Meu artigo publicado na edição de hoje (19/5/2011) no O POVO.
“Nós pega o peixe” e o “kit gay”
Plínio Bortolotti
Duas polêmicas recentes: os ataques do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) ao material anti-homofobia do Ministério da Educação – que ele denominou de “kit gay” -, e a discussão em torno de um livro didático de Português do MEC, avalizando construções como “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”.
Para começar, considero lamentável que tomem a frente de debates de tamanha importância fundamentalistas de ambos os lados. Ou são brucutus da espécie de Bolsonoro – ou, de outro, aqueles que se consideram uma espécie de “vanguarda” da sociedade, sentindo-se no direito de impor suas ideias, por desfrutarem do fugidio poder.
Os primeiros vão na base do grito e das acusações; os segundos constrangendo os que ousam se manifestar com bandeira do “politicamente correto”, caracterizando todos os que pensam de modo diferente como preconceituosos e discriminadores. (Em tempo: o “politicamente correto” não é um mal em si, mas se torna tóxico em mãos extremadas.)
Quanto às polêmicas, por partes.
É louvável o esforço do governo para acabar com qualquer tipo de preconceito nas escolas quanto à orientação sexual. Mas não creio que ajude muito a distribuição de um vídeo tipo “Encontrando Bianca” (veja no Youtube), em que um rapaz insiste em ser chamado pelo nome de sua “atriz favorita”, e dizendo que “o lance de banheiro” (masculino e feminino) “já deveria estar superado”.
Quanto ao livro do MEC, os fundamentalistas de um lado dizem simplesmente que são “erradas” as formas citadas acima, sem mais considerações; os do outro lado acham que elas devem ser ensinadas na escola.
Eu digo o seguinte: respeitar a variedade lingüística e os seus falantes é uma coisa. O modo “diferente” de falar não deve ser objeto de zombaria ou humilhação. Agora, a escola existe para ensinar a norma padrão, pois é com essa que os estudantes terão de se virar no emprego, nos concursos e na universidade. Mesmo porque, a variação que cada grupo social usa, eles já a conhecem.
Gostei do “fugidio”.
Mas é isso que o livro diz, a chamada norma culta deve ser ensinada na escola, o que não se deve fazer é tentar impor as pessoas uma norma culta na linguagem cotidiana. Há diversas maneiras de linguagem numa lingua: A do homem sertanejo, a da pelada de fim de semana, a dos emeios na internet, a dos teens, a dos trabalhos escolares, as dos textos que quero publicar em jornais, revistas ou blogs. Se eu passo um emeio para te convidar para tomar umas “gelada”, eu estou usando a linguagem coloquial: “E aí, tu vai mermo gelar no sabadão?”. Se te passo um emeio pedindo uma chance de estágio aí no jornal usarei a norma culta. Se passo um emeio a minha namorada posso usar a linguagem coloquial da net ou a da minha tribo, totalmente diferente da norma culta. Se o emeio é para o pai da minha namorada usarei a norma culta. Plinio, não devemos confundir linguagem com lingua. Toda lingua tem inúmeras formas de linguagem. Ensinar a norma culta é uma obrigação da escola e o livro não quer mudar isso, o que o livro diz é que não devemos encarar as pessoas que ainda desconhecem a norma culta de maneira preconceituosa, elas trazem consigo os inúmeros tipos de linguagem usadas nas periferias das cidades e nos guetos e nos sertões, linguagem essas que devem ser respeitadas na escola. Como vai se sentir uma criança que chega na escola com uma linguagem diferente de seus colegas e é logo apelidado de “matuto” ou “analfa” pelos colegas? Caberá a escola mostrar aos alunos que aquele tipo de linguagem existe, e é apenas uma maneira dentre tantas outras maneiras de se expressar coloquialmente. A escola vai colocar a disposição daquele aluno uma norma culta para que ele possa utiliza-la doravante em ocasiões que serão necessarias: Reuniões de trabalho, redações, textos, trabalhos científicos e onde o aluno ache que deva utiliza-la. Pessoas sentem-se constrangidas com as correções seguidas do seu vocabulario coloquial. Já criei sem querer um clima ruím, de puro constrangimento com minha namorada linda, que arranjei na periferia da cidade por conta de viver corrigindo a sua linguagem periférica coloquial que desconhecia totalmente a concordância. Imagina em uma escola uma professora corrigindo sempre uma criança e as outras sorrindo do beradeiro de linguagem diferente? Gera constrangimento, preconceito e evasão escolar.
Quanto ao Kit eu sou a favor do kit e topo discutir com você se você fizer um poste apresentando os seus argumentos contrários.
Caro Bosco,
Agradeço o seu comentário e espero que v. não tenha perdido a sua namorada. 🙂 Mas veja como os preconceitos nos são entranhados: você precisou acrescentar o adjetivo “linda”, ao referir à sua namorada, moradora da “periferia”. Você faria o mesmo se a sua namorada, por exemplo, morasse na Aldeota? [É só uma provocação, no bom sentido]
Quanto ao kit anti-homofobia, creio que há modos e modos de se explicar uma coisa, incluindo o respeito ao tempo dos alunos e dos pais. Uma decisão atabalhoada pode mais prejudicar do que ajudar.
Abraço,
Plínio
Pelas cinco chagas de Cristo, o livro NÃO PROPÕE ENSINAR FORMAS NÃO NORMATIVAS NA ESCOLA. Nenhum linguista ou educador defende isso. Se você se dispuser a ler o capítulo inteiro e não se basear apenas em duas frases soltas tiradas do contexto vai entender o que a autora quis dizer. Em resumo: todo habitante fala perfeitamente sua língua nativa e, como já sabe falar sua língua, está na escola pra aprender o que não sabe: a variedade padrão, ou norma culta, ou variante mais prestigiadas, seja lá que nome se dê. O cerne da questão, que opõe gramáticos tradicionais e as normas do MEC, normas que estão em vigor desde 97, é bom que se diga, é a forma de abordagem à maneira que os alunos se expressam quando chegam à escola. O MEC, concordando com os linguistas, entende que os professores não devem desestimular ninguém a abandonar seu modo de falar, seja ele qual for, mas deixar claro que existe outro e eles estão ali para aprendê-lo. Os tradicionalistas entendem que o professor deve deixar claro para o aluno que ele fala errado e está ali para aprender o “certo”.
Luciano,
Agradeço suas observações, que são importantes.
Mas creio que a pessoa somente se tornará “fluente” na norma padrão – como em qualquer língua – se utilizá-la com frequencia. Por isso acho que a escola tem de incentivar os alunos a usá-la.
Plínio
Plínio, se você puder ler alguma obra escrita por sociolinguistas verá que é exatamente isso que eles propõem, ou seja, só se aprende a ler e escrever lendo e escrevendo, que é o que eles chamam de letramento. As normas e nomenclaturas virão mais tarde para serem apreendidas em casos reais e não em frases soltas como é pregado por gramáticos tradicionalistas. O que ocorre hoje é que todo brasileiro, não só crianças e adolescentes, é bombardeado desde que entra na escola com frases como “português é muito difícil”, brasileiro fala tudo errado”, só aprende português quem sabe latim”etc. o que leva a auto estima linguística do aprendiz para o chão.
Plínio, o texto abaixo, do linguista Sírio possenti, é muito esclarecedor sobre esse assunto.
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5137669-EI8425,00-Aceitam+tudo.html
Caro Luciano,
Agradeço. O texto é muito bom, guardei nos meus arquivos.
Plínio
O SENHOR VIU A NEFASTA HOMOLOGAÇÃO DE CASAMENTOS GAYS, E, COM ELA , O RECRUDESCIMENTO DA IMORALIDADE NO MUNDO: (JB.6.65) – POR CAUSA DISTO É QUE TENHO DITO: (SL.78.1)- ESCUTAI POVO MEU, A MINHA LEI, PRESTAI OUVIDOS AS PALAVRAS DA MINHA BOCA:
(NE.4.19) – Disse eu aos nobres, aos magistrados, e ao resto do povo: (DT.29.10) – Vós estais hoje perante o Senhor vosso Deus, os cabeças das vossas tribos, e vossos anciãos, todos os Homens de Israel: (LS.6.2/4) – Ouvi, pois, ó reis, e entendei, tomai a instrução ò Juízes de toda a terra, aplicai os ouvidos, vós, que governais os povos, e que gloriais de terdes debaixo de vós muitas nações; porque de Deus vos tem sido dado o poder, e do Altíssimo a força, o qual vos perguntará pelas vossas obras, e esquadrinhará os vossos pensamentos: (2CR.19.6) – Vede o que fazeis, porque não julgais da parte do homem, e sim, da parte do Senhor, e no julgardes Ele está convosco: (CL.3.17)– E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus; dando por ele graças a Deus: (NM.32.23) – Porém, se não fizerdes assim, eis que pecastes contra o Senhor, e sabei que o vosso pecado vos há de achar:
(IS.1.10) – Ouvi a palavra do Senhor, vós, príncipes de Sodoma, prestai ouvidos à lei do nosso Deus, povo de Gomorra; (EC.28.7) – porque a corrupção e a morte estão a cair sobre aqueles que quebrantam os mandamentos do Senhor: (1CO.6.18) – Fugi da impureza: Aquele que pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo: (EC.10.32) – Quem justificará ao que peca contra a sua alma? (LC.9.25) – Que aproveita o Homem ganhar o mundo inteiro e vier a perder a sua alma?(TG.4.1)–De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? (MT.26.41) – Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o Espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca: (PV.15.3) – Os olhos do Senhor estão em todo lugar contemplando os maus e os bons: (LC.6.10) – E fitando todos ao redor, disse ao homem: (LV.18.22) – Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação: (1CO.6.9/10) – Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: Nem impuros, nem idolatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas; nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus:
Acho louvável um material que se proponha a combater o bullying seja quem for a vitima: gays, gordinhos, nordestinos, deficientes.
Infelizmente, a meu ver, o kit anti-homofobia nao se propunha a isso: só faltava dizer: “dê o _ e seja feliz”.