O futuro chanceler Ernesto Fraga Araújo apresenta credenciais de quem conduzirá a diplomacia brasileira tal qual um rottweiler. Aliás, o que se viu desde o último fim de semana é algo talvez sem precedentes no mundo: um ex e um futuro ministro das Relações Exteriores se trocando em declarações públicas.

Ernesto Araújo, diplomacia

O futuro chefe da diplomacia brasileira, embaixador Ernesto Fraga Araújo, foi ao Twitter fazer ameaças a antecessor. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Araújo foi à sua movimentada conta no Twitter responder ao ex-chanceler durante os anos Lula, Celso Amorim. O ex-ministro disse, em declaração ao jornal O Globo, que a política “antiglobalista” de Araújo se assemelha a “volta à Idade Média.

O anunciado ministro das Relações Exteriores ironizou, ao dizer não saber se é crítica ou elogio. A seguir, afirmou que buscará eventuais irregularidades durante o período do ex-chanceler.

“Não entendi se é crítica ou elogio, mas informo que não retornaremos à Idade Média, pois temos muito a fazer por aqui, a começar por um exame minucioso da ‘política externa ativa e altiva’ em busca de possíveis falcatruas”, disse o futuro ministro das Relações Exteriores.

“Política externa ativa e altiva” era como Amorim defendia a política externa naquele período. Era valorizada a relação com países emergentes e sofre muitas críticas de Araújo e do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Seletividade

A fala do futuro ministro é grave. Por que analisar eventuais falcatruas do período Amorim? Se Araújo diz que irá analisar os atos do antecessor imediato, ou de todos da década passada para cá, tudo bem. Ocorre que o ex-ministro das Relações Exteriores deixou o Itamaraty na década passada. Desde que ele saiu, sete ministros passaram pela função, entre titulares e interinos. Foram eles: Antonio Patriota, Eduardo dos Santos (interino), Luiz Alberto Figueiredo, Mauro Vieira, José Serra, Marcos Bezerra Abbott Galvão (interino) e Aloysio Nunes Ferreira.

Por que então só a gestão Amorim receberia atenção? Caso Araújo estenda a noção de política “ativa e altiva” à era Dilma Rousseff (PT), ainda ficam de fora os três últimos titulares das Relações Exteriores? O que justifica isso? Se ele buscar possíveis falcatruas na busca de qualquer dos antecessores, será ótimo. Se ele tem informações de algo específico do período – o que não disse – também faz bem em ir atrás.

Como Araújo não cita nada de objetivo, me restam duas hipóteses:

1) Retaliação pela crítica;

2) Perseguição ideológica.

Em qualquer dos casos, é absurdo.

O novo ministro tem direito de fazer todas as críticas à condução petista do Itamaraty. Pode desfazer – e assim sinaliza que será. Tudo bem. Mas, não pode retaliar, não pode perseguir, não pode fazer caça às bruxas.

Ele pareceu ter ido ao Twitter com o fígado, com raiva. É preocupante para quem vai comandar a diplomacia brasileira.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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