(Foto: Daryan Dornelles)

Com mais de 30 anos de carreira e 14 álbuns lançados, Lenine se define como um colecionador de palavras e revela que as raízes pernambucanas estão sempre presentes em seu trabalho. “A gente tem essa coisa no Nordeste com o repente e as diversas modalidades do repente, essa possibilidade de você ter a rima dentro da rima, dentro da rima. Então isso é muito fascinante. As palavras são 50% do meu trabalho”.

Ganhador de cinco prêmios Grammy Latino e nove Prêmios da Música Brasileira, Lenine é engajado em assuntos políticos e de cunho ambiental e diz que sente liberdade e independência para fazer sua própria leitura da história.

“Todas as minhas canções são crônicas. Todas as minhas canções são reportagens. A partir do meu olhar evidentemente. Então, isso tudo me dá a sensação de que eu estou, de alguma maneira, fazendo história, através do meu olhar. Eu fico achando que daqui a 100 anos alguém pegue um disco meu e consiga compreender um pouco como era o tempo onde eu vivia.”

Ao relembrar o papel que a música ganhou desde cedo em sua vida, Lenine relata um episódio vivido na infância quando seu pai deu aos filhos o direito de escolher como se conectar com Deus. “A gente acompanhava a minha mãe à Igreja, ela ia à igreja todos os domingos, mas aos 8 anos de idade meu pai permitia aos filhos escolher que maneira se conectar com o divino. Ele dizia: ‘Sua mãe prefere a igreja. Papai prefere a música. Vocês escolhem a partir de hoje.’ Minha mãe perdeu todos os seus parceiros.”

A partir daí, durante todo o tempo que durava a missa, a família ficava em casa ouvindo música. “Acho que isso foi a minha grande universidade, a minha grande escola de música, que era ouvir bastante.”

Sobre o atual momento vivido no Brasil e no mundo, Lenine diz ter esperanças de que as pessoas aprendam com os próprios erros.

“Eu acho que a humanidade está precisando aumentar a turma do bem. Não é furo jornalístico as coisas que estão fazendo em benefício do ser humano. Só é furo jornalístico, o que dói, o que traumatiza, o que é morte. A gente está num momento com o país vivendo essa descrença generalizada, esse descrédito incrível entre os três Poderes. E isso dá uma angústia muito grande. Mas eu não sou desesperançoso, não. Acho que a gente tem possibilidade de aprender com os erros.”

Lenine diz que percebe a música como um instrumento de transformação. “Eu procuro a cada dia melhorar como ser humano. E eu acho que melhorar significa ter paciência, ouvir o outro”, afirma.

“Eu brinco dizendo que eu faço MPB – Música Planetária Brasileira. É tão bacana quanto compositor ver esse tipo de penetração, esse tipo de profundidade que a música me deu nas pessoas. Eu cheguei à alma das pessoas”.

Lenine é entrevistado do próximo programa Conversa com Roseann Kennedy, que vai ao ar na próxima segunda-feira (16), às 21h30, na TV Brasil.

Fonte: Agência Brasil

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About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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