Emilia Clarke é Verena em “Voice From The Stone”

São muitos os filmes que se convencionaram como clássicos do horror gótico. Do começo ao fim do século XX, em especial no Cinema B, foram produzidos longas cultuados com o passar dos anos e que foram fundamentais para registrar uma época que jamais se repetirá no cinema.

Não que falte histórias para contar, mas essa extensão da literatura romântica nas telas rendeu vasta percepção do que pode ser produzido no gênero quando e principalmente há pouco dinheiro envolvido.

Corta para 2017. Outros tempos. O horror continua ganhando novas histórias e remakes aos montes. Há quem não esconda o saudosismo do que o gênero já foi. E não falo da cultura pop que ressuscita as mesmas histórias de tempos em tempos, mas da fórmula.

Voice From The Stone” (ainda sem título em português), de Eric D. Howell, resgata todo esse saudosismo do clássico conto sobre a estrangeira que descobre os mistérios que só uma temporada em um casarão pode proporcionar.

O filme se passa em 1950, na Toscana – região da Itália central. O ponto de partida é o trauma do pequeno (e rico) Jakob, que para de falar após a morte da mãe. É aí que a mother of dragons Emilia Clarke (Game of Thrones) entra na história. Ela é Verena, uma jovem enfermeira que conhecerá os segredos do lar à medida em que cumpre a missão de cuidar do garoto.

Baseado no livro do italiano Silvio Raffo, que leva o nome do filme (voz da pedra, em tradução livre), o longa de Howell bebe muito das narrativas e estética de histórias como as Edgar Allan Poe – que ganhou adaptações por Roger Corman. E as referências são várias. Lembrar das produções da Hammer também não é acaso.

O problema é que muito disso fez sentido no passado, e hoje não funciona tão bem. A começar pelo ritmo. Tudo é muito demorado e há uma necessidade evidente em criar um suspense que não se efetiva. Salvo um ou outro momento inspirado. É quase o mesmo mal de “A Mulher de Preto” (2012).

O longa também deixa de estabelecer uma estrutura prévia que o roteiro precisa ter para a chegada da protagonista. É grave que o filme não permita que esses laços se mostrem fortes suficientemente para vender o conflito da enfermeira com a criança.

A última reviravolta é boa, especialmente a entrega sobrenatural para o terceiro ato quando Emilia Clarke está mais à vontade com sua personagem – ou parece ter enfim entendido. Não se salva, contudo, o ritmo atrapalhado.

Para além dos problemas, é belo o casamento da fotografia de Peter Simonite com a direção de arte de Tamara Marini e a trilha sonora sombria composta por Michael Wandmacher. A voz suave e cinematográfica de Amy Lee (Evanescence) ao subir dos créditos é o alívio de que os longos 94 minutos chegaram ao fim.

Ficha técnica: Voice From The Stone (EUA, 2017), de Eric D. Howell. Com Emilia Clarke. Drama. 94 minutos. Disponível na Netflix.

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Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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