Foto divulgação/ Daryan Dornelles

Antonio Luiz Drummond Miranda é cearense e faz questão de dizer isso. Talvez sua imagem confunda, mas ele acha importante reafirmar esse berço. “Morando há mais de 10 anos na Paraíba e adorando morar lá, eu ainda me sinto daqui e sou muito agradecido por isso”, comenta o cantor e compositor que assina Tom Drummond e levou o primeiro prêmio no I Festival de Música de Fortaleza, no sábado 8 de dezembro. A música que lhe garantiu ser uma das atrações do Réveillon na Praia de Iracema chama-se Menino Bonito e mistura as influências eruditas e populares do artista de 31 anos que já tem na prateleira os prêmios de Melhor Música com Letra no I Festival de Música da Rádio Universitária (com Seu santo) e o segundo lugar no Festival de Música da Assembleia Legislativa do Ceará (com Ai de Mim). Por email, entre muitos ensaios, ele fala sobre formação e o merecido reconhecimento em sua terra.

DISCOGRAFIA – Queria começar sabendo a história da canção Menino Bonito. Quando ela nasceu, sua inspiração, a criação do arranjo, etc.
Tom Drummond – Minha irmã é a verdadeira cantora da casa. Desde que comecei a compor na adolescência, eu era estimulado pelos meus pais a compor canções em voz feminina no intuito de fazê-la cantar. Sempre me soa mais poética uma canção na voz feminina, além de ser um desafio pessoal estabelecer coerência entre o gênero e o discurso cantado. A música em questão tenta emular todos os anseios de uma moça que admira um rapaz bonito. Toda insegurança pertinente a uma declaração. Esse é o centro da peça.

DISCOGRAFIA – O que representa pra você o 1º lugar no Festival de Música de Fortaleza?
Tom – Representa reconhecimento de um genuíno esforço em prol de um discurso musical que vem sendo desenvolvido durante meu percurso enquanto compositor. Todo o cuidado com a letra, a atenção com a melodia, forma, harmonia, o arranjo e tudo mais. Num momento em que a simplicidade musical é almejada e quase exigida para ingressar no cenário popular da música, ter procurado saídas musicais não tão obvias e ser contemplado com esse prêmio me faz acreditar que há espaço e público pra o meu trabalho.

DISCOGRAFIA – Que análise você faz dos finalistas do Festival? Quem te chamou mais atenção?
Tom – Os últimos festivais dos quais participei sempre me impressionaram pela pluralidade de estilos musicais e esse não foi diferente. Houve muito samba entre as finalistas, mas as semifinais tinham pop, rock, tango, música nordestina. Toda pluralidade, ao meu ver, faz bem aos concorrentes que personalizam mais seu discurso musical. Eu gostei muito da simplicidade da música do Jota (Livre), da construção da música da Aparecida (Silvino, Bem Perto de Mim), da execução do Edinho (Vilas Boas, Olhos Desesperados) junto aos filhos, e da letra da música do Pedro (Falcão, Papel). A ideia da música Luzia (de Paulo Roberto Araújo e Daniel Conti) me chamou a atenção também. Precisamos marcar um encontro de compositores pra discutir música! Tenho certeza que aprenderia muito com cada um dos finalistas.

DISCOGRAFIA – Durante a apresentação no último sábado, após uma confusão dos apresentadores, você fez questão de deixar claro que é cearense. O que significa pra você ser um compositor cearense?
Tom – Eu não sei o que significa ser um compositor cearense, mas eu, de certa forma, preciso dessa identidade cearense. Morando há mais de 10 anos na Paraíba e adorando morar lá, eu ainda me sinto daqui e sou muito agradecido por isso. Sempre acham que eu venho do Sul ou do Sudeste pela minha fisionomia. De certa forma eu pareço ser o forasteiro há muito tempo. Quando eu tive a chance de me apresentar no Festival de Fortaleza, queria, de fato, não ser o forasteiro e por isso a correção que, justiça seja feita, me ajudou a quebrar o gelo com a plateia.

DISCOGRAFIA – Sua atuação na música transita entre o popular e o erudito. Como é sua relação com cada uma dessas linguagens? Pra você, é muito diferente uma da outra?
Tom – Tanto a música popular quanto a erudita são esferas muito amplas, mas acredito que as duas se comunicam a todo instante. Muitos dos músicos brasileiros que acompanho se inserem na intercessão dessas esferas. Quais elementos usar de cada âmbito musical utilizar é algo que me interessa muito e que norteia meu trabalho composicional.

DISCOGRAFIA – Qual é sua história com a música?
Tom – Minha mãe é educadora musical, trabalha com o ensino desde a sua adolescência. No meio do seu trajeto viemos eu e minha irmã. Obviamente tivemos a sorte de aproveitar o máximo da experiência materna no campo musical. O percurso meu e de minha irmã por entre os conservatórios e universidades ainda se vale muito das diretrizes expostas por ela, minha mãe, que continua desenvolvendo seu trabalho de forma admiradora.

DISCOGRAFIA – Hoje, no campo nacional, a maior parte do mercado é voltada para gêneros de consumo imediato, sobrando pouco espaço midiático para o que se convencionou chamar de MPB. No caso do seu trabalho autoral, de que forma você se relaciona com esse mercado e que espaço você vê para sua música?
Tom – De fato o mercado tem apontado para uma direção oposta ao meu trabalho. Eu, que tenho essa formação erudita, procuro me amparar nas possibilidades presentes na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da qual faço parte como violoncelista. Toda bagagem orquestral e todo o repertório desenvolvido pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba (OSUFPB) ao longo dos anos me valem de referência para a produção autoral e para sua execução. Desse trajeto eu tenho muito orgulho e não o trocaria por outro.

DISCOGRAFIA – O prêmio maior do Festival de Música de Fortaleza é um contrato para tocar no Réveillon de Fortaleza, que vai receber nomes experientes como Alcione e Xand Aviões. Quais são suas expectativas para esse show? O que você já tem planejado? Já se imaginou tocando para uma plateia tão grande?
Tom – Nunca imaginei tocar para uma plateia tão grande, mas também não imagino me acanhar diante dela. Espero trazer um repertório meu muito diversificado e com muita energia, o que me parece ser coerente com o momento. O que me interessa construir nesse Réveillon é uma apresentação com personalidade, com diferencial. O julgamento da qualidade desse trabalho fica a cargo do público.

DISCOGRAFIA – Seu disco Andarilho reuniu um time estrelado de músicos, como Paulinho Moska, Nilo Romero, Marcos Suzano e Jorge Helder. Como foi essa produção? Como você reuniu esse time?
Tom – Só há uma explicação. Gente boa é rodeada de gente boa. Eu tive a sorte de conhecer um e os outros foram me aparecendo no caminho.

DISCOGRAFIA – Quais as tuas expectativas para 2019? Que planos você tem?
Tom – Eu gostaria de me apresentar mais em Fortaleza. Embora a orquestra onde trabalho tenha uma temporada cheia, espero poder estar mais perto dos palcos daqui também. Se todo mundo espera na virada de ano um recomeço ou uma mudança no rumo, eu tenho sorte de estar no Réveillon certo.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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