Agente de saúde relata ter sido agredida e chamada de “negra imunda” por apoiadores de Bolsonaro (Foto: arquivo pessoal)

Uma agente de saúde de 36 anos relatou ter sido agredida fisicamente e xingada por duas apoiadoras do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) nesta sexta-feira, 12/10, em Fortaleza.

De acordo com ela (o Blog Política não revela seu nome para preservar a vítima), duas mulheres a atacaram durante uma festa do Dia das Crianças num condomínio no bairro Álvaro Weyne, por volta do meio-dia.

“Eu estava com meus dois filhos (uma de sete e outro de cinco) no prédio onde mora minha sobrinha. Tinha ido pra festa das crianças. Estava todo mundo no deck”, ela conta.

“Lá, eu gravei um áudio no Whatsapp para uma amiga sobre essas falas do Bolsonaro dizendo que nós, agentes de saúde, somos dispensáveis e que a gente ia perder nosso emprego.”

De acordo com a agente, que exerce a profissão há nove anos e trabalha num posto da capital cearense, duas pessoas que seriam moradoras do prédio ouviram a conversa e começaram a ofendê-la.

“Quando terminei de mandar o áudio, uma delas me pediu provas do que eu estava falando sobre o Bolsonaro. Eu respondi que não precisava provar nada pra elas”, narra.

“Elas ficaram xingando o Lula, dizendo que ele era como um traficante, que roubava mas não tinha nada no nome dele. Eu reagi criticando o Bolsonaro.”

Segundo a vítima, foi aí que as duas mulheres passaram a atacá-la. “Me chamaram de bicha preta e negra imunda e sem-vergonha”, conta.

“Diziam assim: ‘Vai ver que nem funcionária publica é’. E ainda falaram coisas de baixo calão mesmo, do tipo: ‘Isso aí é falta de rola’, e coisa ainda pior.”

Ela acrescenta que foi agredida no momento em que deu as costas às moradoras para buscar os filhos na piscina do edifício e ir embora.

A agente afirma que foi derrubada no chão pelas mulheres, que lhe deram socos e arranharam o seu rosto. Uma delas chegou a morder a sua perna (foto acima).

“Ainda escutei minha filha gritando. A minha filha pedindo pra elas me soltarem”, ela chora no telefone. “Olhei pro lado e ela estava desesperada.”

A vítima deu entrada em boletim de ocorrência no 7º Distrito Policial, no bairro Pirambu. O caso foi registrado como “lesão corporal dolosa”. O caso se tornou público depois que amigos da agente postaram fotos das marcas das agressões nas redes sociais.

Na guia policial destinada à Perícia Forense que subsidia o exame de corpo de delito, o delegado fez uma observação: “Foi agredida fisicamente por simpatizantes de Bolsonaro por conta de uma divergência política”.

Nas últimas semanas, as agressões físicas com motivação política têm se multiplicado no País.

Levantamento da Agência Pública divulgado na quarta-feira, 10, mostra que, nos últimos dez dias, foram 50 ataques com esse teor, a maior parte deles praticada por eleitores de Bolsonaro.

Na segunda-feira passada, um mestre de capoeira foi assassinado na Bahia com 12 facadas após discutir com apoiadores do presidenciável do PSL.

No Recife, uma mulher que trabalha na Fundação Joaquim Nabuco foi espancada por simpatizantes do candidato.

Relatos de hostilidades contra jornalistas aumentam na mesma proporção.

A Agência Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabiliza até agora pelo menos 130 casos de ataques contra profissionais de imprensa em contexto eleitoral.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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