A primeira conclusão da nova rodada do Datafolha é: Ciro Gomes (PDT) ainda está no páreo. Por muito pouco, mas está.
Verdade que o ex-governador do Ceará não cresce há dez dias, quando o instituto pôs na rua uma pesquisa que já o apontava com 13% das intenções de voto.
O pedetista, porém, tem um trunfo. É sua bala de prata.
Tecnicamente empatado com Fernando Haddad (PT), que abocanhou mais três pontos e chegou a 13%, Ciro não perde em qualquer cenário de segundo turno.
Mais que isso: é o único candidato a derrotar facilmente o líder inconteste dos levantamentos de voto, Jair Bolsonaro (PSL), que oscilou dois pontos no Datafolha e foi a 28%.
Como transformar essa vantagem hipotética em lucro real ainda no primeiro turno? Eis a missão de Ciro.
Hospitalizado desde a semana passada depois de sofrer ataque a faca em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro tem os dois pés fincados na etapa seguinte da eleição.
Se não sepulta a candidatura do ex-ministro, como pareceu fazer ontem o Ibope (nele o candidato do PT cresce 11 pontos em uma semana), o Datafolha tampouco ameniza a situação do concorrente.
Haddad construiu um muro no Nordeste – o petista tem 26% da preferência na região, desbancando Bolsonaro e o próprio Ciro, ambos com 17%.
O militar, por sua vez, ergueu uma muralha na região Sul, onde cultiva um latifúndio de 37%.
Bloqueado por Haddad no Nordeste e por Bolsonaro ao Sul, aonde Ciro deve ir para voltar a subir?
Reocupar o centro, que vem se esvaziando.
A esquerda está obstruída e a direita, congestionada.
Resta a Ciro arrancar votos de Alckmin e Marina, que estão em queda livre, e da turma de nanicos, que somam 10%.
Como? Apelando ao voto antipetista e ao voto útil – e aí entra o seu potencial imbatível nas apostas de segundo turno.
No mais, Ciro não tem recursos, não está num grande partido e tem pouco tempo de TV para travar batalhas simultâneas.
Para atacar, ele deve estabelecer uma prioridade e investir num alvo.
A duas semanas da votação, o risco que o pedetista corre é o de insistir na queda de braço com Haddad, o ungido de Lula, e continuar estagnado.
Se quiser sair dessa situação de asfixia, o melhor caminho é encontrar um lugar nesse miolo, sem abrir mão das posições que já conquistou até aqui.
Não será fácil. Mas o Datafolha de hoje provou que talvez o jogo não esteja perdido.
Finalmente: a pesquisa mostra ainda dois aspectos interessantes além da força do cearense nas simulações de segundo turno.
O primeiro: a transferência de votos de Lula para Haddad continua.
O segundo: com 9% e 7%, Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) estão fora do jogo.
No entanto, juntos, o tucano e a ex-ministra detêm 16% da preferência do eleitorado. É uma boa cota de votos.
Numa eleição acirrada, o espólio dessas candidaturas mais moderadas é decisivo – mas quem irá levá-lo?
Na teoria, Ciro tem vantagem sobre Haddad nessa pescaria, mas eleição não é matemática, de modo que o mais provável é que esses votos se pulverizem.
Já dá pra ele ir começando a se preparar para 2.022, começando a frequentar um curso de “relações humanas”, pra aprender a ter humildade e controlar a língua.
Tem tempo suficiente pra maneirar na arrogância e apequenar a prepotência.