(Foto: JR Franch)

Jaloo é cantor, compositor, produtor musical e ator. Ainda assim, o paraense de Castanhal quer se provar. Ele finaliza seu segundo álbum de estúdio. Intitulado ft (redução de feat, como se chamam as parcerias no mundo fonográfico internacional), o novo disco parte da colaboração de vários artistas e produtores em todas as faixas do registro.

Seu debut, #1 (2015), foi lançado pela Skol Music. Desta vez, ele trabalha de forma totalmente independente. As propostas vieram, mas ele escolheu o caminho mais difícil. Isso porque Jaloo quer resgatar sua raiz e entregar um trabalho sem depender de apoio institucional ou privado.

Em março deste ano veio “Say Goodbye“, o primeiro single da nova safra. Jaloo assume a produção da faixa com BadSista, nome artístico da produtora paulistana Rafaela Andrade. As parcerias já estão escolhidas, mas a finalização depende de alguns acertos de agenda. Nomes como Mateus Carrilho e Linn da Quebrada, com quem Jaloo diz estar “sempre criando” estão no radar, mas sem promessas.

Em entrevista ao Blog Repórter Entre Linhas, Jaloo conta como está a produção do disco ft, previsto para este semestre, e a decisão de não aceitar apoio institucional – além da experiência no filme “Paraíso Perdido“, no qual Jaloo interpreta um dos protagonistas, a drag queen Imã.

O próximo single já tem clipe pronto e deve sair nos próximos dias. Será a primeira vez que o artista irá dividir as vozes com outro vocalista. Agora, ele avisa: “Tudo que me tirar da zona de conforto eu vou propor”.

Jaloo no clipe de “Say Goodbye”, gravado na Índia (Foto: Graciliano Netão)

Como está esse momento pós lançamento de “Say Goodbye” e pré ft?

É um momento novo, estou totalmente independente. Esse disco tem essa missão, fiz questão de trabalhar independentemente. Não vou citar quais, mas muitas marcas e iniciativas queriam apoiar esse segundo trabalho. Decidi assim com o intuito de mostrar que é possível fazer um trabalho maduro sem depender de iniciativa, edital, coisas do tipo. E a resposta foi muito foda. Acho que “Say Goodbye” foi o single que mais caminhou com as próprias pernas. Não teve um centavo de marketing, de incentivo pra anúncio.

O que pesou para essa decisão de não aceitar apoio?

Sempre fui um artista independente. Meu trampo se deu dessa forma. Só que na época do #1, comecei a fazer parte do selo Skol Music, pelo qual sou muito grato. Era algo que parecia que eu tava devendo, por mais que eu tivesse feito parte de algo que foi muito bom para o meu trabalho. Queria voltar a isso e cumprir essa missão.

O que a experiência de artista independente te ensinou?

Eu acho muito foda porque surgi dessa forma. Então, acabou que meu trabalho foi algo que o público quis mais do que eu mesmo. Quando eu lancei o #1, não esperava que tomasse a proporção que tomou. E hoje faço parte de algo maior do que eu. Além disso, tem a questão do empreendedorismo. A gente tinha essa visão ingênua de que a gravadora entendia o que tinha que ser feito, mas hoje é o artista que acaba decidindo. Eu sou dessa base independente.

E como está sendo a produção do disco?

A expectativa é maior do que a minha força de trabalho pra concretizar. O público quer mais o disco do que eu, pra ser bem sincero (risos). Eu tenho algumas composições prontas há anos, em relação a melodia e letra. Mas produzir, deixar o trampo profissional, é um negócio muito desgraçado. É puxado. Gasta muita energia, muita dedicação e leva tempo. Tanto é que vários artistas têm hiatos enormes. Meu hiato é de três anos, é grande, mas eu trampo no meu tempo. Eu sinto que o público quer muito um trabalho novo e isso me dá gás pra seguir, pra me debruçar sobre o trabalho.

Em que fase da produção está o ft?

As músicas já existem. Agora estou finalizando. Tirei este mês de julho pra gravar vocal. Acho que até o final do mês eu termino. Aí é só questão de produção e algumas eu divido com outros produtores, essa questão de parceria é o carro chefe do ft. Aí entram os vocais dos parceiros também. E eu jogo pra vida o trabalho. Eu tô calculando que entre setembro e outubro vai tá na praça, mas é complicado. Depende do meu estado de espírito também. As coisas vão caminhar bem até o final do ano. E se, por acaso, o disco atrasar tenho singles prontos. Vai sair um single agora em julho e outro em setembro.

Leia também: A brasilidade pop de Jaloo

O que esperar do próximo single?

Vai seguir a linha do disco, que é virar as coisas de ponta a cabeça. Segui uma linha diferente de tudo que eu fiz no #1, e eu quero botar tudo pra jogo, pra discussão. Ritmos, linhas de composição, vocal. Tudo que me tirar da zona de conforto eu vou propor. Não vou dizer do que se trata, mas vai ser surpreendente em relação ao que já foi feito. É a primeira vez que vou dividir o vocal com outro vocalista. Então, posso dizer que já dei um spoiler. (Nesse momento,  pergunto sobre o nome da faixa e o cantor que fará parceria, mas não revela).

Você aparece sempre com Mateus Carrilho e Linn da Quebrada nos stories do Instagram. São nomes que podem estar entre os parceiros?

Com certeza. São pessoas que podem surgir… A gente se vê muito e estamos sempre compondo, criando. Se tudo der certo, a Linn ou o Mateus Carrilho podem entrar no disco. Mas vai que eu fico prometendo e no final não entra?

Você levou três anos pra lançar o segundo disco, mas muita gente aproveita o streaming pra trabalhar singles de forma avulsa. Como vê isso?

Sempre fui uma pessoa que consumiu muito disco, que ia da primeira à ultima faixa e que tinha envolvimento com a proposta. Só que de um tempo pra cá tô consumindo muito single. Belchior já dizia há anos que o novo sempre vem. Por mais que eu possa ainda ser aquele careta que fica falando que na minha época era mais legal, eu sempre me sacudo e abraço o novo, que é muito legal também. Isso reflete no meu trabalho.

Jaloo em “Paraíso Perdido” (Foto: Divulgação)

Como foi atuar no filme Paraíso Perdido?

Foi muito difícil atuar no começo. Eu não achava que daria conta, mas tem um dado momento que você percebe a magia que acontece, é tipo uma alquimia, uma união das pessoas que trabalham juntas. Sempre fui uma pessoa muito do backstage, que ficava mais na parte de produção do que à frente. Mas eu fui tomando a frente das coisas e o cinema foi meio um misto disso tudo porque aprendi os dois lados do negócio.

O clipe de “Say Goodbye”, por exemplo, tem uma linguagem bem diferente dos clipes do primeiro disco. Eu só olho pra câmera em um take. Isso de ignorar a câmera é uma coisa que eu não costumava fazer. Foi uma linguagem que aprendi com o cinema. Sou uma pessoa totalmente nova depois dessa experiência.

E você já tinha uma relação forte com o audiovisual, já dirigia os próprios clipes.

Sim, e a resposta em relação ao filme foi muito boa. Recebi muitos elogios. Mas continuo sendo produtor musical. Gosto de fazer show. A minha linha de frente ainda é ser musicista. Eu sempre vou dirigir clipe, sempre estarei no backstage também. Só que o momento agora é de se dedicar ao disco.

Jaloo (Foto: JR Franch)

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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