Meu artigo semanal, publicado na edição desta quinta-feira (11/7/2013) do O POVO.

Ilustração: Hélio Rôla (clique para ampliar)

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Snowden e Battisti
Plínio Bortolotti

O governo brasileiro confirmou – mesmo depois da publicação do O Globo mostrar que os Estados Unidos espionaram maciçamente o Brasil -, que não responderá ao apelo de Edward Snowden por asilo político no país.

O governo pode alegar “razões de Estado” para atropelar normas morais, no caso, pondo as relações econômicas com os Estados Unidos acima do interesse de um indivíduo – por mais nobre que tenha sido a atitude que o levou a pedir auxílio. E por mais que a sua ação – revelando que a espionagem americana tinha preferência pelo Brasil – tenha contribuído para mostrar aos governantes deste país que um suposto aliado o trata como inimigo.

Porém, não é prudente esquecer que Snowden é um dos três combatentes pela transparência dos governos e do sagrado direito do cidadão comum preservar a sua intimidade. Os outros dois são o soldado Bradley Manning, acusado de denunciar os abusos americanos no Iraque (preso e sob julgamento nos Estados Unidos) e Julian Assange, editor do Wikileaks, que divulgou os documentos supostamente vazados por Manning. Caçado pelos EUA, Assange está refugiado há mais de um ano na embaixada do Equador na Inglaterra.

A verdadeira guerra que os Estados Unidos movem contra esses três homens é tão séria, que seu desfecho pode definir se serão mantidos os fundamentos da democracia e de uma sociedade livre ou se, no futuro, cidadãos do mundo inteiro estarão submetidos a um verdadeiro panóptico digital.

Se os demais governos do mundo aceitarem passivamente essa atitude totalitária, sob o argumento de Barack Obama de que “não se pode ter 100% de segurança com 100% de privacidade” – dando-se de barato que ele está preocupado exclusivamente com os americanos e que 100% de segurança é impossível, em qualquer cricunstância – então estaremos a caminho de uma mistura de Leviatã, Admirável mundo novo e 1984.

Pergunta: se há razões de Estado par anegar asilo a Snowden, não as havia para extraditar Cesare Battisti para a Itália?