Foto: divulgação

Por Mimi Rocha, guitarrista

Pra quem, ainda muito jovem, foi elevado ao status de “Deus“ pelos fãs em muros londrinos no final dos anos 1960, Mr. Eric Clapton me passa mais a imagem daquele tiozão que sempre reverência os seus ídolos, mestres, e está sempre cercado de novos talentos que ele abraça, traz para perto, alimenta e os deixa voar.

Após sair do Cream e abandonar a pecha de guitar hero, ele procura na canção pura e simples a sua salvação, se juntando a grupo de músicos com influência mais de folk, country, baladas e até novos ritmos como o que viria a se chamar de “reggae”, que ele ajudou a popularizar com sua versão definitiva de I Shot The Sheriff do ainda desconhecido Bob Marley.

 

A partir de então, fazendo discos desse seu jeito, com muitos convidados – inclusive sempre dois ou três guitarristas, alguns que inclusive ele deu uma mãozinha boa como Albert Lee, Robert Cray, Andy Fearwether Low, Stevie Ray Vaughan, Doyle Bramhall II, John Mayer, Gary Clark Jr…

Sua amizade com George Harrison, apesar da traição que rendeu o hit Layla, vem de tempos de farra e do solo incrível em While my Guitar Weeps do Álbum branco, onde foi chamado para “salvar a faixa” e fazer os três Beatles terem interesse em tocá-la. Tocaram juntos em vários álbuns de cada mesmo sem o crédito pois era vetado pelas gravadoras na época. A homenagem e reverência que Clapton fez tocando no concerto póstumo em homenagem ao amigo morto é uma das coisas mais comoventes (sempre choro quando revejo) do showbiz e mostra que as ideias zen de George ficaram como herança desse tempo juntos.

Sempre solícito também em dar uma mãozinha nos trabalhos dos amigos, e entre inúmeros destaco dois: no primeiro disco solo de Roger Waters (aquele da moça nua pedindo carona na capa), ele está sempre ali meio sútil mas experimente imaginar as músicas sem sua guitarra. A outra é o incrível solo em I Wish It Would Rain Down, até hoje um hit de FM do Phil Collins, assinatura maior impossível.

Sua fase acústica, onde uma tragédia pessoal lhe rendeu mais um hit, Tears in Heaven (sobre o filho morto), influenciou milhares de guitarristas a voltar pro violão.

A reverência aos mestres do blues e jazz também são marcas registradas e renderam boas versões e disco. Destaco a coletânea Blues, onde recria Jimi Reed, Elmore James, Freddie King, Otis Rush, Willie Dixon, T Bone Walker, releituras de standards (Somewhere over the rainbow, Autumn Leaves, How Deep is The Ocean). Os discos com BB King e J.J. Cale, e sua homenagem ao seu maior mestre Robert Johnson são obras-primas que também tiveram a missão de mostrar essas feras para turma nova que tá chegando.

Por último quero destacar seu trabalho humanitário com recuperação de drogados no Crossroads Center em Antígua, financiado através pelas edições do Festival Crossroads, onde seu cavalheirismo e humildade é mostrado sem cortes.

Vida longa, Slowhand!

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About the Author

Mariana Amorim

Jornalista, apaixonada por comunicação e envolvida com música! Acha que uma bela canção pode mudar o mundo. Coleciona livros, discos de vinil, imãs de geladeira e blocos de anotação. Apaixonada pelos garotos de Liverpool e pelo rapaz latino-americano.

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