Durante todo o Tempo do Advento a Igreja não perde de vista o duplo aparecimento do Salvador: Seu nascimento em Belém, cujo esplendor sempre actual se deve até ao fim dos tempos, e seu regresso no Juízo final para “condenar às chamas os pecadores e convidar os justos à bem-aventurança” (Hino de Matinas). A Missa do dia de hoje fala-nos destas duas vindas de Jesus: De misericórdia e de justiça. (…) Era na Basílica de Santa Maria Maior que todo o povo de Roma estacionava outrora no primeiro Domingo do Avento, para assistir à Missa solene celebrada pelo Papa. Escolhia-se essa Igreja por ter sido Maria quem nos deu Jesus e por se conservarem aí as relíquias do Presépio no qual a SS. Virgem colocou o seu divino Filho.
[Missal Quotidiano e Vesperal por Dom Gaspar Lefebvre, Beneditino da Abadia de S. André. Bruges, Bélgica: Desclée de Brouwer e Cie, 1952, p. 31].
O Jorge é um livreiro a quem devo a aquisição de algumas obras raras para a minha biblioteca. Embora me refira a ele como livreiro, o Jorge não é proprietário de livraria. Ele especializou-se em garimpar sebos em busca de raridades que sabe que poderá interessar aos seus clientes. No meu caso, ele tem me aparecido por diversas vezes com algumas publicações raras na área religiosa. Em junho minha esposa, Naza, adquiriu dele para me presentear um exemplar em latim dos documentos do Concílio de Trento, publicado na França em 1824.
Na semana passada, ele me chegou com um volume que eu o havia encomendado há algum tempo. Como bom livreiro, me entregou o livro e falou: “Pronto, Vasco, aqui está o missal que você tinha encomendado. Foi difícil, mas eu consegui”. Foi com emoção que recebi de suas mãos o exemplar do Missal Quotidiano e Vesperal, em edição bilingue, latim e português, editado na Bélgica em 1952.
Ao chegar em casa, folheei-o página por página. Foi uma maravilha! As ilustrações, de R. de Cramer, são de uma riqueza ímpar, pelo denso simbolismo que exprimem. A Igreja anterior ao Concílio Vaticano II, parece-me, se prendia muito mais aos ritos e ao simbolismo empregado em toda a liturgia. Isso fica muito claro ao folhear o Missal. Pretendo desenvolver neste blog alguns textos acerca desse rico e multifacetado simbolismo, amparado nas ilustrações do Missal.
Coincidência (? ? ?) ou não (!!!), o livro me chegou exatamente na semana que antecedia o Primeiro Domingo do Advento, que assinala o início do Ano Litúrgico. Como sempre dou muita atenção às sincronicidades, fiquei maravilhado com o fato. O Missal abre exatamente com a Missa do Advento. Por esse motivo, atendendo a um convite do meu amigo Wendell, colega de trabalho no TRE, aproveitei o ensejo e fui assistir a missa que todos os domingos é celebrada na Igreja de São João do Tauape, na qual o celebrante segue ainda o Rito Gregoriano.
Antes de sair, me recolhi um pouco em minha biblioteca e fiz uma preparação para o evento, investido para mim de caráter solene. Depois, peguei o Missal e minha Bíblia Ave Maria e segui para a Igreja. Fiquei muito feliz quando abri o missal e li as palavras do Intróito, cujo motivo, por enquanto, não me é possível dizer. Apenas revelarei que têm tudo a ver com o momento por que passa minha busca espiritual. Diz o texto:
Ad Te levávi animam meam Deus meus, in te confido, non erubéscam: neque irrideant me inimici mei: étenim univérsi, qui te exspéctant, non confundéntur. Ps. Vias tuas, Dómine, demónstra mihi: et sémitas tuas édoce me. Glória Patris, et Filio, et Spirítui Sancto. Sicut erat in princípio, et nunc, et semper, et in saécula saeculórum. Amen. Ad te levávi ánimam meam.
“Para Vós elevei a minha alma; meu Deus em Vós confio: Não me envergonharei nem zombarão de mim os meus inimigos, pois nunca serão confundidos todos aqueles que em Vós confiam. Sl. Mostre-me, Senhor, os vossos caminhos e ensine-me os vossos atalhos. Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre e por todos os séculos dos séculos. Amem. A Vós elevei a minha alma”.
Das observações que pude fazer durante a celebração da missa, falarei num outro texto.
Caro amigo, na minha concepção, para o cristâo autêntico não existe coincidência e sim providência divina.
Abs
Telésforo
Oi.
Que Deusdência….rs…
Queria poder ter a oportunidade de ver esse missal…
Voce poderia me tirar duas duvidas?
1) Por que se faz o Confiteor duas vezes (no inicio da missa e antes da comunhão)?
2) Por que nas missas na forma extraordinaria se usa o missal de 1952 de Dom Lefebvre e não o que foi restaurado pelo Papa Bento XVI, de João XXIII?
Oi, Graziela,
Quando lia sua mensagem, não entendi o que você quis dizer com “Deusdência”. Eu não conhecia a palavra. Procurei no Dicionário e não a encontrei. Fazendo uma busca no google, encontrei a informação necessária. O que você chama de Deusdência – gostei da palavra – é o que Jung chama de Sincronicidade, que, aliás, é o nome que atribuí a este blog.
Quanto às questões propostas por você, como eu não saberia respondê-las, recorri ao Wendell, o amigo a quem me refiro no texto. Gentilmente ele me mandou algumas informações, que repasso, agora, a você.
“Quanto ao motivo dos dois Confiteor, o primeiro seria como o Ato Penitencial da Missa de Paulo VI, com o detalhe que na missa gregoriana/tridentina segue-se a fórmula de absolvição dos pecados, que no rito novo não mais existe. Já o segundo Confiteor tem em vista a pureza da alma para a comunhão com Nosso Senhor na Eucaristia, além de nos fazer reconhecer mais uma vez nossa condição de pecadores e indignos que somos, não nos fosse a Graça de Deus, de receber a comunhão. Faz parte dos ritos mais antigos da Igreja a existência de dois “Confiteor”, um no início e outro antes da comunhão.
Quanto ao missal acho que a leitora se equivocou, o de João XXIII é o mesmo Missal de 1952, com algumas pequenas alterações, p.ex., inclusão de algumas orações, retiradas de outras, mas nada que mude a essência do rito. Na verdade o que o Papa João XXIII fez foi a republicação e revisão do missal de S. Pio V, mas sem nenhuma alteração significante.
O missal de Dom Gaspar Lefebvre a que ela se refere provavelmente é este que você tem, mas diz respeito apenas ao “organizador” se podemos chamar assim. O Missal continua a ser o mesmo de datas remotas, aliás, na essência, sempre o mesmo desde, pelo menos, São Gregório Magno (séc. VI d.C., salvo engano!).
O missal que o Padre usa para rezar a Missa foi, inclusive, trazido de Roma. Trata-se de edição recente, posterior ao Motu Proprio do Papa Bento XVI, e com as modificações introduzidas por João XXIII.”
Por fim, quero lhe sugerir um livro que adquiri recentemente e cuja leitura ainda estou fazendo: “Missarum Sollemnia”, de J. A. Jungmann S. J., da Editora Paulus. O livro é um clássico, pela primeira editado no Brasil. Traz uma história do ritual da Missa desse as origens do cristianismo. Se você tem interesse pelo assunto, vale a pena adquiri-lo.
Grato por visitar meu blog e por sua postagem. Espero que tenhamos outras oportunidades de dialogar.
Vasco