“Viver nesse país, nesse mundo, nos últimos anos, eu acho que há um senso básico de ‘Me levante. Vamos nos erguer e sair dessa bagunça e tentar compreender algumas coisas’. Se há algo sombrio nesse álbum, não é para ser uma sensação de destruição iminente, é mais relacionado ao desejo humano por conexões. Algumas das músicas que são muito pessoais também se aplicam às questões mais amplas que estamos enfrentando. Da mesma forma, algumas das canções que dizem respeito a questões mais gerais, também soam bem pessoais”

Norah Jones

Como quase todos os artistas nesse período de isolamento social, Norah Jones tornou-se bem ativa em suas redes sociais através de lives. Adotou uma postura bem mais intimista (bem mais verdadeira que 99% das apresentações virtuais que andamos vendo). Sem grandes produções ou falsa aparência de isolamento a cantora, musicista, compositora e produtora (Ufa!!!) usava apenas violão e voltou ao piano (quantas saudades dessa fase).

Pick Me Up Off the Floor, que pode ser traduzido por algo próximo a “Levante-me do chão”, revela o sentimento inteiro do disco. Em entrevistas, ela chegou a dizer que só com o apoio do próximo à humanidade poderia ter alguma esperança. E que isso é refletido nas canções de seu trabalho que vem sendo adiado desde o início da pandemia.

A grande curiosidade por trás desse álbum, que embora possua uma temática intimista e triste, é o seu modo de criação. Após a última turnê, Norah não desejava entrar em estúdio e reiniciar o processo de produção que a leva a entregar um disco. Mas os vários contatos com músicos diferentes e personalidades de diferentes estilos musicais a permitiram pensar em algo que pudesse ser lapidado com calma e, tal como uma poeta clássica, refletisse cada verso e atravessasse uma escuridão pós-moderna para enfim encontrar a luz em sentimentos tão contraditórios em pleno 2020.

Norah fugiu da estética predominante nos seus últimos trabalhos. Do universo pop, a cantora americana trouxe de volta sua verve mais jazzística. E mais uma vez: quanta saudade da garota que dominou a música dos anos 2000 fazendo algo que estava em falta, boa música.

De todas as canções, uma se destaca: How I weep, que fala do sentimento de perda de forma sublime e poética. Encontramos ainda a participação de luxo do disco: Jeff Tweedy, do Wilco, em I’m alive, que aborda a questão do feminismo (tema mais que vital nos dias atuais).

Conversando com nosso amigo editor deste blog, Marcos Sampaio, ele me confessa que Norah Jones é atualmente única a cantora que o arrasta para ouvir algo do universo country. Marquinhos, ser puxado pela voz de Norah é tal como canto da sereia. Mas com a vantagem de retornar e contar para os amigos o que ouviu. Senhor editor, posso cravar que esse é o disco do ano?

Por Thiago Chaves, Professor da Unifanor-Wyden e colaborador do Discografia

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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