Por: Ana Luiza Machado

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), mais conhecido por derrame, tem um histórico assustador. A doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das que mais causam limitações funcionais em todo o mundo, onde 30% a 60% dos pacientes ficam com os membros superiores comprometidos, além de ser, no Brasil, a responsável por 40% das aposentadorias precoces e líder em mortes. Baseada nestas informações a professora- doutora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Kátia Karina do Monte-Silva desenvolve estudo para promover a reabilitação funcional de pacientes pós-AVC com sequelas nos membros superiores, aplicando gratuitamente técnicas pioneiras no Norte Nordeste. Apesar da incidência da doença, o laboratório ainda dispõe de vagas para novos pacientes.

“É impossível deixar a pessoa com a mesma mobilidade de antes do AVC porque houve uma lesão, mas trabalhamos para que ela volte a ser independente. É o que chamamos de reabilitação funcional”, explica KátiaKarina. Durante as sessões no novo laboratório de neurociencia aplicada da UFPE, ela utiliza técnicas que potencializam os efeitos da fisioterapia e algumas delas foram aprendidas durante o doutorado que fez na Universidade Georg August, em Göttingen, na Alemanha e no estágio no Institute of Neurology da Universidade College of London, na Inglaterra. “As novas técnicas são baseadas em estudos recentes da neurociência. Antes, não se sabia ao certo o porquê das respostas do organismo a um exercício. Hoje, com o avanço da ciência e da tecnologia, já se sabe como o cérebro funciona após o AVC”, afirmou.

Segundo a professora, os dois hemisférios do cérebro de uma pessoa que nunca teve um derrame “vivem” em constante disputa, um tentando inibir o outro. Já no cérebro de quem sofreu um AVC, essa disputa passa a ser desigual, pois o hemisfério que está comprometido continua sendo atacado pelo outro que não sofreu nenhuma lesão, e isso compromete a recuperação do paciente. Daí surge a técnica de restrição, que visa inibir ou imobilizar o lado “bom” durante seis horas do dia para forçar o paciente a voltar a usar o lado doente. “É um erro os pacientes “esquecerem” o braço lesado, por exemplo, passando a fazer todas as suas atividades com o que não tem problema. Fazendo isso, eles estão dificultando a própria recuperação”, disse Kátia Karina.

Outras técnicas como a de Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), considerada não-invasivas, indolor e com poucos efeitos colaterais, estimulam a área específica do cérebro onde ocorreu a lesão, diferente dos remédios que atuam em todo o organismo. De acordo com a intensidade e duração da corrente aplicada, o terapeuta pode promover a diminuição ou o aumento da atividade cerebral da região. No caso do paciente pós-AVC, as duas regiões cerebrais recebem a estimulação, só que com finalidades diferentes. A prática mental, também aplicada no laboratório de neurociência, através da descrição detalhada de uma atividade, ajuda a reativar o planejamento motor do paciente, desativado pela não realização. “Quando passamos muito tempo sem realizar uma atividade o nosso cérebro também não planeja. Estudos mostram que o simples ato de planejar já envia um estímulo para o cérebro para que ele realize”, explica a pesquisadora do laboratório de neurociência aplicada da UFPE, Giselle Machado.

Vagas – Severina Josefa Duda, de 72 anos, vítima de AVC em maio último, terminou o primeiro módulo da reabilitação oferecido pela UFPE durante um mês e está surpresa com os resultados. “Tive o lado direito do corpo todo comprometido, meu braço vivia dormente, eu não conseguia pegar nem em uma colher, pensei que nunca mais ia fazer nada. Nem o meu cabelo eu penteava. Agora, até penteado eu faço e voltei a fazer as coisas de casa e não dependo mais da minha filha, a minha recuperação foi rápida”, comemorou.

A situação do aposentado Edvaldo Eliotério dos Santos, 59, que sofreu um AVC há cinco anos, é outra. Ele chegou recentemente ao laboratório e sabe que o normal é o organismo responder aos estímulos de forma lenta, por isso não falta a uma sessão. São cerca de 30 minutos de fisioterapia convencional três vezes por semana, onde o corpo é trabalhado de forma global, seguido por 1h30 de técnicas específicas nos membros superiores. “Quando eu cheguei, tudo o que eu pegava caía. Mas com os exercícios de coordenação já estou bem melhor”, contou Santos.

Apesar das técnicas aplicadas serem consideradas o que há de mais moderno, dos resultados alcançados serem tidos como excelentes e o tratamento oferecido gratuito, ainda é pouca a procura de pacientes. O laboratório de neurociência aplicada da UFPE possui várias vagas disponíveis e os interessados podem se inscrever às segundas, quartas e sextas-feiras, das 8h às 12h e das 14h às 16h, pelos telefones (81) 9103-4199 ou 8824-1448.

Fonte: www.diariodepernambuco.com.br

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Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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