Foto: Davi Probo

 

Por: Hamilton Nogueira

Uma criança, certa vez ensinando a outra, disse que na música a vitória se dá quando todo mundo chega junto. Quem me contou essa história foi o flautista Marcelo Leite que já tocou em participação especial na Orquestra Contemporânea Brasileira em 2016. A OCB é regida pelo seu idealizador, Maestro Arley França, que é fruto da Escola Padre Piamarta, assim também como Marcelo.

A Orquestra Contemporânea Brasileira pode se apresentar em dois formatos: sinfônica que é composta a partir de 45 músicos ou no formato de câmara, com cerca de 25 músicos. E o que demanda a formação é o repertório.

Quem explica o nome da orquestra é Arley França, “A música do século XX é chamada moderna ou contemporâneo, mas no nosso caso está menos ligado à história da música e mais pelo fato de não se fechar a uma ideia, tornando-a mais próxima da plateia. Ou seja, pode tocar com um acordeon como teremos no dia 23 de junho com Rodolfo Forte. O sinfônico delimita, já o contemporâneo permite que ela dialogue com o tempo que está vivendo”. “Uma orquestra do século XXI não pode pensar com a cabeça do século XVI”, pontua.

A orquestra é mantida pela Associação dos Amigos da Arte, uma entidade nacional, e também por meio do Sistema Brasileiro de Bandas e Orquestras – Sinfonia.Br. Ambas são instituições culturais que mantém projetos a partir de editais lançados por empresas privadas e públicas.“Há também o patrocínio da EDP – Energias do Brasil, via lei de incentivo e Cineteatro São Luiz”, registra.

Em um domingo de manhã, na fila do Cineteatro, o programa em minhas mãos continha: Verão – Quatro Estações – Antonio VIvaldi, Concerto Brademburguês N.3 – Johann Sebastian Bach, Concerto Grosso N.4 – Arcangelo Corelli, O Gaúco (Corta-Jaca) – Chiquinha Gonzaga e o fechamento com Humberto Teixeira (Seleção de balões). Junto a mim e minha família, centenas de pessoas que lá estavam em detrimento às outras opções da cidade. Mas me pareceu especial, devido a falta de investimento nessa linguagem, que tantas pessoas fizessem o mesmo. Somente as duas últimas fileiras de cadeiras não tinham expectadores. Todo o restante estava ocupado. Ocupado e satisfeito.

E essa geração não foi devidamente orientada para manifestação artística tão civilizatória, cuidemos dos que virão. “Tenho uma preocupação”, disse o Maestro. “O músico iniciante precisa ter contato com músicos profissionais. E é algo que não abro mão porque as crianças precisam ir a concertos profissionais e precisa tocar com esses profissionais. Por isso é preciso formação constante”, diz.

A orquestra, então, está criando núcleos em vários municípios cearenses. Há seis municípios em processo de formalização, que se somarão aos já implantados em Pindoretama e em São Gonçalo do Amarante. Nesse último, há 100 matriculados para uma meta de 160 alunos.

Pergunto ao Maestro onde ele quer chegar. “Consolidar a orquestra como uma referência no cenário da música nacional e internacionalmente, e criar núcleos nos 184 municípios”, é a resposta. Quem sabe manter esses músicos aqui, se houver mercado, provoco. “É, o pessoal tá indo embora. Eu não vou porque ainda acho que dá pra ficar e fazer a diferença”, comenta.

Muitas orquestras pararam por falta de financiamento ou se apresentam irregularmente, movidas pelo heroísmo. É civilizatório que a OCB chegue nos 184 municípios. É importante que o Maestro excursione pelo exterior. É importante que todos os músicos passeiem pelos mais diversos teatros do mundo. É importante que provoquem todo o Nordeste. Mas é importante que possam voltar. Porque na música a vitória só se dá quando todo mundo chega junto.

Obs.: Escolas públicas e privadas podem entrar em contato com o Cineteatro e agendar a participação gratuita nos concertos, chamados didáticos, dentro dos quais os jovens são apresentados aos instrumentos, à função de cada um dentro da orquestra, à função do maestro, além de participar de um concerto interativo dentro do qual alguns são convidados a subir no palco para reger ou sentar ao lado de um músico

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Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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