Foto: Vidafodona

Por Renato Abê (renatoabe@opovo.com.br)

Aos 18 anos, Eduarda Bittencourt sonhava com a aprovação no curso de medicina. Focada nesse objetivo, a estudante mudou para o Rio de Janeiro na busca por um leque maior de vagas disponíveis em universidades públicas. Treze anos depois, porém, a menina que se sonhou anestesista tem lidado com outras dores. Ela agora é Duda Beat e apresenta seu primeiro disco, Sinto Muito (ouça aqui), álbum no qual abre o coração para falar de uma desilusão amorosa avassaladora vivida por ela. A “bad” da cantora, porém, não é nada pra baixo. Ela se mune de ritmos latinos, trap, axé, reggae e tecnobrega para cantar o desamor.

“O disco é tão múltiplo quanto todos nós. Tem dias que você ri da própria desgraça, tem dias que senta na cama e chora, tem dias que está numa vibe mais amargurada. O gênero de cada canção dialoga muito com o espírito do sentimento que a inspirou”, explica Duda, em entrevista ao O POVO. Compositora e intérprete, ela acabou não ingressando mesmo na área da saúde e hoje seu foco maior é a carreira artística.

Ao longo de 11 faixas, Sinto Muito aborda os diferentes ângulos de uma paixão cheia de sofrimentos. Sem perder de vista, porém, a alegria, o bom humor e a leveza que as relações também têm. O trabalho foi produzido por Tomás Tróia, cujo encontro extrapolou o contato profissional e se transformou em romance. A “bad” das composições do passado, então, abriu espaço para um amor bem resolvido do presente. “Dividir isso com o mundo foi essencial para a minha cura. A transformação de dor em festa só foi possível porque revisitei minhas dores e coloquei para fora todo esse sentimento”, versa.

Apesar de só agora estar lançando o debut, Duda já tinha aparecido, mesmo que timidamente, nos backing vocal dos discos Sintoma, do Castello Branco, e Letrux Em Noite de Climão, da Letícia Novais. “Santa internet que diminuiu as fronteiras entre artistas e público! Nesse cenário, artistas de consistência, como são o Castello e a Letrux, fazem um trabalho fiel à sua essência e não à demanda do mercado”, celebra a artista, pontuando a ampliação de experimentações sonoras que a música brasileira vivencia.

A boa recepção do single Bixinho e o posterior lançamento dos clipes de Bolo de Rolo e Back do Bad têm atraído olhares do público e da crítica musical para a cantora – cujo trabalho vem sendo celebrado como “sofrência indie”. Duda, porém, aponta ressalvas com as definições. “Sei que os rótulos são necessários para o mercado, para encaixar os trabalhos em gavetas de consumo, mas imagino que muitos artistas, assim como eu, sintam um certo estranhamento em ser enquadrados numa categoria”. Para a cantora, o guarda-chuva do “indie” acaba estabelecendo relação maior com uma faixa etária específica. “Eu associo indie a um artista que faz um som quase conceitual e destinado a um público superjovem. Eu tenho vontade de me comunicar com pessoas de todas as idades”.

Apesar da procura de uma sonoridade atemporal e universal, Duda não perde de vista seu estado de origem. “Pernambuco é a minha essência, minha pátria, cresci envolta nessa cultura e fico orgulhosa que isso esteja claro pra quem ouve o disco. Morar no Rio me traz muito aprendizado e a combinação dessas duas influências é determinante para todas as minhas escolhas”, traça.

A cantora se planeja para sequência de shows por Rio, São Paulo e Belo Horizonte, mas ainda não tem previsão de apresentação em Fortaleza, onde espera criar laços de identificação musical e aflorar ainda mais sua brasilidade.”O axé, o pagode e o forró são referências muito importantes pra mim. Frevo, maracatu, coco, baião também têm uma pegada forte no meu DNA artístico”, completa.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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