Maria Casadeval como Maria Luisa, a protagonista de Coisa Mais Linda

Rio de Janeiro, 1959. Mais do que nunca, a Cidade Maravilhosa fazia por merecer seu apelido. Praias pouco habitadas, sem arrastão, morros cheios de samba e sem a violência epidêmica, ruas cheias de romantismo e modernidade sem o vai e vem de carros apressados. É nesse cenário de belíssimas paisagens que Maria Luiza desembarca para encontrar o marido com quem pretende abrir um novo negócio. Tamanha é a surpresa quando a filha da alta classe paulistana descobre que ele fugiu com seu dinheiro, lhe deixando apenas o endereço de um hotel vagabundo e um monte de dúvidas.

Sem nunca ter precisado fazer muita força, agora Malu quer provar que é capaz de vencer na vida por conta própria. Aí começa Coisa Mais Linda, nova série brasileira da Netflix focada nas histórias de quatro mulheres em busca de seus desejos. Maria Casadevall é quem dá vida à protagonista e tem ao seu lado o apoio de Adélia (Pathy Dejesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa). Cada uma com sua experiência de vida, seus sonhos e suas barreiras. Nos termos atuais, quatro mulheres em busca de empoderamento, mas tendo que enfrentar regras sisudas e hábitos históricos da sociedade patriarcal.

A equipe de Coisa mais Linda durante o lançamento da série, em São Paulo: Rafa Brites, Beto Gauss Producer, Leandro Lima, Fernanda Vasconcellos, Maria Casadevall, Paty Dejesus, Mel Lisboa, Ícaro de Jesus, Julia Rezende e Caito Ortiz, diretor (Foto: Maurício Santana/ Divulgação)

“O mais surpreendente dessa história foi a gente perceber ao longo do processo que a gente não está tão distante do que está escrito no roteiro que se passa há 60 anos. A gente não pode ignorar as conquistas feitas lá atrás, que nos permitem estar aqui. Mas a gente consegue identificar coisas que acontecem hoje e você pode trocar só as personagens, aquele figurino e aqueles diálogos cabem, aqueles problemas cabem, aquela apontada de dedo cabe, talvez maquiada de uma outra forma”, comentou Pathy Dejesus, em evento de lançamento realizado em São Paulo. Reunidos, os protagonistas de Coisa Mais Linda comentaram as discussões que atravessam a série. “As pessoas estão confundindo com uma série feminista, mas não é. É uma série de mulheres fortes que fazem suas escolhas, encaram suas escolhas e as histórias delas vão virar sementes para que as pessoas passem a refletir. Além de entreter com essa música, vai educar as pessoas”, alertou o ator Leandro Lima, que dá vida ao músico Chico.

Os temas feminismo e música se misturam na série criada por Heather Roth e Giuliano Cedroni. O primeiro surge com a proposta de levar o público à reflexão, apresentando personagens ainda tão atuais. Uma menina traída pelo marido e pressionada pelo pai para voltar para a vida burguesa. Tem a mãe negra, que trabalha como doméstica casada com um músico que vive em turnê. Tem ainda a única jornalista no meio de um monte de homens que escrevem para uma revista feminina. Por fim, uma jovem que sonha ser cantora, mas precisa acordar para um relacionamento abusivo que a impede de seguir a carreira artística. Já o assunto música surge em Coisa Mais Linda nas entrelinhas de um Rio de Janeiro inspirador que vê surgir boates onde viriam a nascer estrelas como Dolores Duran, Tom Jobim e Maysa.

Mas, apesar da música ter seu papel, é o feminino que está no centro de Coisa Mais Linda. “Meu maior cuidado foi criar a Lígia com muito erro. É uma mulher que pode errar, pra não cair na caricatura de uma mulher dos anos 1960 que sofre violência. Então eu quis tornar a Lígia um personagem muito acessível e que ela pudesse me atravessar”, adianta Fernanda Vasconcellos. “A série, de uma forma muito corajosa, explicita uma violência de classe. O desafio pra mim foi como olhar pra Maria Luisa menos com meu olhar de hoje. Eu não quis em nenhum momento atravessar minha construção do personagem com o processo que eu estou vivendo hoje, que é totalmente orgânico e em movimento”, continua Maria Casadevall. “A série está num lugar que abre margem para a reflexão e possibilita a conscientização das mulheres. E o interessante é que a série não é panfletária e está num lugar que agrega, abre portas para a conscientização. Isso é muito potente não apenas para mulheres, mas também para os homens. Todas as pessoas são capazes de rever pensamentos, atitudes”, encerra Mel Lisboa.

O universo musical de Coisa Mais Linda
Coisa Mais Linda – Documentário de 2005 conta a história da bossa a partir dos depoimentos de Roberto Menescal e Carlos Lyra.

A Noite do Meu Bem – Escrito por Ruy Castro, o livro traça um minucioso roteiro do surgimento das boates e do samba-canção no Rio de Janeiro dos anos 1950 e 60.

Chega de Saudade – O mais importante e detalhado relato sobre o surgimento e a consagração da Bossa Nova no mundo. Também de Ruy Castro.

Coleção Folha Tom Jobim – Qualquer playlist dedicada à bossa funciona como trilha, mas a coleção de 20 discos lançada pela Folha de São Paulo ganha pelos livretos cheios de informação sobre o compositor e suas músicas.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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