Está no ar a revista Reticências, produzida pelos alunos de Jornalismo Impresso I, do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Ceará (UFC). O tema escolhido para a edição de seu número 1 foi “mulheres”, a partir da análise do filme “Histórias cruzadas” (The Help, 2011).
Entrevistas
A revista é feita de entrevistas com mulheres, desde as que ganharam destaque na política, como a ex-prefeita de Fortaleza Maria Luiza Fontenele, até “aquelas vítimas de toda forma de discriminação”, as prostitutas. Também podem ser vistas crônicas e reportagens. Toda a produção é dos alunos da disciplina, ministrada pelo professor Daniel Dantas Lemos.
Provocação?
A propósito, a capa da revista é uma provocação ao “machismo” ou um apelo ao “erótico chique”?
No interior da revista, o ensaio “Demudas” (de onde a capa foi retirada) prova que a proposta da capa não é erotizar o corpo feminino. Uma breve leitura do material seria suficiente para evitar uma dúvida tão infeliz.
Ok, Nathanael,
Agradeço pela indicação. Mas observe que as coisas podem não ser tão claras como v. deseja. Veja, na própria página que v. indica, o que a ISUU, portal onde a “Reticências” está hospedada, recomenda como “publicações relacionadas”. Além do mais, há como negar que a imagem da capa é erótica, independentemente da intenção do editor(a) da revista? [Adianto que não vou considerar uma possível acusação de “machismo” como argumento. ; )]
Plínio, a provocação que você nos apresenta não é sanada após ler todas as entrevistas e ver o próprio ensaio?
Penso que de início, ao simplesmente contemplar a capa, essa dúvida realmente pode existir. Porém, depois da leitura de cada página creio que aquela máxima de que “não devemos julgar o livro pela capa” se aplica de maneira bem óbvia. Desculpe se pareceu que fui rude.
Quem comprasse essa revista por uma eroticidade chique provavelmente não teria essa necessidade satisfeita.
Abraços! ;]
Bruno,
Nada a desculpar. É conversando que a gente se (des)entende. : )
Abraço,
Plínio
O Issu categoriza com revistas de temática erotica, Plinio, é verdade. Entendo sua pergunta como uma provocação. Da mesma forma que a capa é uma provocação e que a frase de Simone de Beauvoir, que ilustra a capa e que dá título ao meu editorial também é uma provocação. Penso serem todas provocações muito positivas e que nos conduzem à reflexão. Como o ensaio Desmudas ou a própria matéria que os meninos fizeram sobre o direito ao corpo. No fundo, penso que somente os leitores poderão responder a tão inquietante questão ;). Muito obrigado pelo espaço!
Caro professor Daniel,
Não vejo a frase de Simone de Beauvoir – “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher” – como uma “provocação”, mas como uma constatação, de clareza meridiana. (À parte que, caso se entende que o gênero é construído, qualquer ser humano pode tornar-se o que quiser desse ponto de vista.) A mais, a meu ver, em alguns tipos de “provocação” há um nítido apelo erótico, por mais que seus (suas) autores(as) neguem. É o caso da do grupo Femem, por exemplo. Antes que haja mal entendidos: nada contra esse tipo de protesto e também não nego que das ações de “vanguarda”, do tipo, possam resultar positivas. Temos vários exemplos: o uso da minissaia, Leila Diniz grávida, de biquíni (hoje absolutamente normal), etc.
Mais uma coisa: é fato que uma revista de estudantes (e não só) tem de fugir do lugar-comum, compreendo perfeitamente isso. Porém, jornalismo é para explicar e não para confundir. ; ).
Abraço,
Plínio
Uma mulher é erótica porque é nua? Quando está nu, um ser é erótico? Ser erótico depende da intenção do autor e da leitura. Então vê-se que o nu está vestido, bem revestido de uma roupa moral, que ajuda a criar o erótico (ou apenas os fetiches?), mas não é ele. As fotografias do ensaio Desmudas e a própria plástica das atrizes invoca um encantamento, por serem belas e por transparecer a tristeza de alguns símbolos que as revestem. O peso maior não está no erótico, não é isso o que se propõe a invocar. Acho que você julgou o “livro pela capa” por costume do jornal. Infelizmente é um jornalismo que, pelo menos eu como participante da revista, não quero aprender a fazer. Não exclusivamente.
Há como negar sim! Afinal não são todos que sentem algum tipo de desejo libidinoso ao observar uma arte (como a fotografia da capa). Não é necessário fazer acusação nenhuma. Enfim, acredito que a revista provoca, não confunde. (:
O único ser mais inteligente que o homem é a mulher. Os que duvidam disto vêm em terceiro lugar. ( Georges Najjar Jr )
Prezado Plínio,
primeiramente gostaria de agradecer ao espaço porque creio que, mesmo com uma opinião completamente diferente da sua sobre o “erótico chique” e a nudez feminina aqui apresentada, é sempre necessário discutir.
Depois gostaria, como o Jadiel já afirmou, de reiterar que o nu transpõem os limites do erótico e, com as fotos, o nome e os textos que integram a revista isso fica claro: o nu aqui é uma arma de luta. E me desculpe, caro Plínio, mas se lutar pelo que acreditamos, se reivindicar nosso direito ao corpo para além de uma visão que o vê unicamente como erotizado, se, ao mostrar por meio do nosso corpo, as amarras que nos prendem e as prisões que nos oprimem somos enquadradas como “eróticas chiques” eu não sei mais o que pensar.
De toda forma, e acredito que falo em nome de todas as modelos que compuseram COM MUITO ORGULHO esse ensaio, se ser “erótica chique” é lutar e defender aquilo que nós cinco já defendemos e reclamamos no dia-a-dia e em todas as esferas da nossa vida como é aqui o caso, somos então eróticas chiques com muito orgulho. 🙂
Pessoal, permitam-me dar uns pitacos na discussão. Ao ler o conteúdo da revista e, depois disso, observar com cuidado a capa, fico pensando em qual seria o problema de o ensaio ser erótico, principalmente ao lembrar que erótico é diferente de pornográfico, por trabalhar bem mais com beleza e sensualidade que com o desejo de possuir o corpo do outro e, muitas vezes, expondo-o como um produto. Por que, para uma revista que se propõe provocadora, seria ruim trazer conteúdo erótico (mais uma vez, distinto de pornográfico)? Ainda mais sendo uma produção universitária, que dispõe de maior liberdade editorial? Ao trazer o ensaio com as mulheres nuas, não se contribui para desmistificar e, ao mesmo tempo, provocar algumas concepções cristalizadas socialmente, inclusive de que o erotismo seria ruim? Se não contribui para entender a mulher como um objeto, mas, pelo contrário, abre uma discussão sobre isso, por que o elemento erótico degradaria o trabalho feito? Acho, na verdade, que é uma virtude do projeto, ao conseguir trabalhar com a nudez de forma bela e, ao mesmo tempo, levantando debate e reflexão.
No mais, a revista tá interessante e, só por abrir a discussão, já cumpre papel importante.