Por : Márcia Neri

Quem, em algum momento da vida, nunca sentiu dor? Por mais que corpo e mente estejam em ordem, a incômoda sensação invade, uma hora ou outra, o cotidiano de homens, mulheres e crianças. Embora seja extremamente desagradável, a dor tem lá seu lado positivo: é um alerta de que há algo errado no funcionamento do organismo. A quiropraxia, prática da área da saúde muito comum nos Estados Unidos, mas ainda pouco conhecida no Brasil, tem se revelado um alento para os que sofrem com dor, seja ela aguda, crônica ou recorrente, resultado de lesões ou processos inflamatórios. Assim como médicos e enfermeiros, o quiropraxista é um profissional habilitado em curso universitário. Ele se dedica a diagnosticar, tratar e prevenir danos nas articulações que interferem ou estejam relacionados com distúrbios da biomecânica. O tratamento é conduzido por meio de uma abordagem não invasiva, que inclui desde técnicas de uso das mãos até programas de exercícios, aconselhamento nutricional e modificação do estilo de vida. A quiropraxia entende que a boa saúde é resultado do funcionamento adequado do corpo, especialmente do sistema nervoso. Como os hábitos da humanidade mudam com o passar do tempo, a prática vem evoluindo desde que as primeiras manobras foram executadas pelo americano Daniel David Palmer, em 1895. Hoje, os profissionais contam com o auxílio de instrumentos proprioceptivos — blocos e ativadores que ajudam a estimular o equilíbrio e um melhor posicionamento da pessoa. “O profissional da quiropraxia compreende que o organismo tem um poder natural para recuperar a si mesmo, por isso o tratamento não inclui o uso de drogas ou de cirurgias. Casos extremos de pacientes que necessitam dessas intervenções são encaminhados para atendimento médico”, pondera Janice Cavalcante, quiropraxista da Clínica Internacional da Coluna. Enxaquecas, dor coluna cervical ou lombar, hérnia de disco, artrite, bico de papagaio e dor ciática são as queixas mais comuns daqueles que recorrem aos consultórios quiropráticos. O quiropraxista americano Roger Dunn atua no Brasil há quase uma década. Segundo ele, no primeiro contato com o paciente é realizada uma avaliação que leva em consideração o histórico da pessoa e a análise dos hábitos de postura, como a maneira de andar, sentar e dormir. Além disso, são verificados exames de imagens e feitos testes estáticos, dinâmicos e de palpação que identificam as desordens na coluna vertebral e nas demais articulações do corpo. “Nosso organismo trabalha para não sentirmos dor. Quando existe alguma alteração, seja ela decorrente de acidentes, de esforços repetitivos ou de má postura, partes desse sistema passam a compensar o dano. Isso cria tensões e desordens em regiões próximas ou distantes da área subluxada”, pontua. Roger lembra que, uma dor de cabeça, por exemplo, pode ser reflexo tanto de um desalinhamento nas vértebras do pescoço quanto de uma disfunção na articulação temporomandibular, que liga o maxilar à mandíbula. Cada parte da coluna tem enervação para uma área do corpo. “Quando o desalinhamento é na cervical, pode causar danos aos braços e provocar cefaleia. A subluxação na região dorsal resulta em problemas respiratórios e na lombar compromete o sistema digestivo, acrescenta Janice.
A advogada Adriana Guimarães Costa, 41 anos, levou um tombo dentro de casa e lesionou o cóccix. Além da dor sentida no momento da queda, o acidente provocou limitação nos movimentos no decorrer dos dias. “Fui ao médico e exames constataram que não havia fraturas. Passei quase duas semanas sofrendo, não conseguia andar ou sentar e acordava no meio da noite sentindo dor. Um amigo indicou um quiropraxista e resolvi tentar. Na primeira sessão, me livrei do incômodo”, relata. Adriana conta que a coluna também lhe trouxe momentos difíceis há alguns anos. “Travei completamente. Não conseguia me mexer. Quem já passou por isso sabe o quanto é difícil e desesperador. Mais uma vez, recorri à quiropraxia. Depois disso, já resolvi uma cefaleia decorrente de tensão no pescoço e nos ombros. Os benefícios são tantos que vou ao consultório uma vez por mês para fazer os ajustes”, destaca.

Cuidado
A maioria dos problemas são amenizados em cinco sessões. Os ajustes aplicados em cada paciente dependem da idade e do problema tratado. Idosos, crianças e pessoas com osteoporose recebem um tratamento mais leve. “As manobras não causam dor, mas em pacientes com câncer, infecções agudas e hérnias discais, elas são substituídas por outras técnicas, que trabalham os músculos e articulações sem que o corpo seja movimentado”, especifica Dunn. Ele assegura que, quando conduzida por profissionais com a devida formação, a quiropraxia não traz riscos e pode, inclusive, prevenir doenças. O problema é que, no Brasil, muitas pessoas se dizem quiropraxistas sem ter a formação. “São falsos profissionais, que aprendem a dar trancos em cursos de fim de semana e se dizem quiropraxistas, o que expõe os mais desavisados ao risco. A prática é nova no Brasil e o paciente que se entrega nas mãos de qualquer pessoa pode ter os sintomas piorados ou ainda adquirir outros problemas”, alerta. A estudante Maria de Fátima Gomes, 30 anos, tinha dores na coluna e no pescoço que a atormentavam desde a juventude, mas um acidente fez com seu estado piorasse — e muito. “Fui atropelada e sofri uma lesão na perna direita. Depois de um ano tentando recuperar meus movimentos com sessões de fisioterapia e medicamentos fortes, resolvi procurar a quiropraxia. Tinha falhas na movimentação da perna, que simplesmente não respondia ao meu comando”, revela. “Confesso que estava desconfiada, descrente até, mas na primeira sessão já senti muita melhora. Depois de três ajustes, era outra pessoa.” A quiropraxia também ajudou Fátima a amenizar um problema muito comum para as mulheres: a cólica menstrual. “Elas eram intensas, terríveis. Hoje, quase não sinto mais esse incômodo. Também passei a dormir melhor, porque ajustei a postura, aprendi a ter bons hábitos alimentares, a fazer exercícios. No começo, precisei de três sessões por mês. Atualmente, vou à clínica mensalmente”, comemora.

Fonte:  Correio Brasiliense.

About the Author

Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

View All Articles