A banda neerlandesa Within Temptation está em estúdio e tem planos para lançar novas músicas ainda neste ano. É o que confirmou a vocalista Sharon den Adel, em conversa com o blog Fora da Ordem via zoom na última semana. A artista revelou que o grupo pretende lançar outros singles sem a preocupação de produzir um álbum inteiro no momento.

Em fevereiro de 2019, eles lançaram Resist, sétimo álbum de estúdio. O disco veio cinco anos após Hydra – período em que o grupo precisou se reencontrar em meio aos próprios conflitos, com direito até a fase solo da vocalista.

O grupo lançou em maio último a música “Entertain You, um aperitivo para os fãs que acompanharia a Worlds Collide Tour, turnê conjunta com o Evanescence adiada para 2021 devido a pandemia de Covid-19.

Na entrevista ao blog, Sharon falou sobre a nova sonoridade do Within Temptation, parceria musicais, possibilidade de nova turnê no Brasil e a importância de se engajar politicamente em tempos extremos.

Fora da Ordem: Como vocês estão lidando com esse momento de pandemia, lockdown e tudo o que está acontecendo agora? Within Temptation está criando?

Sharon den Adel: Sim, não há outra coisa para fazer, então a melhor opção é criar. Nós tivemos muito tempo para ser criativos, e agora ainda mais tempo! Até os festivais no ano que vem, espero que estaremos em turnê, estaremos compondo novas canções. Eventualmente, vamos nos ater ao plano que já tínhamos de lançar mais singles durante o ano. Não pretendemos gravar um álbum inteiro, lançar alguns singles e depois soltar o disco completo.

Acabamos de lançar “Entertain You” e é isso que vamos fazer, lançar mais uma ou duas músicas. Dependendo de como as coisas acontecem e quão rápido acontecem, porque nós estamos compondo atualmente. Eu passei esta manhã no estúdio! (Risos) Então, há músicas boas nas coisas que estamos escrevendo. Espero poder finalizar tudo no tempo certo e lançar. Os fãs estão esperando.

FDO: E tem sido apenas um ano desde o lançamento de Resist.

Sharon: Sim, foi no começo do ano passado. Passa rápido e muita coisa anda acontecendo no mundo.

FDO: Vocês acabaram de lançar “Entertain You“, que é uma música diferente do que o Within Temptation tem feito. O que inspirou a canção?

Sharon: É diferente, como você disse, estamos experimentando bastante. Não será tudo como “Entertain You“, mas gostamos da nova direção. É um pouco experimental como soa, a produção, é uma música que vai mais direto ao ponto. Nós estamos abraçando muitas mudanças e entendemos que esta é bem diferente do resto.

Ainda não sabemos como as músicas ficarão, não temos um sinal de como o álbum será porque ainda estamos escrevendo e tudo muda tanto. Nós gostamos de mudar. Acreditamos que essa nova sonoridade é inspiradora e entendemos que muitos fãs possam ter ficado chocados. Vamos ver como as coisas acontecem.

Sharon na turnê do álbum Resist (Foto: Ivana Krajíčková)

FDO: Para mim, “Entertain You” é uma música que fala um pouco sobre igualdade e respeito. Qual é a mensagem que a banda queria passar?

Sharon: Sim, há muitos elementos que nos inspiraram quando estávamos escrevendo. Foi antes do coronavírus, mas já estava acontecendo tantas coisas estranhas no mundo, coisas pesadas. É uma nova década em que as coisas acontecem rápido, mudam rápido. Politicamente, perda da privacidade, tecnologias. Há muito sobre o que escrever.

Com “Entertain You“, foi mais sobre coisas que vemos viralizando, especialmente sobre pessoas com perspectivas diferentes e nos faz ver como a sociedade é intolerante. Não apenas no nosso país, mas em todo lugar. As pessoas encontram dificuldades para lidar, ameaças no caminho. Pessoas que acabam sendo julgadas por quem elas são, devido diferença de religião, cor de pele, sexualidade. Isso me enfurece! Todo mundo que é julgado por coisas que nunca mudarão, como a cor da pele. Se você é gay, você é gay. Você não muda. E as pessoas não podem ser usadas como entretenimento para outras, é uma forma covarde de lidar com os problemas da sociedade.

O princípio da questão é: de onde isso vem? É falta de educação? Onde estão as raízes dessa forma de lidar e julgar as pessoas? É bom abrir a discussão, prestar atenção nos problemas da sociedade.

FDO: Vou aproveitar para encaixar a pergunta de um fã neste momento: como é para você ter uma base de fãs LGBTQI+ tão grande estando à frente de uma banda de metal?

Sharon: Acho lindo que as pessoas possam se relacionar com a nossa música. Para nós, é uma honra. Fico feliz que eles encontrem alguma força nisso. É uma comunidade que nós apoiamos, é claro, porque é um dos grupos que pode ser julgado por ser quem são. Acho que é importante dar suporte a todos que se sentem deslocados da sociedade. Eles não são aceitos em todo lugar. Há partidos políticos dizendo que eles não devem ter direitos, esse tipo de coisa. É um jeito horrível de fazer política. Um país tem que ser para todo mundo. Uma sociedade deve se para todos. Não posso parar de pensar o quanto de intolerância há por aí. É um jeito velho de pensar e agir com as pessoas.

FDO: Isso me lembra que eu fui a um show de vocês aqui no Brasil, em 2014. Era Hydra Tour. Antes de “Stand My Ground” você levantou a bandeira LGBT.

Sharon: Sim, a bandeira do arco-íris!

FDO: É um momento de conexão com os fãs quando isso acontece?

Sharon: Sim! Se houver uma oportunidade de ter alguém na plateia com uma bandeira, nós pegamos essa bandeira e levantamos. É uma boa forma de mostrar suporte.

Evanescence e Within Temptation farão turnê conjunta

FDO: Você conheceu Amy Lee e agora Within Temptation está juntando forças com Evanescence em uma turnê que está por vir. O quão grandiosa será?

Sharon: Estou ansiosa! É bom ter uma banda que a música seja tão similar e juntar forças será uma experiência incrível para os fãs, claro. Em uma noite, não sei, será um grande evento musical. Da mesma forma que haverá uma atmosfera mística. Será muito legal! Temos planos para como o palco deles vai ficar, como o nosso palco vai ficar. Será incrível, de verdade! Infelizmente, temos que esperar tanto e eu não posso ficar falando para não revelar tudo. Mas será divertido.

FDO: As pessoas estão se perguntando se haverá alguma colaboração.

Sharon: É o tipo de coisa que as pessoas têm nos perguntado. Ainda não sabemos. Se acontecer, será espontâneo. Se em alguma noite não acontecer é porque alguém não está bem, cansado, porque será uma turnê pesada. Quando sentirmos que a noite está ótima, o clima está certo para todos, faremos! Não deve ser uma obrigação, será espontâneo.

FDO: Quais as chances da Worlds Collide Tour vir ao Brasil? Ano que vem teremos Knotfest, Rock in Rio

Sharon: Dependo dos produtores, na verdade. Adoraríamos, claro, mas isso é com eles. Eles precisam nos chamar! Tem que ser um produtor que acredite nessa turnê das duas bandas juntas no Brasil. Não é como se nós não quiséssemos.

Sharon den Adel e Amy Lee

FDO: Falando em parcerias, qual a importância dos artistas permanecerem juntos principalmente nesses tempos tão extremos?

Sharon: Se houver uma conexão musical e nós nos conectarmos… É como no #TogetherAtHome, que Chris Martin começou. Ele passou o microfone a outros artistas e eles foram repassando. Eventualmente, chegou na Amy Lee, ela passou para mim, eu passei para Tarja. Eventualmente, chegará em alguém que toca blues. E isso segue. É uma forma bonita de se conectar, de conectar diferentes formas de música. Acho que mostra que não importa quão grande seja uma banda, todos se conectam em momentos como este. É muito bonito.

FDO: Há um ano vocês lançaram Resist e o disco chegou em um tempo em que a extrema direita tem muita força. Nós estamos vendo isso acontecer no Brasil. Você acredita que ainda teremos que ter e ser resistência por muito tempo?

Sharon: Acredito que é um processo. Há muitas questões políticas para serem faladas, muitos países enfrentam problemas… Penso que é sempre importante olhar no olho e ver o que está acontecendo no seu país neste momento, se é algo com que você pode viver. Se é algo com que você não pode viver, você precisa fazer algo. Seja votando, seja ajudando partidos políticos em que você acredita. Ninguém precisa mais ficar de fora.

Há coisas loucas e injustas acontecendo, como a intolerância. Se você acredita que há algo errado e tem que fazer algo, não pode ficar de lado. Todos que são capazes de fazer algo, se empoderem, ajudem com campanhas. Acho que esse momento as coisas estão mudando, e não para o melhor, na minha opinião. Acredito que todos terão um lugar melhor para viver quando puderem admirar e confiar no governo que têm.

FDO: Resist é um grande álbum, mas veio após um período problemático na banda. O disco é um ponto de virada para o Within Temptation?

Sharon: O álbum foi um ponto de virada de um jeito que… Sabe quando você passa por um período de dificuldades, mas também de crescimento? Na minha opinião, não só para mim mas para o resto da banda, porque estamos todos nessa idade em que olhamos para trás e vemos tudo acontecendo de novo seja na família, filhos, pais, é o jeito que você olha para a vida e vê através dos olhos deles. É assim também com a música. A experiência, a jornada que tivemos desde quando começamos a banda, as coisas mudaram tanto. Você cresceu, evoluiu com a música.

Foi um período de dificuldade, mas também de crescimento. Aprendemos que queríamos permanecer perto do que nos emociona. Nossas letras no passado eram sobre histórias e problemas na sociedade, mas com distanciamento, com metáforas. Agora é mais na cara…

Olhando para trás, também nos fez perceber que queríamos ser mais diretos com o que queríamos dizer e as emoções vão nos atravessar de uma forma melhor. Então, agora falamos mais sobre problemas políticos, mais questões sociais. Estamos mais abertos falar desses assuntos. As pessoas podem ou não gostar, mas estamos abertos. Não é sobre quem está certo ou errado. É mais sobre continuar falando sobre isso e fazer com que as pessoas compreendam melhor umas as outras.

About the Author

Rubens Rodrigues

Jornalista. Na equipe do O POVO desde 2015. Em 2018, criou o podcast Fora da Ordem e integrou as equipes que venceram o Prêmio Gandhi de Comunicação e o Prêmio CDL de Comunicação. Em 2019, assinou a organização da antologia "Relicário". Estudou Comunicação em Música na OnStage Lab (SP) e é pós-graduando em Jornalismo Digital pela Estácio de Sá.

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