Uma das figuras mais relevantes da música internacional vai ter sua obra celebrada a partir de hoje em Fortaleza. Astor Piazzolla, músico responsável por um rejuvenescimento e atualização do tango, será homenageado no show 3001 Proyecto Piazzolla, que segue na Caixa Cultural, de hoje, 18, até domingo, 21. As apresentações reúnem a premiada cantora argentina Elena Roger com seus conterrâneos da banda de jazz Escalandrum, liderada pelo baterista Daniel “Pipi” Piazzolla, neto de Astor.

A música de Piazzolla é fruto de uma experiência no tango tradicional com o conhecimento do jazz norte-americano. Alie a essa mistura uma forte noção de arranjo orquestral e um senso de dramaticidade ímpar. O ritmo acelerado de Libertango e as paisagens sonoras de Adios Nonino (feita para o pai falecido do compositor) comprovam esse conhecimento musical que vai além do uso das notas.

Nascido em 11 de março de 1921, em Mar Del Plata, cidade portuária da província de Buenos Aires, Astor Pantaleón Piazzolla foi ainda pequeno morar com os pais em Nova York. Foi na terra do jazz onde ele passou uma boa parte da juventude e teve as primeiras lições formais de música. Voltando adolescente para sua terra, começou viajar pelo país tocando em orquestras.

“Meu avô mudou o tango para melhor. O evolucionou. Agora, o tango, graças a ele, se toca e se escuta no mundo todo e é catalogado de música importante”, resume Daniel Piazzolla em entrevista por email. Foi inclusive o avô, reconhecido pelo toque do bandoneón (instrumento de fole típico do tango), quem deu ao neto, que até então estudava piano, a primeira bateria. “Ele era muito divertido, bem alegre. Gostava de fazer muitas brincadeiras, ir ao cinema, ver filmes de ação e comer muito bem”, revela.

Entre as muitas viagens, Astor Piazzolla também se aproximou dos brasileiros. Além de tocar com Tom Jobim, fez uma gravação muito conhecida para o programa Chico & Caetano (Globo), nos anos 1980, e ainda foi homenageado por Elza Soares que gravou Fadas em versão de tango para marcar os 10 anos de morte do compositor argentino, a quem ela conheceu e teve forte ligação no tempo em que morou em Buenos Aires. “Meu avô amava Brasil, fez muitos amigos e muitos shows. Sempre me falou maravilhas do povo brasileiro. A mim, passa exatamente o mesmo. (Tenho) tocado muitas vezes no Brasil e sempre é uma experiência incrível”, conta Daniel.

Daniel montou o Escalandrum há cerca de 20 anos, com a proposta de levar a música argentina para o mundo. Não só conseguiu, como foi reconhecido em prêmios e festivais internacionais. Numa dessas paradas, em Nova York, 2012, conheceram Elena Roger, que estava na cidade com o espetáculo Evita, na Broadway. Do encontro, nasceu um espetáculo em conjunto que traz canções como Balada para un loco, Balada para mi muerte, Chiquilín de Bachín e La bicicleta blanca.

Daniel indica alguns nomes importantes para se conhecer a música portenha de hoje: Nicolas Guerschberg, Lautaro Greco, Nicolas Sorin, Guillermo Klein, por exemplo. E quando o assunto é o que representa o avô para a música argentina de hoje, ele não economiza: “o músico mais importante da história de nosso país”. Mas é claro que as inovações propostas por Piazzolla para a música mais tradicional do seu país não iriam passar em branco para os puristas. Sim, ele foi muito criticado por descaracterizar um patrimônio da sua nação. Quando diziam que sua música não era, de fato, o tango, Piazzolla simplesmente dizia que era “música contemporânea de Buenos Aires”. Para Daniel, essa definição continua atual. “Sim. É muito válida. Hoje em dia seria música de Buenos Aires”.

Serviço:
3001 Proyecto Piazzolla com Elena Roger
Quando: de hoje, 18, a sábado, 20, às 20h, e domingo, 21, às 19h
Onde: Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Telefone: 3453 2770

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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