As 50.000 mil pessoas que acorreram a 13 de Outubro à Cova da Iria, um descampado nos arredores de Fátima, então uma pequena aldeia, equivaliam em número ao triplo das que aí tinham estado havia um mês. Atraía-as, obviamente, a afirmação feita por Lúcia dos Santos, a mais velha dos três videntes, segundo a qual a 13 de Outubro iria haver um milagre. Mas nem ela, nem nenhum dos outros dois videntes disseram que o Sol iria dançar, pelo menos de acordo com a Documentação crítica de Fátima, que faz um registro meticuloso do que eles afirmaram e do que foi publicado sobre o milagre do Sol.
Stanley Jaki
[Azevedo, Carlos A. Moreira; Cristino, Luciano (Coordenadores). Enciclopédia de Fátima. Estoril, Portugal: Princípia, 2007, artigo: Milagre do Sol, p. 355.]

O milagre de Fátima ganha as páginas do jornal O Século
Dois dias depois, o jornalista Avelino de Almeida, testemunha ocular do fenômeno, publicava uma reportagem no jornal O Século. O artigo seria o ponto de partida para uma série de discussões acaloradas sobre o assunto. Há alguns anos, em 1999, Stanley Jaki, Doutor em Teologia Sistemática pelo Instituto Pontificio di S. Anselmo, Roma, e em Física pela Universidade de Fordham, Nova Iorque, realizou um exaustivo estudo sobre o fenômeno, tendo, inclusive, analisado os arquivos de Fátima. Suas conclusões foram publicadas no livro God and the Sun at Fatima (Port Huron, Michigan, Real View Books).
No artigo sobre o assunto escrito para a Enciclopédia de Fátima, afirma o autor que “A conclusão é que a única abordagem adequada do ‘milagre do Sol’ consiste em considerar que se tratou de um fenômeno meteorológico” (p. 357). Para o fenômeno, conhecido como lente de ar, dá a seguinte explicação: “A explicação está no fato de duas correntes de vento que se encontrem num ângulo poderem fazer com que uma massa de ar entre em movimento rotativo. Caso haja uma inversão de temperatura, essa massa não só rodará como também será puxada para cima e para baixo, e muito provavelmente seguindo uma órbita elíptica. O tamanho de uma tal lente de ar pode variar entre poucos metros e 30 ou mais metros. Se, além disso, se encher de partículas de gelo, poderá fragmentar a luz do Sol em várias, ou pelo menos algumas, cores do arco-íris, tal como foi observado em Fátima. Um fenômeno semelhante ocorre quando da formação de tornados” (p. 357).
Mesmo na hipótese de se tratar de um fenômeno meteorológico, nem por isso fica excluído o caráter miraculoso do fato. É o que conclui Stanley Jaki no artigo “Milagre do Sol”, quando escreve: “O caráter milagroso dessa lente de ar deve ser procurado na formação que se criou por cima da Cova da Iria e na previsão do momento feita por Lúcia meses antes, bem como no fato de a lente de ar, sendo tão frágil, ter mantido a sua forma durante mais ou menos 15 minutos depois de descrever dois ou três percursos elípticos na direção da terra. A explicação do acontecimento por meio de uma lente de ar dá conta, de forma satisfatória, de um complexo conjunto de ocorrências que são miraculosas na medida em que são imprevisíveis e muito raras” (p. 357).