A reportagem sobre o Ronda do Quarteirão que O POVO está publicando é exemplo de jornalismo de interesse público.  As matéria foram divulgadas nas mais edições 13/7/2009 e 14/7/2009, série que continua amanhã.

O Ronda do Quarteirão é um projeto do governo do Ceará, implementada pelo governador Cid Gomes, que pretende criar uma polícia “diferente”, comunitária e respeitadora dos direitos do cidadão.

O jornal descobriu uma série de atos de violação de direitos, violência e outras irregularidades praticados por essa “nova polícia” – incluindo o uso de uma viatura como “motel” -, totalizando 210 ocorrências investigadas pela Corregedoria. Veja os textos já publicados, aqui e aqui.

Isso é que o se pode chamar de jornalismo de interesse público, isto é, desvela um problema que diz respeito diretamente ao cidadão, influi em sua vida e – certamente – não viria a lume se dependesse apenas das autoridades responsáveis pelo projeto.

Quando se diz que a internet, blogs, etc., não têm como substituir o jornalismo tradicional, é disso que se está falando.

Que blog teria recursos para manter dois repórteres – no caso Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio – durante vários dias dedicados a um único assunto? Óbvio que isso não nega a importância de blogs, Twitter, etc., eu mesmo lanço mão desses mecanismos. Mas tem-se de compreender claramente o papel de cada um.

A boa e a má notícia

Quanto Ronda do Quarteirão propriamente dito há uma boa e uma má notícia.

A má notícia é a óbvia: um projeto criado há dois anos, já começa a se contaminar com os, digamos assim, “hábitos” da “velha polícia”. A “otoridade” chega descendo a mão – principalmente quando o sujeito é pobre e desvalido. Acha que é dona do pedaço, que a sociedade se divide entre policiais e os “outros”, e que todo pobre é “vagabundo”.

A boa notícia é que parece haver uma sincera preocupação da Secretaria de Segurança Pública em não deixar que as boas intenções iniciais descambem ladeira abaixo. Foi o próprio secretário Roberto Monteiro quem chamou a Corregedoria às falas, pedindo ações mais ligeiras contra esses, vamos chamá-los de “policiais”, para não alcunhá-los com o epíteto que eles reservam às suas vítimas.

Justiça

É bom também lembrar do Judiciário. É bastante comum ouvir de secretários de segurança e governadores a dificuldade para expulsar um, digamos assim, “mau elemento” da Polícia Militar. Ele recorre à Justiça e esta manda reincorporá-lo, às vezes por detalhes processuais, independentemente da barbaridade que o sujeito tenha cometido.