Mudança é o que mais tenho experimentado nos últimos meses. A mudança assusta, questiona, nos põe em xeque. É preciso resiliência para aprender o que essas fases nos propõem. Para mim, a chave para atravessar tem sido a orientação de uma amiga – passinhos de bebê são poderosos, conduzem a grandes mudanças. É a forma de ir para o novo, que não está pronto. A cada vez que internalizo este entendimento, desafoga mente e coração, e me abro para a experiência.

Passinhos de bebê representam começo de caminhada, o levanta e cai do iniciante, momentos de dúvida, medo de se machucar, de se arrepender, de falhar. É quando a alma veste a paciência para acolher desafios. Cada movimento conferindo confiança ao passo seguinte, alimentando o “eu posso”, o “eu consigo”. Há torcida lá fora. Um misto de espera e ansiedade pelo nosso sucesso. Coragem e ousadia surgem vitais para nos por de pé, equilibrando corpo, desejo e descoberta.

Com os anos, aprendemos a andar, caminhar, correr, mas o princípio dos passinhos de bebê continua poderosa ferramenta ao assumirmos novos projetos. Sejam pessoais, profissionais, sejam nossos sonhos, é comum almejarmos de pronto grandes objetivos, metas gigantescas. Queremos o melhor dos êxitos. É atraente e deslumbrante. Sufocante também o é.

A postura do “salvador da pátria” tem peso relevante para trás. Não nos ajuda a enxergar muito mais longe do que as próprias limitações. Os pequenos passos geralmente são imperceptíveis, injustamente desvalorizados. Porém, é no avanço diário que vamos escolhendo e reafirmando a direção. Construindo o novo, que na ilusão parece ser algo pronto.

Dar pequenos passos não se trata apenas de dividir a grande meta em etapas. É mais um estado interno de reconhecer que estamos mudando no ato mínimo, porque já não fazemos as mesmas escolhas. A obviedade vai cedendo espaço à reflexão. “Será que isto é mesmo importante?”. “Ainda faz sentido pra mim?”. “E se fizer de outro jeito, o que pode acontecer?”.

O ritmo do passinho de bebê pode ser lento, é verdade. Costuma estar aquém do estabelecido como aceitável. É diferente. E só isso já subverte os parâmetros do ideal, do julgamento que reverencia resultados extraordinários. Nem sempre precisa ser revolucionário. Já é um desassossego mudar o percurso diário até o trabalho, ouvir outras canções, fazer amizades, conhecer lugares, escolher outra marca de manteiga.

Imagine o cenário em que você se dá o simples direito de experimentar. Sem a prévia de “ter que”. Cabe aí, por si só, a esperada revolução. Considere agir sem cobranças de que “precisa dar certo”, “tem que ser um sucesso”, “precisa ser surpreendente”. Um peso imenso é posto de lado quando saímos da posição da obrigação para a do acolhimento. Serve quando estamos sozinhos, serve quando embarcamos com outros. “Olha, aqui é uma construção, um ambiente para descobrirmos juntos o que vale a pena”. Agitação, efervescência, inquietude. Haverá até quem não se entusiasme. Ainda assim, a experiência seguirá.

Pelos caminhos que navego com esta natureza, tenho percebido que um rico experienciar floresce. Afinal, as iniciativas trazem sempre ganhos se conseguimos ampliar o olhar do que é o “bom resultado”. É possível enumerar alguns e depois perder de vista – aumento de repertório, ampliação de redes de contato, aprendizado coletivo, fortalecimento da coragem, nova perspectiva e, sobretudo, experiência.

E a validação do processo tem ocorrido também mais natural. Porque natural são os passinhos de bebê. Caímos, levantamos, e a cada vez olhamos os pés com admiração curiosa. Uau! São nossos, tão únicos e estão sempre a caminhar.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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