Quando eu digo que nada mais me surpreende na Fortaleza, terra de ninguém, alguns podem achar exagero. Mas quando se pensa ter-se chegado ao fundo no poço no quesito “esculhambação urbana”, sempre aparece mais alguma coisa para mostrar que este é um buraco sem fundo.

É o que mostra a certeira matéria do repórter Bruno Formiga, publicada na edição de hoje [20/12/2209] no O POVO, com o título A força do poder paralelo. O texto mostra como grupelhos se apropriaram das quadras de areia e de cimento da avenida Beira Mar, que são – ou deveriam ser – públicas.

Esses grupos, segundo a matéria usam a truculência ou a “influência” por serem “promotores, ex-jogadores e advogados”, como reconhece Luciano Monteiro, diretor de esportes da Secretaria Executiva Regional [SER II], dizendo que “muita gente quer ser dono” das quadras. Ou como resume um leitor, em comentário deixado na matéria: os donos do pedaço são os  “filhinhos de papai”.

O diretor de esporte da SER II ainda confessa candidamente que é  “é mais fácil a gente controlar um espaço na periferia do que na Beira Mar”. Ou seja, os fiscais da Prefeitura se assustam com carteirada ou se contentam com os argumentos dos expropriadores do espaço público.

O repórter Bruno Formiga retrata assim a situação:

«O que era para ser espaço público de lazer virou lugar cativo para poucos. Jogar por ali [nas quadras] não é tarefa fácil. É preciso ter amizades, ser insistente e, algumas vezes, trocar uns sopapos. Em um dos principais cartões postais de Fortaleza, é fácil concluir que há um “poder paralelo”.»

Prefeitura

Luciano Monteiro afirma que, no início do próximo ano, será revisto o modo como as quadras são usadas: “A partir de janeiro vamos acabar com esse poder paralelo. Vamos passar realmente a gerenciar [o uso das quadras]”.

É engraçada a reação de representantes da Prefeitura, todas as vezes que são flagrados – principalmente pela imprensa – deixando de fazer aquilo que tem de ser feito, têm sempre a solução na ponta da língua. Dão declarações enfáticas dizendo que o problema será solucionado. Marcam datas. E fica por isso mesmo.

Parece que o conceito tempo da Prefeitura difere do conceito de tempo das pessoas comuns. Enquanto nos movemos no tempo da física clássica, a Prefeitura parece se basear pela física quântica; que, aliás, é campo fertil para todo tipo de ilusionismo esotérico.

Enfim, tudo fica para as calendas gregas:  como o problema dos buracos nas ruas, como o caso da retirada dos outdoors…