Por Sara Síntique*
A cearense Sara Síntique escreve poemas quinzenalmente para o Leituras da Bel. Poeta, atriz, performer, mediadora de leituras e educadora, Sara mora em Fortaleza e publicou seu primeiro livro – Corpo Nulo – pela Editora Substânsia. Hoje, Sara lança um poema sem nome. Leia mais poetas!
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olha isto que engasga
olha isto
sucumbindo sucumbindo
outra vez como se
já não soubesse o caminho
desse espasmo
sempre vão
derramando me derramando nos
por sobre tratados linhas mapas
por sobre acordos ortográficos
velhas leis rebites brocas
utensílios alto mar
tudo então grosseiramente alagado
rasgado entre as mãos o mundo
fazendo acontecer vibrar
sucumbindo sucumbindo
a algo disso que
e antes portasse aquele algo
próprio de um vazio anterior
e tardasse ali mesmo no ponto
em que já não se espera
nada da rasura
mas urge em vão
gerar essa coisa qualquer
essa coisa própria de
um moinho
olha isto que desliza
essa pedra traiçoeira
outra vez
sucumbindo sucumbindo
como se já não soubesse
o caminho desse espasmo
um coração aberto e
nenhum diapasão
e esse atrito
se
dispersa?
***
*Sara Síntique é poeta, atriz, performer, mediadora de leituras e educadora. Mestra em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também se graduou em Letras Português – Francês. Nasceu em Iguatu (CE), em 1990, e reside em Fortaleza desde 2001. Autora do livro de poesia Corpo Nulo (Editora Substânsia, 2015). Escreve poemas quinzenalmente para o blog Leituras da Bel.