De Heraldo Cavalcanti, cineasta [veja post acima] e integrante do Conselho de Leitores do O POVO, recebo a seguinte carta, que divido com os eventuais leitores deste blog.
Ele fala sobre a possível construção de um estaleiro na Praia do Titanzinho, assunto que já tratei por aqui.
Escreve Heraldo:
«Chego a Fortaleza depois de dois meses e vejo de cara dois projetos que envolvem o Serviluz [bairro de Fortaleza; na foto, o aglomerado de casas simples]. Um deles seria a construção de um estaleiro na praia do Titanzinho, o outro uma obra para a Copa.
Na verdade, sei que isso vai alterar enormemente a vida daquelas pessoas. A matéria de domingo foi magnífica para exemplificar o possível fim do local que mais gera campeões no Ceará, especificamente no Surfe. Para quem não sabe é emocionante ver um campeonato no Titanzinho com todos aqueles garotos inundando a areia com pranchas. Quase não se vê areia! A vida dos pescadores também deverá mudar radicalmente pois os paquetes (pequenas jangadas onde vão até três pescadores) também aportam por lá.
Afora isso há um outro projeto que pelo que ouvi, pretente abrir ruas, alargá-las.Os dois projetos juntos significam uma coisa: retirar pessoas e o para quem conhece o bairro sabe que isso seráo sumiço de metade do bairro. Essa parece ser a sina do pobre que vive no litoral: dar lugar ao moderno, que vem com o concreto, imobiliárias e coisa e tal.
A população do Serviluz é egressa de várias outras áreas litorâneas e que vêm sendo expulsas continuamente. O que me estranha é que esse processo de urbanização vem agora com a Copa.
Não posso deixar de ficar preocupado em ver algo que pode desembocar em uma “faxina étnica” na cidade, retirando descendentes pobres de negros e índios de uma área central da cidade, onde estão instalados há mais de 50 anos para não ferirem os olhos de europeus brancos que virão gastar dinheiro na Copa durante uma semana.
Plinio, onde estão esses projetos? Hoje saiu uma matéria no O POVO de que não existe nada nem no Ibama nem na Semace. Por que esses projetos ficam à espera nas gavetas de gabinetes e se apresentam, de repente, como projetos já consumados, sem discussão com a sociedade???»
Caro Heraldo, duas observações: 1. quanto à “obra da Copa” Serviluz, se você fala de um projeto da Prefeitura, ela não prevê o deslocamento dos moradores. Eles teriam suas casas reconstruídas no mesmo bairro; 2. sobre o estaleiro, os movimentos sociais do bairro criticam que as obras acabarão com as ondas – essencial para as escolinhas de surfe – e restringiria o acesso à praia. Pelo menos até onde se sabe [e você tem razão, sabe-se muito pouco], não está previsto o deslocamento de moradores. Veja mais fotos.
A foto acima e a que se seguem são de Gentil Barreira. Olhe-as bem – e diga se um lugar assim merece ser destruído para a construção de um estaleiro.
O nome não é TINTANZINHO, é TITANZINHO.
[…] Mais sobre o assunto, além de belíssimas fotos aéreas do Titanzinho, aqui. […]
Engraçado estar escrito a seguinte frase: “A foto acima e a que se seguem são de Gentil Barreira. Olhe-as bem – e diga se um lugar assim merece ser destruído para a construção de um estaleiro.”
Parece que quem escreveu realmente NUNCA entrou no Serviluz das drogas, prostituição, esgotos a céu aberto e assaltos em cada esquina nem mesmo andou pelo Titanzinho, em que se você entra com sua prancha os caras já querem te fuzilar por acharem que são donos das ondas.
As cenas que vemos por ali são de completo abandono social e econômico. Os únicos grandes empreendimentos que geram dinheiro são os fortes esquemas de tráfico de drogas e prostituição. Algumas ONGs estão ali presentes e fazem um trabalho razoável, mas não fazem nada alem do ordinário nem revolucionador que mude a cara do Serviluz/Titanzinho.
E aí respondo: Vale sim a pena “destruir”(na minha opinião mudar) para dar dignidade a essa população que mora em favelas de esgoto aberto e carente de moradias dignas e segurança pública.
Esse papo retrógrado que “protege” as minorias dos grandes capitalistas e adora comoção popular está ultrapassada. O povo só pensa nas ondas e esquece que a família toda do surfista tá passando fome. Isso é coisa de gente sem visão, que vive de um passado sem glórias e vive achando que um empreedimento que vai gerar empregos e mudar a vida da população para a melhor é uma abominável idéia. A magnitude de um investimento na indústria naval cearense impacta diretamente naquela comunidade da melhor forma possível na forma de geração de empregos, novas moradias, mais educação, saúde e segurança pública, dando aí espaço para que se combata as mazelas lá instaladas. Só se vence a criminalidade investindo em oportunidades econômicas(empregos) e obras sociais.
Surf bom tem em todo canto, Titanzinho, Taíba, Cumbuco…
E emprego, tem ?
POlêmica à parte. Vcs observaram que fotos lindas? A cada dia que passa me surpreendo mais com as belezas naturais de nosso estado, em especial da nossa capital.