Momento em que Jair Bolsonaro (PSL) é esfaqueado durante atividade de campanha em Minas Gerais nesta quinta (Foto: reprodução de imagem)

O ataque a faca a Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de voto, tem dois efeitos políticos imediatos.

Primeiro, a campanha muda drasticamente. Uma nova disputa começa agora, mais imprevisível e talvez mais pautada pela intolerância e o risco de hostilização.

Pudera. É ato inédito numa corrida presidencial. Desde a redemocratização, não se tem notícia de um atentado a postulante à Presidência. Num contexto de acirramento e escalada de tensões, é fato gravíssimo.

Como consequência política, é possível que as críticas mais contundentes ao capitão da reserva até se atenuem, o que pode favorecê-lo, fazendo refluir a sua rejeição, a maior entre os presidenciáveis.

Numa campanha curta e sem tempo de televisão, livrar-se da alça de mira dos adversários, ainda que por pouco tempo, é lucro.

Segundo efeito, este particular: o crime coloca Bolsonaro noutro patamar. De algoz e adepto de uma retórica beligerante, ele passa à condição de vítima.

Juntos, esses fatores mudam o panorama da eleição e impõem uma reorganização das forças políticas.

Até aqui, Bolsonaro era alvo preferencial dos concorrentes ao Planalto. Na primeira semana de programa eleitoral, virou saco de pancadas de Geraldo Alckmin (PSDB) e sparring de Ciro Gomes (PDT), e chegou mesmo a levar puxão de orelha de Marina Silva (Rede).

A despeito dessas investidas, o militar cresceu dois pontos na pesquisa Ibope divulgada ontem.

A radicalização e o redemoinho eleitoral que esse episódio provoca devem aquecer o discurso do militar e fermentar o sentimento de polarização – o agressor, segundo informações preliminares, teria sido filiado ao Psol.

É um prato cheio para os intolerantes e os que apostam na barbárie como solução, entre os quais, infelizmente, encontra-se o próprio candidato.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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