Por Jáder Santana (jadersantana@opovo.com.br)
Pouca gente conhece a história por trás da possessão de Regan MacNeil, a garotinha de 12 anos que assombrou gerações depois de aparecer girando o pescoço e vomitando verde em O Exorcista, o clássico filme de terror de 1973. O caso real que inspirou a ficção aconteceu nos primeiros meses de 1949, em uma típica família norte-americana que ainda se recuperava dos efeitos da Grande Depressão.
Publicado originalmente em 1993, só agora chegou ao Brasil o livro-reportagem que investigou a história real e trouxe ao público os segredos até então escondidos pelos sacerdotes envolvidos no ritual. Em Exorcismo, o jornalista estadunidense Thomas B. Allen se apoia no acesso que teve ao diário de um padre jesuíta que acompanhou a possessão para reconstituir os meses de aflição vividos pela família.
Diferente do que é mostrado no filme, a vítima original da possessão foi um menino de 12 anos, citado pelo autor com o pseudônimo de Robert, filho de um funcionário do governo federal “de salário baixo e trabalho estável”. A família residia no subúrbio de Maryland e Robert era uma criança tranquila até começar a brincar com um tabuleiro Ouija, recebido como presente de uma tia espírita que viria a falecer poucos dias depois.
Amparado pelo diário do padre envolvido no ritual de exorcismo e pelo depoimento de pessoas ligadas aos acontecimentos daqueles meses, o autor narra o gradativo mergulho do garoto em um cenário de loucura e aflição que começa com batidas e arranhões nas paredes do quarto e segue até um quadro perturbador de violência física e chantagem psicológica. Atendidos por médicos, psicólogos, psiquiatras, videntes e pastores, Robert e sua família assistiam impotentes ao fracasso dos tratamentos sugeridos e à transformação do garoto em uma personalidade solitária e taciturna.
O autor acerta ao analisar, em meio ao relato, a evolução do ritual de exorcismo e o modo como ele foi encarado ao longo do tempo. “Desde os primeiros séculos da cristandade, através da Idade Média, até o século XVII, a possessão fora tão comum na Europa que a Igreja precisava de uma abundância de exorcistas”, escreve. Julgada como primitiva e enterrada sob camadas de lógica e ciência, a possibilidade possessão chegou aos nossos dias como um mito.
No caso de Robert, diversos padres recusaram a tarefa de assumir o ritual por medo da repercussão negativa que a atitude poderia ter junto aos ideais modernistas da Igreja. Temiam ser ridicularizados perante os colegas, que tentavam levar a religião em direção a uma nova era ecumênica. Antes de encontrar um sacerdote disposto a aceitar a possessão, os pais do garoto foram aconselhados a procurar hospitais para doentes mentais, onde ainda eram feitos tratamentos com choques elétricos e a lobotomia frontal era opção comum para pacientes agressivos e paranoicos.
Lançado pela DarkSide Books, editora especializada em livros de horror e fantasia, Exorcismo cumpre bem o propósito editorial de assustar e prender a atenção dos leitores. A narrativa do autor é embasada por datas e endereços exatos, além de notas que esclarecem a origem de cada declaração publicada. O diário do padre Bowdern, reproduzido integralmente na metade final do volume, não apresenta muitas novidades, mas pode servir como fonte de consulta e comprovação para os argumentos do autor.
Serviço
Exorcismo
Thomas B. Allen
254 páginas
Preço: R$38
DarkSide Book