No último 5 de maio, uma das personalidades mais importantes da cultura brasileira fez aniversário. Foi nesta data que, há 102 anos, nasceu Vicentina de Paula Oliveira, que entrou para a história como Dalva de Oliveira. A cantora paulista, de Rio Claro, merece todas as pompas e homenagens por ter dado à música seus agudos e sua vida, cheia de brilho e dramas. No palco e fora dele, Dalva se equilibrou entre a felicidade do sucesso popular e o trágico das histórias de amor. E o que estivesse em seu coração ela usava para vestir canções como Bandeira Branca, Máscara negra, Que será ou Neste mesmo lugar.

Influência para tantas vozes de sua época e depois, a “Piaf brasileira” será celebrada no palco do Theatro José de Alencar com o show 100 Anos de Dalva de Oliveira. Adaptação do projeto lançado em CD e DVD no ano passado, o tributo reúne quatro vozes que não escondem sua admiração pela homenageada: as veteranas Claudette Soares, Alaíde Costa e Eliana Pittman, e Márcio Gomes, cantor carioca apelidado como o “novo Rei da voz”.

“Eu tenho uma admiração muito grande pela Dalva. Ao longo da minha carreira, sempre tive vontade de fazer um CD em homenagem a ela. Nunca deu certo, mas com esse convite do Thiago (Marques Luiz, produtor), fica uma parte do sonho realizado”, comenta Alaíde, que conheceu Dalva na Rádio Nacional. “Depois fiquei amiga dela, frequentava a casa dela no em Jacarepaguá. Era uma pessoa maravilhosa. Eu a adorava. Ela me deixa uma imagem de uma mulher guerreira”, aponta a cantora de 83 anos, uma das vozes mais expressivas da história da Bossa Nova.

“Eu que trouxe Alaíde pra São Paulo pra reforçar o movimento que já rolava de bossa nova”, orgulha-se Claudette Soares, que apresenta seus companheiros de palco. “Alaíde é minha parceira de bossa, fazendo o romântico bem moderno, como ela é. Eliana tem todo um histórico internacional, faz música bem diferenciada. No show, ela faz bem aquelas coisas de mais exaltação. Sambas com uma expressão vocal maior. E ela é maravilhosa, por que ela tem muito traquejo de voz. E o Márcio, o que falar dele? Ele faz aquelas partes de extensão, músicas fortes, bem altas. Somos todos amigos e ele é o amigo mais recente”.

Claudette também teve oportunidade de conviver com Dalva de Oliveira uma época. “Conheci primeiro como fã. Eu chegava na coxia dos auditórios e via. Eu cantando em programa juvenil e vi aquela mulher, com aqueles olhos verdes. Demorei muito a ter contato com ela. Depois que o Pery virou cantor e de estar com a turma da bossa nova, a gente ficou muito amigo. Ele dizia em todos os shows que o sonho da mãe dele era eu casar com ele”, lembra a carioca de 81 anos que perdeu a amiga sem realizar seu sonho. “Eu costumo dizer que a Angela Maria foi para a Dalva o que a Elis foi pra gente da nossa geração. Um furacão”, avalia Claudette.

Eliana Pittman, 73 anos, também teve chance de conhecer Dalva, mas de forma mais breve. “Quando eu era muito pequena, que ela fazia shows em circo, eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Minha mãe me levou em Bonsucesso pra vê-la. Eu lembro muito das joias dela”, comenta a cantora que, pouco depois, foi viajar pelo mundo cantando ao do pai Booker Pittman. “Mas eu sempre admirei a Dalva. É ‘a voz’”. Aos 45 anos, Márcio Gomes não teve tempo de conhecer Dalva pessoalmente, mas é íntimo do seu repertório. “Quando fui me entender como cantor, entrei na música popular e vi a Angela Maria num show dela em São Paulo. Tremi na base e disse que era o que queria pra mim. Fui fazendo pesquisa de repertório e conheci a Dalva, já depois dos anos 1990. Na verdade, nessa época eu conheci todos daquela época. Gostei de uns, outros menos, outros eu me apaixonei. Dalva está dentro das paixões”, comenta o cantor que lota casas de show cantando, com seu estilo operístico, as grandes canções brasileiras e internacionais. “É um prazer dividir um palco com essas grandes estrelas, com grande estrada. É como uma pós graduação. E, pra mim, é mais que satisfatório pelo fato de eu ser apaixonado pelo repertório da Dalva. Além de ter sido um ícone daquela época, seu nome nunca foi esquecido. Isso que é o poder da arte, é sobreviver ao tempo”.

Serviço:
100 anos de Dalva de Oliveira
Quando: hoje, 16, às 20 horas
Onde: Theatro José de Alencar (r. Liberato Barroso, 525 – Centro)
Quanto: R$80 (torrinha), R$100 (camarote), R$120 (frisas, balcão ou plateia). Preços de inteira. À venda na Bilheteria Virtual, Tcket Shop (Iguatemi e RioMar Kennedy) e no local
Telefone: 3101 2583

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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