Carlos Santana é incansável. Com 50 anos de carreira, que passaram por altos e baixos, ele consegue ainda surpreender e apresentar um fôlego invejável para muito dos seus companheiros de geração. Um aprova disso está em seu novo disco. Africa Speaks, 25º álbum do guitarrista mexicano, é pura fúria, energia e virtuosismo. Seus dedos ágeis e sua mente criativa criaram um repertório que faz frente aos clássicos dos anos 1960 e 70. No lugar do elenco gigantesco de convidados nos premiados Supernatural e Shaman, Africa Speaks traz apenas com os vocais brilhantes de Buika e a percussão precisa de Cindy Blackman, esposa de Santana.

Quando eu digo “apenas a voz de Buika”, me refiro somente ao número, pois esta espanhola de 47 anos é dona de uma personalidade vocal e de timbres roucos dramáticos dignos de aplausos. Com sua interpretação visceral, a premiada intérprete figura perfeita no repertório de Africa Speaks e duela corajosamente com a guitarra de Santana e com as baquetas de Blackman. Com quase tudo gravado no primeiro take, o álbum inspirado nos sons africanos teve produção do experiente Rick Rubin e valoriza espontaneidade entre os músicos, como se todos tivessem seu espaço para mostrar o que sabem fazer. Misturando rock, jazz e latinidades, o disco tem momentos poderosíssimos de improvisos em faixas que (na maior parte) passam dos cinco minutos, podendo chegar a nove, como é o caso de Blue Skies, um spiritual sinuoso, com levada jazzy, que explode num improviso de guitarras digno de mestre.

A menor faixa de Africa Speaks é Breaking Down The Door, com quatro minutos e meio de balanço latino bem marcado. É difícil ficar parado sem se deixar levar pela batida, assim como em Batonga, que chega devagar com as baquetas de Blackman à frente, até que que Santana entra cortando tudo com notas estridentes. Buika, se impõe com frases curtas e repetidas que deixam o ritmo da canção falar mais alto. Além de executadas, as 11 faixas de Africa Speaks foram compostas por Buika e Santana – e parceiros como Mano Chao, entre muitos outros. Por si só, isso já explica a química perfeita entre voz, guitarra e percussões do disco.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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