Texto muito bom da nossa fonoaudióloga oficial, Sofia Bedê! Venham ler!

ENTENDENDO O CHORO DO BEBÊ: conhecendo seu filho melhor

Por Sofia Bedê, Fonoaudióloga, Especialista em Voz

Um dos eventos naturais mais esperados do nascimento é o choro do bebê. Segundo Kant (1789), a única espécie que emite som ao nascimento é a espécie humana, e a possibilidade de chorar nesse exato momento indica um certo grau de organização social para a defesa da mãe e da prole.

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A voz é a própria emissão da onda sonora, com suas diversas características como: aguda (voz “fina”), grave (voz “grossa”), estridente, tensa, rouca, soprosa, etc. A fala é a voz articulada, sendo o som que é produzido nas cordas vocais modificado quando passa pela boca, nariz, bochechas, dentes e língua. Aqui falaremos mais sobre a voz do bebê, até por que a fala só se inicia meses depois.

Embora o trato vocal infantil não seja um instrumento sonoro ideal, o choro ao nascimento é uma manifestação de extrema importância e estudos com bebês indicam uso diferencial da voz.

Desde os primeiros meses de vida, as vocalizações do bebê fluem do corpo diretamente para o ambiente, sendo suas próprias sensações manifestas em sons. Apesar de o pequeno ainda não se locomover, ele se faz presente através de sua voz (veículo primário de transporte de suas sensações), solicitando, implorando e “deslocando-se”, chegando à mãe, por exemplo, numa outra sala. E, ao contrário do que se imagina, o bebê possui uma emissão sonora riquíssima. Verifica-se assim que mães mais atentas e não-ansiosas desenvolvem uma incrível capacidade de interpretar corretamente as “vozes” do seu bebê. Por outro lado, apesar de perceptivas, mães ansiosas demais tendem a interpretar o choro como sinal apenas de fome, limitando a uma opção de significado toda uma série de emoções.

Possivelmente, o estudo mais detalhado sobre choro de bebê é o de WäsHockert e col.(1968) que analisou 419 choros de 351 bebês normais, do nascimento ao sétimo mês de vida. Nesse estudo, eles confirmaram que o choro infantil pode nos dizer diferentes estados emocionais do bebê, e os classificam em quatro tipos gerais:

  • Sinal de Nascimento: o tempo médio é de 1 segundo de duração. O sinal de nascimento é geralmente uma emissão de som surdo, tenso ou estridente, com sons plosivos, por causa da expulsão de líquido amniótico.
  • Sinal de Dor: é o sinal que possui o tempo mais longo. É uma emissão aguda, em torno de 530Hz, estridente e com queda dessa frequência na sustentação.
  • Sinal de Fome: a emissão nesse caso é variável, passando de grave a agudo rapidamente. Verificam-se também sons plosivos.
  • Sinal de Prazer: a hipernasalidade (som audível mais nasal) é a característica principal desse sinal. A emissão nunca é surda, tensa ou estridente. Há um relaxamento vocal em todo o aparelho vocal do bebê, ao contrário dos outros sinais, o qual se visualiza tensão nas vocalizações.

Sabemos, contudo, que não são apenas esses os sinais vocais que um bebê emite. Cada mãe observa e percebe as necessidades de seu filho e assim vai criando um “banco de dados” de interpretações das sensações. Há choros por causa do excesso de roupa ou a falta dela, por causa de um barulho alto (sabe aquela tia-avó que aparece do nada pra te visitar?) ou porque não consegue ouvir a voz materna (e assim se sentir protegido).

São nos primeiros meses de vida que o bebê depende exclusivamente de suas modulações vocais para se comunicar. Com o passar do tempo, mas ainda no primeiro ano de vida, a articulação desses sons (fala) vai se impor à fonação (voz) e o ambiente determinará a aquisição de um código linguístico específico, no caso, a nossa Língua Portuguesa, com regras gramaticais próprias. Aí então, tudo começa a ficar mais fácil! Com a criança falando algumas palavrinhas, passamos a entender melhor suas vontades.

Apesar disso, durante toda a vida do bebê, a sua voz oferecerá um rico material acerca do estado interior e da intenção do seu discurso. É importante estar atenta (mas não paranoica) aos sinais sonoros emitidos pelo seu bebê, para conhecê-lo e entendê-lo cada vez melhor. Certamente será um prazer tentar desvendar os significados dos sons dos nossos bebês! Você já parou pra pensar quais os tipos de choro do seu filho? Ele chora mais agudo, ou mais grave? É um choro mais perto da hora de mamar? As roupinhas estão muito apertadas? Ou está muito frio?

Nessa fase, escute e observe mais. E a máxima é verdadeira: “a cada mês, tudo vai ficando mais fácil e melhor”.

A Sofia atende em seu escritório colaborativo MOBILE COWORKING
Mais informações: http://www.mobilecwk.com.br/home.html
Contato: (85) 9900 0042

About the Author

Carol Bedê

Jornalista. Mãe da Laís e do Vinícius. Já quis ser muita coisa...depois de terminar a faculdade de letras, uma especialização e a faculdade de comunicação social (jornalismo), de uma coisa tive certeza: o que eu quero mesmo é escrever. Já escrevi sobre muitos assuntos. Tentei até fazer poesia, mas nunca achava que conseguia. Depois de ser mãe resolvi escrever sobre ser mãe, sobre bebês, sobre crianças e sobre esse mundo. E só agora acho que consigo fazer poesia.

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