Foto: divulgação

 

Por Hamilton Nogueira

Renan Ramos já não se impressiona mais com um monumento ao vinho que o impactou na primeira vez que chegou em Bordeaux (FRA). Mas na primeira vez que lá esteve, há alguns anos, a imagem o chamou muita atenção ao sair do aeroporto, juntamente com os sons da cidade que, segundo ele, respira cultura, “principalmente música”. Isso foi há cerca de dois anos.

Renan Ramos (35) é de Candeias na Bahia e toca trompete desde os 16 anos tendo começado na Sociedade Filarmônica Lira Candeense. Começou acompanhando axé e veio para Fortaleza tocar no Fortal com 19 anos. Surpreendido com o apelo de um amigo que “a cidade tem saxofonista, clarinetista, mas precisa de mais trompetista”, ligou para a mãe e deu aquela má notícia inevitável que sai da boca de todo mundo um dia, “vou seguir meu rumo”.

Componho esse texto ouvindo Marcos Lessa cantar Frank Sinatra acompanhando pela Big Band da Unifor, cujo trompetista é Renan, no Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga, do qual participou três vezes. Conversamos por cerca de 30 minutos. Eu em Aquiraz, ele em Paris, onde faz ponte para Bordeaux, o destino final. Quem o ajuda a transpor os mundos é sua namorada Céline Guillaumeaud que conheceu na Praia do Futuro, em um momento de descanso.

Pergunto onde ele está, o que faz, e percebo que recorre a ela continuamente: para soletrar locais, conectar acontecimentos, entender os rumos que escreve em tão longe e frio lugar. “Ma chérie”, “d’accord” e “dous ans” entrecortam a conversa. Ora porque se dirige a ela para me responder, ora porque reproduz para mim algo dito por ela. Jet Lag parece estar presente, uma vez há poucos dias eu assistia no Café Couture – uma das ilhas de excelência musical da cidade – um tributo a Chet Baker cuja banda era composta por Adriano Oliveira (piano), Andre Benedecti (bateria), Claudio Miranda (baixo acústico), Oscar Arruda (voz, guitarra) e Renan Ramos (trompete), sem esquecer a brilhante participação especial de Márcio Resende no sax.

Oscar Arruda, Márcio Rezende e Renan Ramos no Couture (Foto: divulgação)

No set list do delicado e imperdível show estão There will never be another you, Almost blue, But not for me, The more I see you, My funny valentine, I’ve never been in love before, Let’s get lost, Look for the silver lining, Everything happens to me, Autumn leaves, All the things you are e Tenderly. Para quem quer conhecer mais o personagem, sugiro o simples e eficaz filme Chet Baker, a lenda do Jazz, no Netflix.

Sobre influências: “Miles Davis, Dizzy Gillespie, Chet Baker, sem esquecer o samba, o choro, a bossa nova, nosso grande Pixinguinha. E tenho uma admiração especial pelo brasileiro Cláudio Roditi”. Em Fortaleza, além da Big Band, atua na Osuece. “Passei um bom tempo fazendo três shows de quinta a sábado toda semana em cerimônia com Ludmila Amaral. Duas ou três vezes por semana ia a estúdio para gravar EPs que sempre precisam de trios de sopros. Ensaiava com a Uece toda sexta a partir das 14 horas e com a Big Band, segunda e quarta das 13h as 16 horas”, conta.

Enquanto se prepara para a última perna da viagem Paris-Bordeaux, sob um frio de 7 graus, Renan aguarda o e-mail do Conservatório Jacques Thibaud (Bordeaux), onde pretende estudar durante três anos a partir de setembro de 2020. Enquanto isso escuta os sons da cidade que “tem muito bom gosto pra arte”. Uma fala mansa, sempre consultando sua “chérie”, lembra do curso de harmonia e improvisação com o “amigo e professor Lucas Marden que muito me ajudou” e do seu primeiro contato com o jazz na França que foi no “L’Apollo Bar improvisando e tocando com músicos que têm seus grupos e se encontram lá”.

O trompetista, talvez pela necessidade jazzística e instrumental de ser rápido na digitação e troca de embocadura, passeia por diversos cenários. Uma pergunta sobre algo ambientado na cidade de Fortaleza gera uma resposta ambientado em vários lugares, os quais são checados com Céline, cuja voz posso ouvir a certa distância enquanto ele fica em silêncio.

Pra finalizar pergunto sua relação com a cidade a cerca de duas horas da capital francesa. “Quero morar aqui. Eu me encontrei em Bordeaux. Te agradeço o contato e vou voltar com novidades. Quero já, já estar em Fortaleza para que mais gente conheça o tributo a Chet Baker. Não é, chérie?”.

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Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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