Dummar Ribeiro desafiou colegas a apresentarem "um único" caso de homicídio por homofobia ou racismo no Ceará (Foto: Genilson de Lima/CMFor)

Dummar Ribeiro desafiou colegas a apresentarem “um único” caso de homicídio por homofobia ou racismo no Ceará (Foto: Genilson de Lima/CMFor)

O vereador Dummar Ribeiro (PPS) negou nesta terça-feira, 10, a existência de homicídios por homofobia ou racismo no Ceará. No mesmo ano em que o Estado vive escalada de repercussão internacional de assassinato de transexuais, o vereador desafiou colegas a apresentarem “um caso” do tipo na Câmara Municipal.

A fala ocorreu em resposta a um pronunciamento do deputado Iraguassú Filho (PDT), que destacou pesquisa do Ibope, encomendada pela cervejaria Skol, apontando crescimento da discriminação no Brasil. “A homofobia é citada como a principal forma de discriminação por aqueles que se declarar preconceituosos. Há muitos homicídios simplesmente porque a pessoa tem orientação sexual diferente”, diz.

Imediatamente depois da fala, Dummar pediu a palavra. “Existe preconceito sim, agora não aceito pesquisa de que se mata por homofobia. Eu desafio qualquer vereador a me apontar um crime de homofobia, de racismo, de dez anos para cá. Não quero saber de pesquisazinha, quero ver o crime”, diz o deputado, que é agente da Polícia Forense do Ceará.

Racismo e LGBTfobia em alta

Desinformada, tese do vereador ganha contornos trágicos no contexto atual do Estado. Só até outubro deste ano, o Ceará registrou 12 homicídios de transexuais e travestis. Em quase todos os crimes, Polícia e órgãos do governo apontam homofobia como causa direta da morte. Em março, vídeo do assassinato da travesti Dandara Santos, onde ela é atacada por xingamentos homofóbicos entre os golpes, chocou o País e o mundo.

No racismo, o IPEA aponta taxa de homicídios de negros no Ceará três vezes maior do que as outras etnias. Dummar Ribeiro não apresenta quaisquer dados para refutar as hipóteses, apenas descartando os demais. “Eu convivo na ponta, na liberação, e nunca vi nenhum crime por homofobia, crime de matar a pessoa por isso”.

Além de desconsiderar dezenas de estudos e dados sobre o tema, “experiência” do vereador também vai contra o que atestam a Defensoria Pública do Ceará, a Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE) e a própria Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSPDS). Em março, o secretário André Costa criou grupo para conter crescimento de homicídios de LGBTs.

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Carlos Mazza

Repórter do núcleo de Conjuntura do O POVO. Jornalismo de dados, reportagens investigativas, bastidores da política cearense. carlosmazza@opovo.com.br / Twitter: @ccmazza

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