Fortaleza – O segundo caderno do O POVO, o Vida & Arte, completa 30 anos. A efeméride levou-me a cascavilhar memórias no O POVO.Doc. Esta foi em outubro de 1996 quando eu era repórter do caderno. Fiz uma entrevista com o Marcelo Bonfá, baterista da Legião Urbana, dias após a morte de Renato Russo.
A gente tinha a informação de que chegara ao Ceará com a mulher Simone e o filho Thiago. Um repórter foi ao bairro Parque Araxá, casa do avô da esposa (Vicente), onde estavam. Era meu colega Rodrigo de Almeida. Depois ao Cumbuco, mas não o achou. Ele assina uma coordenada. A propósito, outro colega, Luciano Almeida Filho, escreve sobre o papel de Bonfá na banda.
Para achar Bonfá, fui enviado no final da manhã. No Cumbuco, abordei uns bugueiros. Um deles confirmou onde Bonfá estava.
-Ali, naquela rede!
Bonfá mexia com uma garrafa de areia colorida.
Sabendo que ele poderia não reagir bem, colhi tudo o que podia com os bugueiros sobre hábitos e comportamento. Só depois fui em sua direção com o fotógrafo.
Quando olhei em volta, havia uma multidão de crianças e adolescentes a me acompanhar. Parecia o clipe de Mama África, do Chico César.
Quando Marcelo avistou os repórteres, esbravejou:
– Paguei R$1.200 para fugir de tudo isso que vc quer perguntar!
Afirmou isso ao tempo em que a mulher sugeria que falasse.
Compreendi. Dei meia volta. Mas perguntei ao fotógrafo Roberto Torres se ele fizera a foto. Eu não lembro se ele disse que não ou que não estava tão boa. Só recordo que ele voltou lá e Marcelo, de boas, topou as imagens e subiu em uma jangada.
Vi a cena e comecei a fazer perguntas. Foi bem rápido, mas estava garantida a capa. Efusivo, liguei na mesma hora para meu editor, o Walter Coe. Naquela semana havia uma comoção nacional com Renato.
O material correu o País. A foto foi vendida para vários veículos.
Na matéria, eu já não diria onde ele estava. E não disse.
O título estava pronto na hora em que o vi na jangada:
Vento no litoral
Obrigado por compartilhar essa passagem com os leitores.
Urbana Legio omnia vincit .