Tiso, Vevé Calazas, Fedrera e outros.

Do amor universal às lendas amazonenses, passando pela mesa de bar, Tamba-Tajá canta um Brasil imenso e deu boas vindas a uma artista que não tem pudor de ser o que é. Em mais de 40 anos de carreira, Fafá já foi do brega, da lambada, do rock, da balada, do samba-canção. E tudo isso sem deixar de ser de Belém.

Veja as faixas de Tamba-Tajá (1976):

1. Indauê Tupã (Ruy Barata/ Paulo André)
2. Tamba-tajá (Waldemar Henrique)
3. Siriê (Edil Pacheco/ Paulo Diniz)
4. Vento negro (Kledir Ramil/ Fogaça)
5. Xamêgo (Miguel Lima/ Luiz Gonzaga)
6. Haragana (Quico Castro Neves)
7. Cancão da volta (Ismael Netto/ Antônio Maria)
8. Pode entrar (Walter Queiroz)
9. Cá já (Caetano Veloso)
10. Gaudêncio Sete Luas (Marco Aurélio Vasconcelos/ Luiz Coronel)
11. Fazenda (Nelson Ângelo)
12. Esse rio é minha rua (Ruy Barata/ Paulo André)
13. Fracasso (Mário Lago)

>> Tamba-tajá, a faixa, por Carlus Campos

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles