Cainã Cavalcante e Ricardo Bacelar (Foto: Davi Távora/ Divulgação)

A vida real tem cobrado um preço alto ultimamente. É pandemia, CPI, crise política, desmatamento, isolamento e mais um catatau de problemas a dar conta. Agora imagine que um trem para na sua porta convidando a uma viagem para um lugar mágico. Uma terra idílica onde a natureza floresce, pássaros colorem o céu, rios (despoluídos) correm, animais crescem e o tempo se estica até onde seu conforto pede. A única pressa é a das rodas desse trem em contato com os trilhos.

Ricardo Bacelar (foto: Davi Távora/ Divulgação)

Esse mundo imaginário é o que se chama de paracosmo, um universo criado para fugir da realidade. E esse é também o nome do disco que marca o encontro do pianista Ricardo Bacelar com o violonista Cainã Cavalcante. Amigos há muitos anos, eles nunca haviam tocado juntos. Aproveitando que Cainã – que mora em São Paulo há alguns anos – estava em Fortaleza, eles se encontraram para uma conversa, que acabou gerando as sete faixas inéditas que eles assinam em parceria no disco lançado nesta sexta-feira, 28, nas plataformas de streaming. Em breve, Paracosmo também ganha edição em CD.

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“O Cainã estava de férias aqui e chamei pra ele fazer uma visita no meu estúdio. A gente nem ia tocar, mas estava tudo ligado por que estávamos testando umas coisas. Ele veio e trouxe o violão. A gente começou a tocar e já saiu a primeira música”, lembra Bacelar. Tomando gosto pela facilidade da primeira, eles fizeram outra na mesma sentada. “A gente foi apresentando os temas, tocando na hora. Nasceu assim, por acaso. Resolvemos fazer um single, depois era um EP e depois um álbum. Em dois dias, nós compomos e gravamos as sete músicas”, completa o pianista que ainda acrescentou teclados e percussão.

Cainã, que além do violão, toca baixo em Paracosmo, confirma que tudo foi por acaso. “O Ricardo chamou pra conhecer o estúdio, tomar um café. Eu sou um cara que conheço um pouco de áudio, sou curioso, mas tem a parte que eu não conheço. Comecei a mexer, perguntar e estava tudo armado. Ele chamou pra tocar e eu disse ‘na hora’. Ele sentou na sala do piano e eu na do violão. O fato é que a gente sentou e compôs uma música. ‘Vamos tocar mais uma’ e fizemos outra. Bicho, agora a gente vai ter que fazer um disco. Em duas tardes, compomos o repertório do disco inteiro. Uma das faixas chama-se Valsa do cansaço, por que já eram mais de 23 horas, e a gente gravando”, relembra empolgado e satisfeito.

Cainã Cavalcante (Foto: Davi Távora/ Divulgação)

O nome Paracosmo foi uma sugestão da filha de Ricardo, a Sara, de 11 anos, e retrata bem esse mundo perfeito e imaginado que o disco apresenta. Se a primeira faixa (Vila dos Pássaros) é a viagem, a segunda é a chegada nessa paisagem meio interiorana que desacelera toda tensão. “É um disco que tem muitas imagens sonoras. Ele lembra algo de Naná Vasconcelos. É uma outra realidade. O disco trata disso. A gente fez em outra realidade, no meio da pandemia”, define Cainã.

Ora moderno e expansivo, ora clássico e íntimo, Paracosmo marca também a estreia do selo Jasmin, projeto de Ricardo Bacelar que nasceu junto com o novo estúdio. “Me concentrei muito em lançar o selo, que é próprio pra eu lançar meus trabalhos ou o que eu venha a produzir. A intenção é reunir um catálogo. Eu quero gravar e lançar produtos que tenham vida útil mais longa. Tem muita música sendo gravada, mas as pessoas ficam se autoproduzindo e fica muito pulverizado”, explica ele.

O primeiro single de Paracosmo, Vila dos pássaros já ganhou clipe e foi incluído em playlists do Spotify e da Apple. O álbum, que traz ainda homenagens à esposa de Ricardo (Manoela) e ao pianista Lyle Mays, falecido no ano passado (Lyle), terá lançamentos ainda nos Estados Unidos e Japão. “Foi uma experiência muito boa por que é um disco muito despretensioso. E por isso ficou com um clima muito verdadeiro. As músicas fluíram muito naturalmente e aproveitamos os primeiros takes por que estavam mais emocionados”, comemora Bacelar, revelando que só tem uma faixa foi além do terceiro take. “É uma realidade paralela, uma realidade imaginária. A gente imaginou assim: como as pessoas estão trancadas, pra abstrair esse momento, criamos um paracosmo pra ter outra experiência de realidade”, encerra o pianista.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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