Divertida, brincalhona e com uma pegada de humor ácido. Assim é a paródia da música “Às Vezes”, do grupo português D.A.M.A, criada e cantada por eles e pelo radialista e apresentador, também português, Vasco Palmirim, para celebrar o Dia Internacional da Língua Portuguesa. Após a transformação, a canção tornou-se: “Às Vezes ‘Escuto e Observo Erros de Português’”.

Ao longo de toda a letra é possível ver críticas bem elaboradas e coerentes sobre os principais erros que as pessoas cometem ao falar o idioma. Claro, que por ter sido escrita por lusofalantes de Portugal, os principais erros são os da realidade portuguesa, contudo, há gafes que são comuns a todos os falantes da língua.

A ironia aplicada à canção fica nítida logo na primeira estrofe: “Às vezes ‘oiço’ cada coisa e não fico ‘ok’”; a palavra “oiço” não existe e o uso do estrangeirismo “ok” não deixa nem que os ouvidos se adaptem à letra e dão, de pronto, dois tapas na cara da sociedade.

Quem nunca cometeu um erro tosco de português? Quem nunca em vez de dizer “estiveste” perguntou “onde é que tu estives-te? Ou quem nunca disse “quando houveram novidades”? Mas o que dá mais charme à paródia, além, claro, da parte cômica e a vergonhosa que se sente ao ouvi-la, são as correções e explicações que ela traz.

No terceiro parágrafo, nas linhas 12 e 13, há uma crítica sobre o – já citado – erro na conjugação do verbo haver. Na linha 13, vem a explicação do porquê isso não pode. Crítica e correção, nessa ordem, demonstra domínio sobre o idioma e capacidade e qualificação para falar sobre ela e expor seus falantes ao mundo.

Entretanto, ao ver o vídeo da apresentação da paródia numa rádio de Portugal, algo chama a atenção – para o lado negativo. O anfitrião, o jornalista Vasco Palmirim, que canta ao lado dos rapazes, antes mesmo da música começar, utiliza-se de duas expressões em inglês com o objetivo, creio, de dar ênfase ao momento. Mas a escolha foi péssima. Ele fala: “all right” e, frações de segundos antes do início da música: “let’s go”. Daí as perguntas que vêm à cabeça são: Para quê? Como é que um jornalista que está prestes a cantar uma paródia criada para exaltar a língua e explicitar as agressões que seus falantes cometem com ela, antes de tudo, fala termos estrangeiros?

Com essa atitude, Palmirim cortou o clima e afugentou, sem dúvidas, os ouvintes e telespectadores mais críticos e os defensores mais ferrenhos do idioma.

Enfim, apesar de ter cometido uma das agressões mais criticadas pelos linguistas, que é o uso de termos estrangeiros em detrimento do português, o autor da canção cumpriu o seu papel em “cutucar” a ferida de muitos que enchem o peito por aí e dizem que não cometem erros de português ou que, mesmo sem intenção, ferem aquilo de mais precioso que temos: a língua. Pois somos aquilo que falamos.

Confira o vídeo:

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Elves Rabelo

Jornalista, pós-graduado em Assessoria de Comunicação e, atualmente, atua em Comunicação Institucional. . Sugestões de pauta: elvesarabelo@gmail.com

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