Gilson Peranzzetta e Leny Andrade (Fotos: Divulgação)

É difícil mensurar o volume de música que vai subir ao palco do Cineteatro São Luiz neste domingo, 24. Em números, são apenas duas pessoas. Mas, em se tratando de Leny Andrade e Gilson Peranzzetta, é preciso considerar caminhões de improvisos, quilômetros de experiência, séculos de tradição musical e toneladas de sentimentos mútuos compartilhados. E é essa partilha que eles vão celebrar num show dedicado às canções de Nelson Cavaquinho e Cartola.

O show faz parte da Sessão Sonora, projeto que mescla show e exibição de um filme. O deste domingo será Cartola – Música Para Os Olhos (2007). O documentário de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda conta a história de Angenor de Oliveira, compositor carioca que entrou para a história com o nome de Cartola. Semianalfabeto, ele escreveu alguns dos capítulos mais bonitos da história do samba e compôs joias raras como O Mundo É um Moinho, Alvorada e Disfarça e Chora.

Em 1987, Leny montou um disco com esse repertório e chamou o amigo Gilson Peranzzetta para tocar piano e escrever os arranjos. Oito anos depois eles se reencontraram no disco Luz Negra, dessa vez todo dedicado a outro gênio do samba, Nelson Cavaquinho. O show que chega neste fim de semana a Fortaleza, depois de passar por Brasília, mistura canções dos dois tributos, mas no formato intimista de voz e piano.

“Nós gravamos esses dois e deu tão certo que tive essa maluquice de querer regravar agora, mas englobei dois discos num CD só. Quero gravar um outro só com Nelson Cavaquinho. Nós estamos com a cachorra, a gente não para não”, adianta Leny que, aos 76 anos, segue como uma incansável referência entre as vozes da música brasileira no exterior. “Não pode parar não se não dá mofo. Principalmente num país tão ser vergonha como é esse meu”, brinca.

Lançado pela gravadora Fina Flor, Canções de Cartola e Nelson Cavaquinho levou pouco mais de três horas pra ficar pronto. Tendo o Pão de Açúcar como cenário, Leny e Gilson se reuniram no estúdio para registrar Folhas Secas, Rugas, Não Quero Mais Amar a Ninguém, Pranto de Poeta e A Flor e o Espinho, entre outras. “Confesso que tenho uma certa paixãozinha por As Rosas Não Falam, aquela que o Roberto Carlos não quis cantar”, confessa Leny, sem esconder outro grande amor. “Eu tenho certeza de que o Gilson me ama e eu tenho certeza do meu amor por ele. Quando eu chego, ele se levanta do piano com aquele jeito de padre e ninguém imagina o canalha que ele é na verdade. Acho que o Gilson me considera a melhor cantora do Brasil. Ele não sabe dizer não pra mim”.

Gilson confirma essa paixão e costuma dizer que considera Leny “a nota que faltava para o meu acorde”. Apontado por Quincy Jones como um dos cinco melhores arranjadores do mundo, ele conta que usou na seleção de repertório do show com Leny um método que aprendeu na Alemanha, onde eles escrevem os nomes das músicas em pequenos papeis, colocam tudo sobre uma mesa e vão mexendo. Ele acrescenta que a parceira teve um problema de saúde há alguns meses, mas, assim que se recuperou, já quis entrar em estúdio. “É muito legal por que a Leny é muito musical. Ela é um instrumento. Sem cantar a vida dela não é a mesma coisa. É muito legal de ver a felicidade dela cantando”, conta Gilson Peranzzetta.

Sessão Sonora
Quando: domingo, 24, às 15h50 (filme) e 18h (show)
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 – Centro)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). À venda no site Tudus e no local
Telefone: 3252 4138

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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