Foto: Reno Beserra/ Divulgação

As opiniões em torno do forró costumam ser rasas e pouco valorizam sua força. Há quem o considere um bom combustível de festa, muitas vezes estereotipado, e tomado quase sempre por sua porção mais popular. E há quem o despreze com opiniões passionais e, em grande parte, preconceituosas. Para a banda cearense Forria, esse patrimônio artístico é valorizado e enriquecido num disco de estreia. Formado por Leonardo Rio (voz), Paula Braz (viola de arco), Samuel Torquato (guitarra), Eros Augustus (teclas), Mateus Torquato (baixo), Lucas Rangel (bateria), Seu Divino e Tiago Campos (percussão), o grupo tem como influências mais imediatas e aparentes os filhos do manguebeat (Mundo Livre SA, Cordel do Fogo Encantado, Mestre Ambrósio) e a música de Ednardo.

A simples e bela capa do álbum do Forria, com obra creditada a Nódoa

Isso já fica claro nas músicas que abrem o disco da banda fundada em 2014. Canto da Jandaia tem duelo de sanfona com guitarra acontecendo sobre uma base de percussão e linha de baixo bem simples. A faixa vem depois de Forria, uma abertura de vozes à moda dos cantadores nordestinos, versando sobre a vida em tom questionador. Uma ótima surpresa é Jerimum, um xote soul, de letra profunda e interpretação agonizante (“Só quem queima de prazer conhece o fogo. Só quem brinca de não ter conhece o todo”). E os nordestes vão desfilando, ora cosmopolita, ora tradicional, ao longo das nove faixas do disco.

Tem maracatu (Desenredo), carimbó (Preto dos teus olhos), forró (Depois do Mormaço) e a lamentosa e triste De noite Pro Dia, que remete ao clássico local Chão Sagrado, de Rodger e Teti. Falando de um Ceará de muitas épocas, a estreia do Forria mostra uma banda coesa, dona de composições inspiradas e melodias ricas e bem construídas. Leonardo Rio é um vocalista intenso e dono do seu espaço, mas sua voz soa extremamente crua na gravação, assim como outros instrumentos que ficam sem o brilho necessário no disco. Mas nada que apague a beleza das canções.

A propósito, quem quiser conhecer o som da Forria ao vivo, eles estarão nesse sexta-feira, 20, às 20 horas, na Cazuá de Cultura (av. da Universidade, 2402 – Benfica). Os ingressos custam apenas R$ 5.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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