Por: Cristiane Albuquerque e Úrsula Neves

Uma parceria que dá certo há duas décadas, aproximando cientistas do Brasil e da França. Nos dias 14 e 15 de março, o simpósio Fiocruz-Inserm: 20 anos de cooperação científica celebrou a antiga – e produtiva – colaboração internacional entre o Instituto Nacional Científico e de Pesquisa Médica da França (Inserm) e a Fiocruz, que já resultou em mais de 60 projetos conjuntos. Durante o evento, algumas das parcerias mais recentes entre o Inserm e laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) tiveram espaço.

 

Os 20 anos de cooperação entre Inserm e Fiocruz foram decisivos para que outras redes se formassem, ampliando a conectividade e a interatividade entre grupos de pesquisa (Foto: Gutemberg Brito)

O pesquisador do IOC Wilson Savino e a pesquisadora do Inserm Gillian Butler-Browne apresentaram a experiência desafiadora de manter um laboratório binacional. Savino destacou o desenvolvimento de ações convergentes das duas instituições no aprofundamento e na solução das questões relacionadas à medicina e à biologia por meio de pesquisadores e de estudantes correspondentes. Ele ressaltou os benefícios do intercâmbio, permitindo o fluxo de pessoas e ideias de duas nações tão diferentes. “Essa interação intensifica a geração do conhecimento e a própria interpretação do conhecimento gerado”, enfatizou, ressaltando o impacto para estudantes de doutorado, mestrado e graduação. “É muito importante a possibilidade dos jovens adquirirem experiência de internacionalização do conhecimento”, afirmou.

Os estudos em andamento nesta incluem uma nova terapia com o objetivo de amenizar os efeitos do processo inflamatório da distrofia muscular de Duchenne (doença neuromuscular progressiva e destrutiva, que afeta principalmente meninos), desenvolvido com a colaboração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outra linha de pesquisa observa o efeito da laminina (proteína responsável pela estrutura e união das células do corpo) na migração, proliferação e sobrevivência de células humanas transplantadas. Também é investigada a indução de tolerância imunológica a células miogênicas (capazes de se transformar em células musculares) em camundongos imunocompetentes, com o objetivo de testar se as células desses camundongos se tornam permissivas a um implante de células humanas, sem rejeição imunológica.

Estratégias para a doença de Chagas

Acompanhada do pesquisador francês Jean-Jacques Feige, a pesquisadora do IOC Tania Araújo-Jorge apresentou o estudo colaborativo sobre o papel da citocina TGFß na doença de Chagas. “Desde os primeiros trabalhos até as investigações atuais, as grandes linhas de pesquisa sobre TGFß estão relacionadas à regulação da resposta imune, à invasão parasito hospedeiro, à modulação de ciclos intracelular do parasito e ao desenvolvimento de fibrose. Atualmente, temos um bom modelo tanto para a fase aguda quanto para a fase crônica da doença, que nos permite controlar e monitorar parâmetros, além de testar nesses modelos diferentes estratégias”, destacou. “No caso específico do nosso estudo, o TGFß está entrando na lógica de reguladores de patologia e nós temos a possibilidade de testar várias combinações”, concluiu.

A pesquisadora ressaltou importantes desdobramentos da parceria entre as instiuições. “Esses 20 anos de cooperação entre Inserm e Fiocruz foram decisivos para que muitos grupos de pesquisa na França e no Brasil passassem a colaborar e desenvolver linhas de pesquisa de grande importância. A partir deste núcleo, outras redes se formaram, ampliando a conectividade e a interatividade dos grupos de pesquisa brasileiros com grupos da rede Latino Americana e da rede de pesquisa Norte-Sul, em que a Europa tem um papel fundamental”, Tania destacou.

Hepatite B em foco

A pesquisadora Selma Andrade Gomes, do Laboratório de Virologia Molecular do IOC, juntamente com o pesquisador Christian Trépo, do Inserm, introduziram o projeto que investiga vírus da hepatite B (HBV) associados a casos de infecção oculta ou de resistência aos tratamentos antivirais. Selma falou sobre as diferenças nas taxas de prevalência em níveis mundiais de infecção oculta envolvendo o HVB e o HIV, que pode variar de 0 até 90% entre alguns países, e comparou a lamevudina (um dos primeiros medicamentos utilizados na terapia contra hepatite B, associado à alta resistência) com as drogas desenvolvidas recentemente e que apresentam uma baixa resistência.

Além disso, apresentou o trabalho desenvolvido pela equipe brasileira com pacientes de diversos estados mostrando que a lamevudina é empregada em mais de 80% dos tratamentos enquanto terapia ou em terapias combinadas. “As terapias combinadas são utilizadas para resgatar as mutações em lamevudina. Quando comparamos a amostra brasileira com as internacionais, observamos que a carga viral diminui e que os nossos níveis de positividade para o genoma viral são muito altos, inclusive com drogas mais eficientes” explicou.

Fonte: www.fiocruz.br

About the Author

Jorge Brandão

Fisioterapeuta, Osteopata, RPGista. Diretor da clinica Fisio Vida.

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