Erickson Mendes

Obs.: Seguimos com problemas pra inserir vídeos no blog. Espero voltar ao normal em breve

Domingo para músico, geralmente, é dia de folga. Dormir até tarde, um passeio na beira-mar e aquela pizza no fim do dia. Mas pra alguns é também dia de gig (apresentação musical). E foi a convite do meu querido Paulo Façanha e de uma amiga que aniversariava que espantei a preguiça e fui conhecer o Badubel. O bar ficava ali próximo a igreja de Fátima, mas poucos ainda o conheciam.

A fauna era composta por boêmios diaristas, os seguidores do Façanha, músicos ou cantores da noite, umas jovens fugindo do lugar comum dos pagodes e forrós da vida, e a turma que vinha do estádio já naquela base alcoólica. Logo de cara me apresentaram o dono do bar, Zé Maria, que todos chamavam de Bel, uma figura que lembrava o, na época, sumido Belchior. Bel, para minha surpresa, no fim da noite arriscava cantar – e bem – algumas músicas do citado menestrel cearense.

O bar era o típico e aconchegante “pé sujo”. Bel era dublê de arquiteto e mestre em obras, e o bar vivia em eterna reforma, cheio de gambiarras. Lembro do banheiro e do palco mudando de lugar várias vezes. Ele até arriscou fazer um segundo piso tipo camarote que logo virou a “Laje Mimi Rocha” pelo meu medo em subir lá é o troço desabar…

Vários músicos da Cidade e de fora passaram por lá no período que ficou “cult”. Entre 2010 e 2015, Manassés fez show. Pantico Rocha, Cristiano Pinho, Carlinhos Patriolino, Moacir Bedê, Neo Pinel, Chico Pessoa, Tarcisio Sardinha e alguns músicos de fora de passagem pela cidade. Lembro o famoso baterista da bossa nova Cesar Machado, o baixista Zé Luís Maia (filho do Luizão Maia, baixista da Elis), o cantor e instrumentista Junior Meireles, todos subindo ao palco nas concorridas canjas do domingo comandadas pelo Paulinho.

O ponto alto da noite, aliás madrugada, era a canja do Zé Maria Bel acompanhado por um cara tímido e que tocava violão chamado Erickson Mendes. Com o sucesso de Bel, principalmente entre os jovens, o convidei a participar de alguns projetos meus em bares. Tocamos no Altas Horas, Cais Bar Praia, Confraria Real, Bar do Papai, Cantinho do Frango,etc…

Em seguida fizemos shows da SecultFor, O primeiro em frente ao Estoril, outro na Praça do Ferreira e aí o grande “Tributo A Belchior”, em 2014 na Maloca Dragão onde ele dividiu o palco com artistas do quilate de Karina Buhr, Nayra Costa, Laya, Jonnata Doll e foi unânime entre todos que o Bel ia fechar a noite. Foi um super show com a Praça Verde lotada.

Em agosto de 2015 Zé Maria Bel nos deixou devido a complicações cardíacas que o acometiam há alguns meses.Sem ele, o Badubel perdeu o “clima” e acabou fechando pouco tempo depois.

A herança que ficou do bar continuou no violão e voz de Erickson Mendes, que dividia com Paulo Façanha as noites de sexta e domingo. Erickson começou ali tímido cantando sucessos de Zé Ramalho, Alceu, Fagner com uma voz marcante e um violão bem tocado. E foi crescendo em popularidade logo assumindo a carreira e sendo requisitado a tocar em outros bares.

Com a morte de Bel, Erickson começou a incorporar o repertório de Belchior e aí criou uma identidade que conquistou um público cativo. Começamos a montar juntos shows temáticos juntando sucesso dos cearenses (Fagner, Ednardo e Belchior) e dos nordestinos (Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo), mas foi com o show “Tributo à Belchior” que ele fez  nome na cidade, se apresentando em vários bares, shows em festivais, e na missa de corpo presente de Belchior.

Erickson era um músico autodidata tocava violão com um estilo bem pessoal, sanfona e teclado, sempre preocupado com um som bom. Me pedia dicas de instrumentos e pedais, sendo muito exigente. Na maioria da vezes levava seu próprio som para alguns bares.

Era um cara muito tranquilo e discreto, amigo fiel, sempre pronto a ir dar uma canja no show dos amigos, mesmo após tocar por várias horas antes. Era um apaixonado por música e cinema. Ele me chamava carinhosamente de “Salafra”, pois eu dava uns carões nele quando ele extrapolava o tempo contratado pra tocar e eu chamava ele de “Jura”, um cantor folclórico lá de Canoa que toca o dia todo todo dia.

Infelizmente perdi essa pessoa maravilhosa prematuramente, há uma semana. Erickson Mendes estava na sua melhor fase, recém casado com a cantora Munique Mendes, foi pai da Maria no início da pandemia e tinha muitos planos.

Eu toquei com Belchior por um tempo, com Zé Maria Bel outro, mas com Erickson eu queria tocar e conviver muitas vezes ainda…

Mimi Rocha é músico e produtor. Ele escreve nesse espaço quinzenalmente

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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