Foto: Felipe Giubilei/ Divulgação

Por Renato Abê (renatoabe@opovo.com.br)

Existe um tempo-espaço entre o fim de uma história e o começo da seguinte. Um limbo singular, terreno de ruínas e projeções. É nesse ponto, poetiza Tim Bernardes, que mora Recomeçar, primeiro álbum solo do paulista de 26 anos. Vocalista da banda O Terno, o músico lançou o trabalho ano passado e vem acumulando elogios da crítica especializada (foi nome frequente na lista dos melhores discos de 2017). Tim agora traz o novo show para a Capital, em única apresentação, no Cineteatro São Luiz.

“A show é diferente (do O Terno). O foco é outro, a apresentação acaba sendo uma lupa para as canções, é bem íntimo. É como sentar na mesa de bar com uma pessoa”, detalha Tim, em entrevista ao O POVO. O artista explica ser o objetivo da apresentação abrir protagonismo para cada verso, cada sentimento retratado nas letras das canções. “As composições crescem e não quis nada que tirasse o foco do cara a cara. Quis reproduzir a solidão do álbum, mais do que a sonoridade. Sou eu sozinho, do jeito que compus, no meu quarto”, aponta. Na feitura do CD, o multi-instrumentista criou os arranjos orquestrais de cordas, sopros e harpa, além de gravar sozinho violões, vozes, guitarras, baixo, bateria, piano e outros objetos, que entraram nessa empreitada musical.

No repertório, destaque para as 13 faixas do álbum. Mas há espaço, porém, para canções do O Terno, a exemplo de Melhor do Que Parece e A História Mais Velha do Mundo. O setlist também inclui músicas-inspirações para o disco solo de Tim. São elas: Soluços, de Jards Macalé, e um inusitado medley com Changes (Black Sabbath) e Paralelas (do cearense Belchior).

Recomeçar tem camadas de interesse diferentes, mas o principal são as composições. Elas são muito diretas e concretas, falam de situações íntimas. Talvez isso seja justamente o que faz com que as pessoas se identifiquem”, reflete o músico, indagado sobre a popularidade da obra no universo indie. “Música é legal por isso: você fala como se tivesse sozinho, mas acaba ficando universal por serem assuntos tão humanos”, aponta, destacando ter sido o trabalho lançado em vinil, via Noize Record Club.

Tanto faz, primeira música a ganhar clipe do álbum, flerta com certo desânimo em relação ao cenário político e social brasileiro. “Vai ter copa, vai ter Carnaval, mas continua errado/ Nada é justo ou injusto, se não há justiça de fato”, versa a canção. “A minha sensação, não só em relação ao Brasil, mas em relação ao mundo, é de certa desilusão. Estamos vivendo um limbo, é como estar numa ruína e não soubéssemos começar uma coisa nova. Não falo de um partido ou de um candidato, o certo mesmo é reformar tudo”, avalia. Tim, entretanto, é esperançoso: “A poeira está baixando, pode ser que surjam outras coisas. Agora é quase uma ressaca”.

Atualmente, o artista se divide entre a divulgação da carreira-solo e a produção de um novo álbum da banda O Terno, com quem já coleciona três discos e um EP, além de shows pelos principais palcos e festivais do Brasil e apresentações internacionais (Estados Unidos, Portugal e Espanha). “Gostei da ideia de alternar (entre banda e solo). O Terno está num momento interessante, estamos crescendo, virando adultos”, encerra.

O QUE TIM BERNARDES TEM OUVIDO
JONNATA DOLL
Questionado sobre o que acompanha da cena alternativa cearense, Tim Bernardes citou Jonnata Doll, que se apresenta ao lado dos Garotos Solventes, cujo repertório apresenta “rock em estado bruto”. Jonnata ganhou maior visibilidade nacionalmente com as participações nos shows da turnê de 30 anos da banda Legião Urbana.

BACO EXU DO BLUES
Outro nome citado por Tim é o rapper baiano Baco Exu do Blues. O artista une trap e brasilidade no disco de estreia, Esu, que conquistou olhares da crítica. É dessa obra o sucesso Te Amo, Disgraça, cuja repercussão extrapolou os limites do rap. Além de temas românticos, Exu dá protagonismo às questões de negritude.

ANA FRANGO ELÉTRICO
De novidade, Tim destaca a cantora Ana Frango Elétrico. “É muito interessante como o indie no Rio surge de uma maneira muito estética”, reflete o paulistano. A artista apresenta um pop nada convencional ou comercial. São canções cheias de camadas musicais e letras cobertas de ironia e cinismo.

Show Recomeçar
Quando: domingo, 13, às 18 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 – Centro )
Quanto: R$ 30 (inteira)
Telefone: 3252 4138

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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