Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 30/4/2020, do O POVO.

Está (quase) tudo dominado

Os polianistas, com a doce esperança de que a “ala dos generais” enquadraria o mau militar, retirado do Exército pela porta dos fundos, estão refazendo os seus cálculos.

O tenentinho, promovido a capitão somente quando foi para a reserva, fez os generais arrodilharem-se a seus pés. Servem-no como “explicadores” de seus despautérios, justificadores de suas ações destrambelhadas, como “embaixadores da boa vontade” para corrigir suas ofensas. Enfim, agem como faxineiros, que correm atrás do chefe, limpando a sujeira deixada por onde ele anda.

As Forças Armadas perderam a oportunidade histórica – após a redemocratização – de se recolherem à função constitucional, deixando a política para os civis, como ocorre em países democráticos. Preferiram insistir no papel de “tutores” da pátria, agitando o desbotado boneco do “comunismo”, agora representado pelo PT e pela “esquerda”, à falta de um inimigo palpável. Os militares entraram voluntariamente na arapuca e não mais sabem como sair do labirinto, sem arcar com o custo da desmoralização inevitável do presidente Jair Bolsonaro, qualquer que seja o destino de seu governo.

Com as coisas nesse pé, há colunistas dizendo ter sido um “erro” Bolsonaro nomear Alexandre Ramagem (da copa cozinha da família presidencial) como diretor-geral da Polícia Federal, devido ao desgaste que sofreria. Mas se Bolsonaro pagou o preço de afastar Sergio Moro da Justiça, justamente para fazer a substituição, por que não a faria? Tudo já estava “precificado”, como gostam de dizer os liberais.

Mesmo o revertério imposto pelo Supremo Tribunal Federal – com o ministro Alexandre de Moraes suspendendo a nomeação de Ramagem – já estava na conta. Bolsonaro terá mais um motivo para se dizer vítima do “sistema”. E vai insistir no homem.

O presidente governa apenas para os fanáticos que o obedecem cegamente. Tanto é que, de herói Moro passou a malfeitor, de um dia para o outro – bastou o chefe apontar o dedo. Essa choldra o seguirá até o fim, mesmo que suas ações levem o País a um conflito de consequências imprevisíveis.

No mais, o termo entre parênteses no título, justifica-se porque ainda há juízes em Berlim.

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