Da série, Fortaleza, terra de ninguém, artigo da psicóloga Denise Costa, publicado na edição de hoje [4/12/2009] do O POVO.

«Segurança engarrafada
Denise Costa

Eram 14h30m e o trânsito do início da tarde corria lento como sempre naquele trecho. Presos no engarrafamento cotidiano na rua Padre Valdevino, os motoristas nem suspeitavam do que estava para acontecer.

Nada pôde ser feito para se evitar o assalto, mais um “relâmpago”, como são chamados. A moto parou, o carona saltou de 38 em punho e quebrou o vidro do carro ao meu lado. Senti-me bem pequena, do tamanho de uma ervilha. Apesar de ter sido apenas “espectadora” aqueles segundos foram torturantes.

Entre ficar e esperar para ser a próxima, consegui dar uma ré e escapar pela rua Coronel Jucá em direção à avenida Antonio Sales. Tremia como nunca e um daqueles pequenos filmes passou pela minha cabeça enquanto eu fugia: e se minha filha de apenas um ano estivesse no carro? E se tivesse havido um tiroteio com bala perdida? Como estaria a pessoa vitimada pelo assalto?

Sob soluços desesperados, as perguntas foram se ampliando: onde estamos hoje, o que estamos fazendo como cidadãos para reduzir as desigualdades e as drogas, em parte causa deste cenário?

De acordo com a Central Única das Favelas (Cufa) são 30 mil usuários de crack em Fortaleza e a maioria deles entre 15 e 24 anos de idade. Eles, roubam, morrem e matam em nome do vício. O site www.tvcanal13.com.br, divulgou números da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) do Ceará sobre assaltos que refletem a situação da insegurança.

De 1999 a 2006, os assaltos na Grande Fortaleza tiveram um crescimento d 148,5%, saltando de 8.687 ocorrências para 21.594. Onde está o poder público? Como posso ampliar minha participação nestas questões? Onde iremos parar assim? Milhares de inquietantes interrogações que perambulam sem resposta em minha cabeça até agora.

Infelizmente a única certeza é a de que o episódio “Sessão da tarde” deste relato tem se repetido com frequência em diversas esquinas e horários na cidade.

Não dá para esperar!»