Nélida Piñon (Foto: Simone Marinho)

Nélida Piñon (Foto: Simone Marinho)

Em novo livro de ensaios, a escritora e pesquisadora Nélida Piñon reflete sobre a América Latina, seus intérpretes e seus potenciais criativos

Nélida Piñon é uma das escritoras brasileiras mais influentes dos tempos atuais. Com dezenas contos, crônicas e romances publicados, ela se afirma como uma voz de sapiência em meio aos tempos turbulentos.

A carioca de Vila Isabel lançou o livro Filhos da América, coletânea de 28 ensaios que tratam sobre a formação ibero-americana, a literatura brasileira, a criatividade típica dos nossos povos e as múltiplas vozes narrativas.

A escritora foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras (ABL) e é uma estudiosa apurada do conjunto de países falantes de Língua Portuguesa e Língua Espanhola. “Nós somos filhos da mestiçagem”, aponta, em entrevista ao Leituras da Bel por telefone.

Nélida diz ter nascido branca por acaso. Na realidade, ela é negra, é mulata e é índia. Tudo ao mesmo tempo. Todas Nélidas. “Sempre tive uma visão mestiça da realidade”, descreve a estudiosa.

A “visão” lhe rendeu uma carreira de sucesso – com temporadas em universidades norte-americanas e europeias. Ministrou cursos em Harvard, desbravou horizontes e mundos. Hoje, a pesquisa de Nélida é um olhar carinhoso para o passado. É através dele, ela explica, que conseguiremos construir um futuro sadio.

“Nós somos filhos de tudo que nos precedeu”, diz. E completa: “somos filhos dessa América conturbada”. Todo o sangue jorrado no nosso território deixou marcas que ainda não foram lavadas. E, muito provavelmente, nunca serão.

Os traços do nosso surgimento, aponta a escritora, fomentaram uma imaginação rica, poderosa, fecunda, ampla e sempre ventilada por ideias inovadoras. Tanto na literatura quanto nas outras expressões artísticas. Nélida cita uma gama de expressões – das escolas de samba aos ritmos nordestinos.

Em Filhos da América, Nélida envolve o leitor em uma trama de diferentes expressões. Fala do carioca Machado de Assis e do cearense José de Alencar como os autores que melhor interpretaram o Brasil nos livros. Antes mesmo das ciências sociais surgirem como mecanismos cabíveis para estas compreensões.

A escritora acredita que a série de estigmas e marcas influenciou uma tendência para autoexplicação. Utilizamos – assim – as capacidade inventivas e criativas para clarificar nossa existência para seres que nós não enxergamos. “Como se fossemos falar para alguém de outro continente quem nós somos”, elucida escritora.

Serviço
filhos-da-america-nelida-pinonFilhos da América
Nélida Piñon
400 páginas
Preço: R$ 59,90
Editora: Record / Grupo Editorial Record

About the Author

Isabel Costa

Inquieta, porém calma. Isabel Costa, a Bel, é essa pessoa que consegue deixar o ar ao redor pleno de uma segurança incomum, mesmo com tudo desmoronando, mesmo que dentro dela o quebra-cabeças e as planilhas nunca estejam se encaixando no que deveria estar. É repórter de cultura, formada em Letras pela UFC e possui especialização em Literatura e Semiótica pela Uece. Formadora de Língua Portuguesa da Secretaria da Educação, Cultura, Desporto e Juventude de Cascavel, Ceará.

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