A escritora Angela Gutiérrez esteve hoje falando para os estudantes do curso Novos Talentos O POVO para estudantes de jornalismo. Em uma conversa descontraída, ela procurou responder à pergunta “Por que escrevo?”, tema que lhe foi dado como ponta de partida.

Falou um pouco de sua infância, menina criada entre livros da biblioteca do bisavô, Tomás Pompeu. E fez uma revelação que, disse, lhe ocorrera no dia anterior, ao pensar no que iria falar aos estudantes: “Quis escrever porque papai não escreveu”.

Seu pai, Luciano Cavalcante, seu guia de leitura, nunca escreveu nada, apesar de seu amplo conhecimento sobre literatura – e da insistência dos amigos para que se dedicasse a escrever um livro. Angela se emociona a cada vez que fala do pai, morto há cinco anos, “para mim parece que foi ontem”.

Diz ter-se demorado em publicar o primeiro livro, “O mundo de Flora”, pois tinha um “nível de exigência bastante alto”, pela convivência com o pai e com escritores como Moreira Campos e Sânzio de Azevedo – e de seu próprio conhecimento teórico sobre literatura.

Uma doença grave, o vislumbre da morte e o medo de não deixar nada escrito foram o empurrão que faltava: escreveu compulsivamente, “à mão”, em noites insones, para depois fazer a “carpintaria” do livro. “O começo e terremótico”, repete ela Moreira Campos.

Apesar disso, garante não ver o ato de escrever como sinônimo de sofrimento: “Tenho o prazer da escrita”.

Nega que seu livro primordial seja autobiográfico, mas reconhece, “como dizem alguns autores”, que o primeiro romance “é uma catarse, uma expulsão de demônios”.

Angela Gutiérrez é professora de Literatura na UFC (Universidade Federal do Ceará). Escreveu “O mundo de Flora” (romance, 1990), “Canção da menina” (coletânea de poemas, 1997), “Avis rara” (contos, 2001), “Luzes de Paris e fogo de Canudos” (romance, 2007). Doutora em Letras pela UFMG, com a tese “Vargas Llosa e o romance possível da América Latina”, pesquisadora de Canudos e integrante da Academia Cearense de Letras (ACL), entidade fundada por seu bisavô, Tomás Pompeu, com o nome de “Academia Francesa”, em 1872.

Correção de Angela Gutiérrez: “[Você] cometeu um enganozinho (no stress) referente ao bisavô. Ele foi, sim, fundador da Academia Francesa e, duas décadas depois, também da Academia Cearense (1894), a que pertenço, instituição que, há muito, ostenta o nome de Academia Cearense de Letras.”

[Alerta. Por pura incompetência o repórter-fotográfico conseguiu deletar todas as fotos que fez do evento. É um caso sério, a marecer séria reprimenda. Em tempo: o repórter-fotográfico do blog sou eu mesmo.]