Na Virada Cultural de 2008, um encontro há muito tempo esperado por roqueiros brasileiros se fez realidade. Já conhecido por convidar artistas para recriarem ao vivo o repertórios de seus discos mais importantes, o evento paulista reuniu naquele ano o Som Nosso de Cada Dia.

Apesar de desconhecida para o grande público, a banda foi uma das representantes mais celebrados da cena progressiva nacional. A história do trio paulistano remete ao início dos anos 1970, ainda sob o nome de Cabala. À frente, o espanhol Antônio Rosa Sanches (1944-2011), mais conhecido como Manito, multi-instrumentista virtuoso, que integrou a jovem guarda como membro d’Os Incríveis. Ao lado dele, Pedro Baldanza (Pedrão, guitarra e baixo) e Pedrinho Batera (bateria e vocais).

A história da banda é curta, mas cheia de méritos. O primeiro foi ter sido selecionado como banda de abertura da turnê de Alice Cooper no Brasil, o que garantiu público e o direito de lançar o primeiro disco em 1974. E aí vem o segundo mérito, o LP Snegs tornou-se um clássico nacional entre os fãs de rock progressivo. Ainda celebrado como obra prima, o álbum relançando em CD décadas depois traz todos os ruídos, paisagens e virtuoses que um disco de rock progressivo precisa.

Por razões pouco explicadas, Manito abandonou o Som Nosso após o lançamento de Snegs e a banda foi mudando de formação diversas vezes. Até que, em 1977, chega um segundo disco, com Tony Osanah, Egídio Conde e outros músicos no reforço. Numa época em que a discoteca era a moda, o álbum Som Nosso foi dividido em duas partes: o lado á, batizado de “sábado”, com sons mais funkeados, dançantes, e o b, “domingo”, com a placidez progressiva.

Em “sábado’, Pra Swingar encosta em James Brown, enquanto François tem ares de Donna Summer. Já em “domingo”, Bem no Fim é furiosa, com vocais gritados e bateria lancinante. A letra caótica acompanha o arranjo vigoroso, que antecede o clima pretensioso de Montanhas. O nome já entrega o volume da pancada desferida pelas baquetas de Pedrinho.

Mesmo cultuado por alguns fãs, o Som Nosso de cada Dia não teve uma carreira popular e seus discos tornaram-se raridades. Alguns registros da era setentistas foram lançados em seguida e eles até fizeram mais algumas apresentações após a Virada Cultural. Mas, a banda, hoje, existe mesmo é na história.

Veja as faixas de Som Nosso (1977):

1. Pra swingar (Pedrão/ Pedrinho)
2. Levante a cabeça (Pedrão)
3. François (Frankie)
4. Pra segurar (Pedrão)
5. Estação da luz (Tony Osanah)
6. Vida de artista (Tony Osanah)
7. Bem do fim (Frankie)
8. Montanhas (Tuca)
9. Neblina (Egidio Conde)
10. Água limpa (Paulinho Foguete/ Pedrão)
11. Rara confluência (Paulinho Foguete/ Tuca)

>> Estação da luz (Tony Osanah) por Carlus Campos

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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