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Reprodução / Facebook

O ator, diretor de arte, artista visual e cineasta alagoano Euzebio Zloccowick, que morreu nesta quarta, 8, deixou um projeto audiovisual em pós-produção. O filme Xique-xique, produzido nos últimos dois anos, é resultado da instalação, montada em 2014, em que o artista radicado em Fortaleza, catalogou diferentes tipos de espinhos de cactos. Com cenas filmadas na casa da escritora Rachel de Queiroz, em Quixadá, a 158 km de Fortaleza, a ficção conta a história de um “homem-cactos”.

De acordo com a pesquisadora sonora Vivi Rocha, que trabalhou na captação e edição de som, o filme surgiu do projeto realizado no Porto Iracema das Artes e segue em processo de montagem. “Ele preferiu ir para o lado mais lúdico criando nomes para esses diferentes tipos de espinhos”, explica. Três vídeos, que mostravam a colheita dos cactos, foram registrados para a instalação. Além desse material, cenas inéditas filmadas no ano passado, também no sítio, ajudam a formar a ficção imaginada por Zloccowick.

A casa de Rachel de Queiroz, explica Vivi Rocha, foi escolhida por Euzebio como um símbolo do sertão. “Ele queria muito que fosse nesse lugar que a Rachel morou também por fazer 100 anos da Seca do 15 para homenagear o sertão”, diz. “É uma paisagem muito poética, muito bonita, apesar de ser essa imagem seca”. Conforme Vivi, o “desejo” do artista era “fazer essa ficção a partir da colheita”.

Euzebio Zloccowick e Vivi Rocha produziram juntos o curta-metragem “Sem Espinhos”, filme-intervenção realizado no Parque da Liberdade, no Centro de Fortaleza, em 2012.

Memória

O artista faleceu aos 56 anos. Ele tratava uma bactéria nos pés que se alastrou para o pulmão, resultando em problemas respiratórios. Pessoas próximas a Euzebio comentam que ele havia apresentado “grande melhora” antes de piorar na última semana. Ele faleceu na Praia do Francês, no município de Marechal Deodoro, em Alagoas, onde mora a mãe. O enterro foi na manhã desta quinta, 9, na mesma cidade.

Euzebio e Vivi Rocha trabalharam juntos no coletivo audiovisual Caratapa. “Eu acho que poderia descrevê-lo, como um amigo falou, como uma pessoa que ultrapassou e modificou a vida de muitas pessoas”, comenta. “Ele foi um profissional muito maravilhoso, muito dedicado. Fazia um trabalho muito minimalista”.

Para a cineasta e coordenadora da Escola Pública de Audiovisual da Vila das Artes, Rúbia Mércia, Zloccowick demonstrava “generosidade” em sua relação com a cidade de Fortaleza. “Ele tinha uma delicadeza incrível para todos os trabalhos, o que só fazia com que esses trabalhos fossem mais potentes e orgânicos. Havia uma relação de amor pelo que se estava fazendo”, comenta.

Mércia morou com Euzebio de 2013 até dezembro do ano passado, quando ele voltou para Alagoas. “Nós nos conhecemos em 2006 e, da amizade, começou uma relação de trabalho. Ele gostava de morar com pessoas com quem tivesse relação de trabalho”, continua. “Sempre foi muito bom trabalhar com ele, muito tranquilo e confortante. O processo de criação dele era muito forte”.

Conforme a cineasta, ele tinha uma forte relação com a cidade. “A própria forma dele de estar na cidade era marcante. Ele gostava muito de caminhar pelo Centro e costumava propor trabalhos que se relacionassem com o bairro. Por mais que não fosse daqui, ele adotou a cidade como se fosse dele”.

Zloccowick morou em Fortaleza por 20 anos.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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