Por: Isaac Ribeiro – repórter

Uso constante e excessivo de salto alto causa deformidades na panturrilha e nos dedos dos pés, além de problemas posturais e dores nas pernas

Um dos maiores símbolos da feminilidade é, sem dúvida, o salto alto. Sinônimo de elegância e poder para elas, o acessório é peça fundamental no guarda-roupa da maioria das mulheres. Algumas, por estilo ou imposição profissional, são obrigadas a usar salto todos os dias da semana. O problema está justamente aí! Estudos recentes indicam que o uso continuado desse modelo de calçado pode causar sérios problemas às usuárias.

As pesquisas realizadas pela Manchester Metropolitan University e pela Universidade de Viena constataram um encurtamento das fibras e dos músculos das panturrilhas daquelas que usam salto alto o dia inteiro, durante toda os dias semana. Os pesquisadores analisaram onze mulheres, usuárias constantes de salto alto de pelo menos cinco centímetros, cinco dias na semana, durante dois anos ou mais. As estruturas óssea e muscular delas foram investigadas.

Entre os problemas verificados nessas mulheres, percebeu-se que elas eram 13% mais baixas do que as que não usavam salto alto. Seus tendões de Aquiles — conexão entro o osso do calcanhar e o músculo da panturrilha — também eram mais curtos do que os das demais.

Outras consequências da sobrecarga imposta pelo uso dos saltos são deformidades nos joelhos e nos dedos do pé, problemas posturais e dores nos membros inferiores.  Fazer com que as mulheres deixem de usar salto alto é algo, digamos, utópico. Porém, existem maneiras moderadas de uso, indicadas por especialistas.  De acordo com a fisioterapeuta Aline Brito, os calçados de salto alto devem ser usados de forma alternada, por três vezes na semana, no máximo, e durante quatro horas diárias.

“Os tipos de salto também são importantes. O ideal é que sejam largos ou plataforma. Mas mesmo assim, também tem prejuízo. O salto de plataforma é melhor porque também levanta a parte anterior do pé, mas por outro lado, ele causa mais torção. E como o pé fica menos flexível, também pode alterar a circulação.  É o mais ideal, mas não é ainda o ideal”, comenta a fisioterapeuta.

Salto alto atrofia panturrilha

O uso continuado e constante do salto alto inibe a movimentação do músculo da perna, responsável pelo retorno sanguíneo, alterando, consequentemente a circulação na região. De acordo com a fisioterapeuta Aline Brito, uma dos resultados é a atrofia da panturrilha, que é a musculatura posterior da perna. “Isso porque o salto faz com que você menos tempo com o pé no chão.”

Ela explica que quando a mulher caminha de salto alto a musculatura das panturrilhas é forçada a trabalhar mais e acaba ficando retraída durante todo o tempo de uso. A sobrecarga exercida pelo salto é depositada inteiramente na parte anterior do pé. Em vez de ser distribuído no membro como um todo. “Quanto mais alto o salto, maior a sobrecarga e maior o prejuízo.”

O salto alto faz também com que o joelho fique mais voltado para dentro, mais interno; mas sem maiores prejuízos. “É mais a parte postural, de encurtamento muscular, de retração, atrofia do tendão. Aí tem que fazer fisioterapia, tratamento com gelo, alongamento. Mas o maior prejuízo é postural”, indica Aline Brito. Ela alerta ainda que crianças e adolescentes não podem usar salto alto enquanto estiverem na fase de crescimento. Existem estudos feitos com os que os jovens que usam e os que não usam, onde ficaram comprovadas alterações no crescimento tanto ósseo quanto  muscular.

Voltando às mulheres adultas, se não há uma forma de elas evitarem o uso prolongado do salto alto, que pelo menos ele seja abaixo dos cinco centímetros, pois não causam tantos prejuízos à saúde. “Acima disso é que causa todos esses prejuízos. E o salto agulha é ainda pior!”, comenta a fisioterapeuta. “Isso cria joanete também, que na verdade são calos ósseos. Uma vez formados, por mais que se faça cirurgia, esses calos vão voltar. E isso é provocado pelo mal posicionamento do pé”, explica.

Além do salto ser abaixo quatro centímetros, é fundamental o bico do sapato ou sandália serem largos, para ficar mais confortável. Há uma indicação também para comprar calçados apenas no final do dia, período em que os pés estão inchados pela sobrecarga de peso ao longo do dia.  E para amenizar todos esses efeitos que o salto alto causa, tem que associar o seu uso com exercícios físicos regulares. “Deve-se também fazer alongamento de panturrilha. Você mesmo pode fazer, puxando o pé para trás, tentando alongar a parte posterior da perna, além de massagem nos pés, para liberar os tecidos; associando tudo isso à atividade física de  fortalecimento, para que sua musculatura esteja mais preparada para usar o salto”, recomenda Aline.

Mulheres reclamam de desconforto

Apesar de adorar salto alto, a jornalista e produtora de moda Gladis Vivane diz não conseguir usá-lo em seu dia a dia, preferindo algo mais confortável, como sandálias rasteiras e saltos tipo anabela, deixando os saltos mais imponentes para as badalações noturnas.“Incomoda muito e é desconfortável.” Mas como trabalha com moda, alguns eventos obrigam Gladis a usar salto alto por longos períodos. No outro dia, o resultado  são pés doloridos, calcanhares e dedos também.

Ela conta nunca ter sentido problemas mais sérios, como lesões ou torções; mas diz conhecer algumas garotas vítimas dos saltos. “É comum entre modelos. As meninas que usam salto acabam forçando demais algumas áreas do pé. Conheço umas com problemas de postura”, diz Gladis, que confessa ter uma certa fixação por esse tipo de calçado feminino.

“Eu coleciono. Tem alguns que compro para usar depois. Observo o design, saltos estilosos, cores exóticas”, revela a jornalista, que assina o blog Salto Agulha (www.saltoagulha.com) e a revista de mesmo nome.  Já com a jornalista Luciana Campos, a relação com os saltos altos vem desde a infância,  quando revirava sapatos e sandálias da mãe já em busca do melhor look. Editora do blog Elas (www. tribunadonorte.com.br/elas), no site da TRIBUNA DO NORTE, ela conta que o hábito de usar esse tipo de sapato já lhe causou alguns problemas.

“Minha perna está tão acostumada que quando uso sandálias baixas ela dói. O médico disse que o músculo da panturrilha está encurtado”, comenta Luciana, enfatizando ainda a preferência pelos saltos mais altos, entre 12 e 14 centímetros. “Gosto dos altões mesmo. Às vezes eu até caio”, diz, sorrindo.

Apesar de toda a paixão, a jornalista não tem uma coleção propriamente dita. Possui vários sapatos e sandálias de diferentes cores e modelos, mas os chamados “meia pata” estão atualmente no topo de suas preferências, pois além de salto alto ainda possuem uma plataforma na parte dianteira, na ponta do pé. Em uma análise rápida, Luciana Campos classifica o salto alto como um dos símbolos da feminilidade. “Tem a coisa do poder… Você fica mais alta, a auto-estima melhora.”

Bate-papo » Aline Brito – fisioterapeuta

Para algumas profissões o uso do salto alto é indispensável. O que fazer?

Se é inevitável o uso do salto alto, a gente tenta optar pelos largos, quadrados, tanto a parte anterior quanto a posterior, ou plataforma. Mas mesmo assim, a gente aconselha que faça um revezamento com salto baixinho, alguma coisa desse tipo. O uso contínuo de salto alto também causa aumento da lordose lombar, que é a curvatura da coluna, porque o centro da gravidade vai mais para a frente. Então, automaticamente vai aumentar a lordose, provocando um desequilíbrio músculo-articular, alterando a marcha e causando todo um problema postural na pessoa.

E quais são os danos futuros para a mulher?    
Os danos são posturais. Se ela não tem problemas, ela vai ter; pois vai provocar todos os problemas de musculatura, de postura, de equilíbrio. E se ela já tem problema, se é uma paciente que já tem um problema de coluna, postural ou de encurtamento, usando salto vai agravar mais ainda isso. E se não tem, com o uso a longo prazo do salto, ela vai ter. Geralmente as pessoas não deixam de usar salto alto porque o efeito não é imediato. É a longo prazo; aliás como todos os problemas de coluna. Não existe uma hérnia que surgiu agora, por exemplo. É a somatória de várias coisas erradas. E o uso do salto é um hábito postural errado; assim como pegar objetos no solo e levantá-los de forma errada, assim como sentar de forma errada

Fonte: Tribuna do Norte

About the Author

Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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